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Imagina a sua filha a levar uma bofetada do namorado, a ser proibida de usar uma camisola, a ser chamada de burra ou p*** porque olhou na direção de um rapaz/homem, a ser pressionada para ter relações sexuais ou tirar fotos nua? Ou o seu filho a ser insultado pela namorada, obrigado a revelar as mensagens privadas, a ser agredido porque olhou para outra rapariga/mulher? Tudo isto (e mais) é violência e não deve nem pode ser legitimado como ‘normal e aceitável’, ou ‘provas de amor’, não o são, nem nunca o foram.

COMPORTAMENTOS VIOLENTOS QUE NÃO SÃO RECONHECIDOS COMO TAL
O último estudo nacional, feito e divulgado ainda esta semana pela UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), que sondou 5916 adolescentes e jovens do 7.º aos 12.º ano, revelou números preocupantes:
. 67,5% dos adolescentes não reconhece que controlar o parceiro é uma forma de violência;
. 35,7% acha normal usar o telemóvel do parceiro e entrar nas suas redes sociais sem o seu conhecimento; 
. 30,7% pensa que é aceitável insultar o outro durante uma discussão. 
O relatório faz referência ainda que os rapazes apresentam maiores níveis de legitimação para todas as formas de violência. Um exemplo disso é o facto de 40,9% dos rapazes e 21,4% das raparigas não reconhecerem como violento ‘pressionar para dar um beijo à frente dos amigos’. 
Tudo isto deve fazer com que nós, pais, pensemos bem na educação dos nossos filhos e filhas, e que tipo de mensagens estamos a deixar passar.


O LONGO CAMINHO AINDA POR PERCORRER
Neste estudo da UMAR, realizado no âmbito do projeto ART’THEMIS, e financiado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, há vários dados desconcertantes:
. 45,1% dos jovens reportaram violência psicológica;
. 23,3 % denunciaram ter sido vítimas de perseguição;
. 14,9% sofreram de violência sexual;
. 12,2% foram vítimas de violência física.
O que se vê é que, em 2023, continua a haver uma tendência para desvalorizar algumas manifestações de violência física, como o empurrão ou a bofetada, ou outras formas de agressão, como obrigar a dar as credenciais das redes sociais, o querer mexer no telemóvel do outro e ver as mensagens. Tudo isto não é visto como violência, é percebido como prova de amor.

40,9% dos rapazes e 21,4% das raparigas não reconhecem como violento ‘pressionar para dar um beijo à frente dos amigos’. 

OS SINAIS COMEÇAM POR SER SUBTIS
Há sinais aos quais os jovens devem estar atentos, o problema é que no início são subtis: começam pelo controlo, pela tentativa de impedir que a sua parceira/o tenha o seu quotidiano comum e depois as situações vão escalando para situações cada vez mais graves. Ou seja, a violência começa muitas vezes por ser psicológica [culpar, insultar, criticar], depois evolui para a violência social [controlar a forma de vestir, aparecer de forma inesperada em locais públicos onde a/o parceira/o possa estar, controlar as mensagens e redes sociais], violência física [ameaças de morte, atentar contra a vida, causar ferimentos que precisam de tratamento médico] e em algumas situações, sexual também. As raparigas sofrem mais com a violência no namoro mas também a praticam sobre os rapazes. Só há um tipo, a sexual, em que há nitidamente uma grande diferença, sendo mais elas as vítimas e eles os agressores”, esclarece a investigadora Sofia Neves, psicóloga, investigadora e presidente da Associação Plano i (uma associação não governamental com estatuto de IPSS, que procura dar respostas concretas a um amplo conjunto de questões sociais atuais, nomeadamente a desigualdade, a discriminação, a violência, a exclusão e a pobreza).

