Formada em Economia pela Nova SBE, fez o seu percurso profissional na área de Gestão e Marketing. Foi na Danone, onde liderou o Marketing, que diz ter aprendido quase tudo o que sabe – afinal, foram 17 anos naquela “grande escola”. Até que um dia mudou de vida e assumiu as rédeas de uma marca de sapatos de que já era fã e fiel cliente, a Maray. Ter um negócio próprio acarreta grandes desafios, mas também grandes vantagens, como passar mais tempo com os filhos.
De cliente a proprietária da marca, como surgiu a oportunidade?
Sempre gostei de sapatos, ou não fosse mulher e não tivesse nascido praticamente numa sapataria – a Sapataria Trigueiros, em Torres Vedras. Ainda não sabia ler nem fazer contas e já vendia sapatos. Mas essa parte de mim ficou lá atrás (ou assim achava eu). Conheci a Maray em 2019 através de uma colega da Danone e fiquei apaixonada. Comecei a usar, até porque nunca adorei saltos altos. A marca era tudo o que eu gostava – elegância e bom gosto em sapatos rasos. Depois, surgiu um post na página de Instagram da marca onde mencionava que o projeto iria ficar adormecido. Decidi enviar uma mensagem a perguntar se tinham algum interesse em vender… e um mês depois estava à frente da Maray.
Qual o balanço entre expectativa e realidade?
Venho de uma família de empreendedores e sempre tive noção de que a vida de empreendedor é dura, particularmente em Portugal onde a carga fiscal é tão pesada. Ainda que trabalhasse numa multinacional, onde existem muito mais recursos, sempre tive mindset de empreendedora, sempre me foi apontada a energia e capacidade de “fazer acontecer” projetos que, à partida, seriam complicados. Acho que o desafio de sair da minha zona de conforto dá-me ainda mais força.
Ter um negócio próprio é trocar o certo pelo incerto. E nem sempre é fácil quando se tem uma família para gerir também. Mas há uma coisa que valorizo muito: passei a ser dona da minha agenda, ainda que não tenha horários definidos. Consigo planear o dia a dia de outra forma e priorizar o tempo com os meus filhos, o que foi uma mudança muito grande na minha vida.
Qual o cunho pessoal que deu à marca?
Sempre quis manter o ADN da Maray. Afinal de contas, identifiquei-me tanto com esta marca que não faria sentido mudar. A marca tem um posicionamento bem definido e diferenciado e quem conhece nem precisa de ver a marca para saber que é Maray. O grande salto, diria que terá sido a abertura de uma loja física – em Lisboa, na Rua Saraiva de Carvalho, Campo de Ourique. Foi um passo importante para trazer maior credibilidade ao online, onde a marca nasceu, e alavancar o crescimento sustentado. Outro ponto importante é a relação com as clientes. Toda a nossa equipa gosta de lidar com pessoas e preocupamo-nos em dar o melhor de nós, o que na maior parte das vezes vai muito além de vender um par de sapatos.
Há muitos desafios específicos ligados à indústria do calçado?
Existem muitos. Na produção, há falta de visão de negócio e de nível de serviço por parte da indústria, já que é ainda pouco profissionalizada. Se não tivermos cuidado, corremos o risco de comprometer negócios onde os timings são chave para que tudo corra bem. Já na distribuição, é uma indústria que exige uma grelha de tamanhos bastante vasta, pelo que há sempre uma parte significativa de investimento em armazém que é importante garantir.
Que lema rege a marca?
O lema passa por acreditarmos que as mulheres não precisam de saltos altos para se sentirem empoderadas e elegantes. Com a vida frenética que levamos, é importante garantir o design e sobretudo o conforto.
Os seus objetivos, a curto e a longo prazo, são…
No curto prazo, garantir a consolidação no mercado português e melhorar continuamente a oferta que temos trazido em cada coleção, sem desvirtuar o conceito da marca. A longo prazo, levar tudo isso para outros países com afinidade a este conceito.
E o sonho?
Honestamente, tenho um patamar de faturação onde quero chegar. Mas ter a marca representada em vários pontos do mundo com loja própria seria o meu sonho, para já.
Quais os principais desafios de ser mulher empreendedora em Portugal?
Num mundo onde ainda predominam, de facto, os homens, principalmente na área da produção, nem sempre é fácil tratarem-nos de igual para igual. De resto, creio que depende mais da iniciativa e da energia que colocamos em cada batalha do que propriamente do género. Internacionalmente, há países em que isso tem um impacto maior, mas ainda não estamos lá.
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