
Apesar dos esforços globais, o mundo está aquém de alcançar a igualdade de género. A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório em que diz ser improvável atingir a meta até 2030, conforme estabelecido pela entidade em 2015, devido aos preconceitos profundamente enraizados contra as mulheres em vários sectores como, por exemplo, os da saúde, educação, carreira e política.
A exposição escrita, intitulada “The Gender Snapshot 2023”, destaca que a resistência ativa à igualdade de género e o subinvestimento crónico são fatores-chave que retardam o progresso e até conduzem a retrocessos em alguns casos.
Questões como o acesso desigual à saúde sexual e reprodutiva, a sub-representação política, as disparidades económicas e a falta de proteção jurídica contribuem para este desafio. O documento chama também a atenção para os reveses enfrentados pelas mulheres e raparigas nas regiões afetadas por conflitos e para o impacto adverso das alterações climáticas.
“Neste momento crítico para os objetivos de desenvolvimento sustentável, o relatório deste ano é um retumbante apelo à ação. Devemos agir agora de forma coletiva e intencional para corrigir o rumo para um mundo onde todas as mulheres e raparigas tenham direitos, oportunidades e representação iguais. Para conseguir isso, precisamos de um compromisso inabalável, soluções inovadoras e colaboração entre todos os sectores e partes interessadas,” diz Sarah Hendriks, diretora-executiva adjunta da agência ONU Mulheres.
Números difíceis de engolir
Segundo a ONU, se as tendências atuais se mantiverem, mais de 340 milhões de mulheres e raparigas — cerca de 8 por cento da população feminina mundial — viverão em pobreza extrema até 2030. Além disso, cerca de uma em cada quatro experienciará pobreza moderada ou insegurança alimentar grave.
Com especial destaque para as mulheres mais velhas, o “The Gender Snapshot 2023” conclui que estas enfrentam taxas de pobreza e violência mais elevadas do que os homens mais velhos. Em 28 dos 116 países com dados disponíveis, menos de metade das mulheres idosas têm uma pensão; em 12 países, menos de 10 por cento têm acesso a uma reforma.
Embora o acesso à educação esteja a aumentar tanto para rapazes como para raparigas, o relatório revela que milhões de meninas nunca entram numa sala de aula ou completam a sua educação, especialmente em zonas afetadas por conflitos. Estima-se que até 110 milhões de jovens do sexo feminino estarão fora da escola em 2030.
A disparidade de género nas posições de poder e de liderança permanece arraigada e, ao ritmo atual de progresso, a próxima geração de mulheres despenderá, em média, mais 2,3 horas por dia em cuidados não remunerados e em trabalho doméstico do que os homens.
Metas condenadas?
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU assume a capacitação feminina como um dos seus principais pilares. Porém, o relatório mais recente mostra que o mundo está a falhar com as meninas e mulheres. Apenas dois dos indicadores do Objetivo 5 – Igualdade de Género estão “próximos da meta” e nenhum indicador chegou ao nível de “meta atingida ou quase atingida”.
A organização internacional revela que seriam necessários 6,4 mil biliões de dólares anuais em 48 países em desenvolvimento para alcançar a igualdade de género em várias áreas-chave até 2030. Como tal, apela a um aumento do financiamento para programas que promovam a igualdade e o empoderamento das mulheres.