MACHISMO QUE PERDURA
Apesar de estarmos em pleno século XXI, há ideias retrógradas que se mantêm na cabeça dos mais jovens. Para a investigadora Sofia Neves, não basta a educação dos pais, tem de haver uma ação concertada com a escola, a sociedade e a comunicação social. “Os professores têm de intencionalizar uma discussão sobre estas matérias e isto a um nível precoce. Têm de falar de justiça, de igualdade de género, de cidadania, nas várias disciplinas escolares, e trabalhar as questões de autoestima, fazer com que as crianças não permitam que alguém invada a sua zona de conforto ou atente contra a sua dignidade. Se gostarmos mais de nós próprios, protegemo-nos mais e somos mais capazes de sinalizar situações de violência.”


CUIDADOS COM O SEXTING
Sexting são mensagens de texto ou imagem (foto e vídeo) com conteúdo íntimo. Consideradas muitas vezes como prova de amor, para apimentar uma relação ou somente para provocar, estas mensagens tornaram-se muito populares entre os mais jovens. O que tem isto a ver com violência no namoro? Bem, os números revelam que são as raparigas que enviam mais, mas muitas vezes não é porque querem mas porque são mais pressionadas a fazê-lo, logo ficam mais vulneráveis a serem humilhadas quando as relações dão para o torto. “É um fenómeno comum, infelizmente, e como pais temos de os alertar para as verdadeiras consequências dessas mensagens.”
Elas e eles têm de ter noção do que lhes pode vir a acontecer, e isso só acontece se lhes falarmos abertamente, contando histórias reais de outros jovens que viram as suas vidas devassadas e suspensas, quando se tornaram virais. Porque isto não acontece só aos outros. Os pais e professores devem dar exemplos concretos das implicações que uma foto, um vídeo pode ter.
E não se pode ter medo de falar, porque entre eles falam de tudo, mesmo os mais pequenos. E temos de os deixar à vontade para virem ter com um adulto e esclarecer as suas dúvidas.


SERÃO VÍTIMAS OU AGRESSORES?
Se está à espera que sejam os seus filhos a vir ter consigo para falar, é melhor esperar sentada. Muito dificilmente vão tomar a iniciativa, mesmo quando não há assuntos tabu entre pais e filhos.
. Aborde o assunto só quando estiverem sozinhos e num dia em que não haja stresse.
. Não entre a matar, prefira uma abordagem subtil, ‘Então como vai o namoro com…?’ Não perca a paciência mesmo se o tom não for o mais simpático. É normal os pais preocuparem-se…
. Seja mais ouvinte que comentadora, mesmo se o que está a ouvir não lhe agradar.
. Pergunte se já presenciaram alguma relação abusiva e diga-lhes que há vários tipos de violência (psicológica, social, física e sexual).
. Dê exemplos de casos de violência que tenha lido ou visto num filme e falem abertamente sobre sexting, ciúme…
. Falem também do que é uma relação afetiva saudável, sobre respeito, direito à privacidade.
No fundo, o que queremos é que se abra uma via de comunicação entre nós e as nossas filhas, filhos (sobrinhas e sobrinhos…), sem pruridos, vergonhas, porque é a integridade deles que pode estar em causa.


SINAIS DE PERIGO
Estes são alguns dos sinais a que os pais (e educadores) devem estar alerta:
. Ele/ela pede desculpa pelo comportamento do namorado/a.
. Perdem o interesse pelas atividades que anteriormente tanto gostavam.
. Deixam de sair com outros amigos/familiares com quem tinham uma relação próxima.
. O/A namorado/a goza e critica a sua filha/o à frente de outras pessoas.
. O/A namorado/a reage bruscamente quando a sua filha/o está a falar com outra pessoa do sexo oposto.
. Quando ela/ele recebe constantemente mensagens querendo saber onde está e com quem está.
. Ela/ele confessa que o namorado/a tem atitudes agressivas por vezes.
. Ela/ele aparece com nódoas negras em qualquer parte do corpo, ou se ela/ele tenta esconder.

ONDE PEDIR AJUDA
. Através do número da APAV: 707 200 077 (10h00-13h00/14h00-17h00 dias úteis).

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