A Amnistia Internacional está a apelar à Arábia Saudita para libertar Manahel Al-Otaibi, instrutora de fitness de 29 anos que foi condenada a 11 anos de prisão pelas publicações que faz nas redes sociais a apelar a uma maior liberdade de direitos das mulheres do seu país e pelas roupas que exibe.
A condenação aconteceu em janeiro, mas os detalhes do caso só foram conhecidos esta terça-feira, dia 30, depois dos escritórios das Nações Unidas com sede em Londres terem solicitado informações sobre o caso.
As informações obtidas dizem que Manahel Al-Otaibi foi acusada de ter partilhado a hashtag “abolir a tutela masculina” e de usar “roupa indecente” – a instrutora publicou vídeos em que se mostra a treinar com equipamento desportivo ou a fazer compras sem a abaya, um manto comprido que cobre o corpo. Nas redes sociais, a ativista dava dicas de exercícios enquanto usava roupa adaptada à prática de desporto, enquanto apelava a uma maior liberdade nas regras de vestuário, defendia o fim das leis do homem guardião e os direitos da comunidade LGBTQ+.
Contudo, na resposta formal ao gabinete de direitos humanos da ONU, a Arábia Saudita negou que a acusação da ativista tenha estado relacionada com a indumentária ou publicações feitas nas redes sociais, alegando que esta foi “condenada por crimes terroristas que não têm qualquer relação com o seu exercício da liberdade de opinião e expressão ou com as suas publicações nas redes sociais”.
A Amnistia Internacional garante que a irmã de Manahel Al-Otaibi, Fawzia, enfrentou as mesmas acusações em 2022, mas fugiu do país depois de ser convocada para interrogatório.
“Com esta sentença, as autoridades sauditas expuseram o vazio das tão elogiadas reformas pelos direitos das mulheres que supostamente fizeram nos últimos anos e demonstraram o seu compromisso assustador em silenciar a dissidência pacífica”, afirmou Bissan Fakih, ativista da Amnistia na Arábia Saudita, num comunicado.
Quando chegou ao poder em 2017, o príncipe Mohammed Bin Salman prometeu reformas sociais e económicas, além de garantir o alívio das regras impostas às mulheres. Desde então, as mulheres sauditas conquistaram o direito de conduzir automóveis, ter passaporte, viajar sem autorização de um homem, registar nascimentos e óbitos. Também passaram a ter o direito ao divórcio, ainda que o sistema burocrático continue a ser mais complicado para as mulheres do que para os homens. Desde 2019 que os códigos relacionados com a roupa nas mulheres estrangeiras foi aliviado, apesar de continuar e colocar muitas restrições às sauditas. A Amnistia refere ainda que algumas leis do país facilitam a violência doméstica.
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