Uma tragédia que aconteceu no Brasil chamou a atenção para uma complicação de saúde rara, mas potencialmente letal para as mulheres.
No final de janeiro, Lívia Gabriele da Silva Matos, de 19 anos, morreu na sequência de um encontro sexual com o jogador de futebol Dimas Cândido de Oliveira Filho, 18. À polícia, o atleta sub-20 do clube Corinthians disse que percebeu que parceira havia desmaiado e ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), tendo sido aconselhado pelo operador a colocar a jovem de barriga para cima e fazer massagem cardíaca até à chegada da ambulância. Foi nesse momento que ele notou que a estudante de enfermagem apresentava sinais de sangramento vaginal.
O atestado de óbito emitido pelo Hospital Municipal do Tatuapé, em São Paulo, aponta para a “rutura de fundo de saco de Douglas com extensão à parede vaginal esquerda” como causa da morte. O rompimento provocou uma hemorragia intensa e quatro paragens cardiorrespiratórias. Apesar de os médicos terem conseguido estancar o sangue, Lívia não resistiu à última falência súbita das funções cardíaca e respiratória.
Segundo o portal G1, exames complementares devem revelar, em 30 dias, se a laceração foi causada pelo atrito do ato sexual ou por algum objeto. Independentemente do resultado, os contornos do caso lançaram luz sobre questões como educação sexual, conhecimento do próprio corpo e, claro, o saco de Douglas. Eis tudo o que precisa de saber:
O que é o saco de Douglas?
O fundo de saco de Douglas, ou escavação retouterina, é uma região próxima do colo do útero que corresponde à parte mais inferior da cavidade peritoneal, formada pelo tecido que reveste toda a parte interna do abdómen e os seus órgãos. Foi batizada em homenagem ao anatomista escocês James Douglas.
Onde fica?
O saco de Douglas está presente tanto na anatomia feminina como masculina. Nas mulheres, localiza-se entre o útero e o reto; nos homens, entre a bexiga e o reto.
Para que serve?
Devido à sua localização, desempenha um papel relevante no diagnóstico e tratamento de problemas ginecológicos e abdominais. Em declarações ao portal G1, a ginecologista Carolina Fernandes Giacometti explica que a estrutura é essencial para a deteção de condições como, por exemplo, endometriose; miomas e tumores pélvicos; doença inflamatória pélvica; quistos ovarianos; e acúmulo de líquido na cavidade abdominal.
O rompimento é comum?
Cassio Riccetto, coordenador do departamento de urologia feminina da Sociedade Brasileira de Urologia, explica ao mesmo meio de comunicação que o saco de Douglas costuma distender-se durante a relação sexual, mas o rompimento não é comum.
Carolina Fernandes Giacometti, por sua vez, acrescenta que a estrutura é composta por tecidos elásticos e flexíveis, mas estes não são naturalmente propensos a rompimentos espontâneos. “Há situações específicas nas quais o rompimento pode ocorrer e isso geralmente está associado a condições médicas, como, por exemplo, uma cirurgia prévia no local ou eventos traumáticos na área”.
Em declarações ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o ginecologista Eduardo de Souza sublinha que o rompimento do saco de Douglas não costuma ocorrer por conta de violência ou devido ao tamanho dos órgãos genitais, mas, sim, pela entrada de ar e aumento da pressão. “O aumento da pressão na região pode ocasionar a extensão da mucosa vaginal em alguns centímetros. Isso pode atingir vasos sanguíneos e levar a sangramentos graves”.
Em casos mais graves, quando o sangramento é intensa, pode levar a uma condição chamada choque hemorrágico, na qual há queda abrupta da pressão arterial. Nessas situações, o tratamento é cirúrgico e deve ser realizado imediatamente.
Como evitar o rompimento do saco de Douglas?
Eduardo de Souza explica que algumas posições sexuais, como aquela na qual a mulher fica em quatro apoios, têm maior risco de entrada de ar pela vagina e, consequentemente, de rompimento do saco de Douglas. Assim sendo, recomenda ter atenção a sons, durante o ato sexual, que sinalizem a entrada de ar na vagina e, se for este o caso, mudar de posição.
Além disso, observa que o uso de brinquedos sexuais inadequados (muito grandes, pontiagudos ou feitos com materiais duros), ou utilizados incorretamente, também podem resultar neste cenário.
O que fazer em caso de rompimento?
Caso ocorra um grande sangramento durante a relação sexual, que pode indicar rompimento do saco de Douglas, é importante procurar ajuda médica o mais rápido possível. Segundo o Dr. Souza, o tratamento é normalmente feito com anestesia e envolve suturar a área para interromper a hemorragia.