Enquanto a guerra entre Israel e o Hamas se desenrola, e a comida, água e combustível escasseiam em Gaza, as grávidas e puérperas são um grupo particularmente vulnerável.
A agência da ONU United Nations Population Fund (UNFPA) diz que existem cerca de 50 mil gestantes em Gaza, com aproximadamente 160 a dar à luz todos os dias. Além disso, a entidade estima que haja 73 mil mulheres grávidas na Cisjordânia, prevendo que mais de 8 mil darão à luz em novembro.
Os especialistas explicam que todas elas enfrentam desafios potencialmente letais no acesso a cuidados seguros, colocando em risco a própria saúde e a dos seus bebés.
Acesso bloqueado a cuidados de saúde
Um dos maiores problemas é a falta de acesso a cuidados de saúde. Segundo um estudo de 2016, publicado na revista científica “The BMJ”, não há forma de levar alguém a uma unidade de saúde em zonas de guerra, impedindo o acompanhamento pré-natal. Isto representa vários riscos para as grávidas, nomeadamente o de terem bebés com baixo peso, prematuros ou nados-mortos, ou até mesmo de sofrerem perdas gestacionais.
Os hospitais também têm berçários para cuidar dos recém-nascidos. Quer isto dizer que se alguém der à luz em casa, não terá acesso a profissionais de saúde que monitorizem e garantam o bem-estar dos bebés.
Mesmo que uma paciente chegue a um hospital, este pode estar sobrecarregado, devido ao elevado número de feridos.
Risco para a segurança
Outro risco é a sua segurança imediata, devido a ataques aéreos e incursões militares. Com uma potencial ofensiva terrestre iminente, Israel ordenou a mais de um milhão de pessoas no norte de Gaza que fugissem para o sul, para escaparem dos conflitos. As gestantes e puérperas podem não conseguir deslocar-se para um local seguro, dependendo da sua condição.
O UNFPA partilhou o testemunho de uma grávida de 30 anos forçada a evacuar a sua casa quatro vezes, cada uma delas com apenas um pequeno saco de roupas. “Cada vez parece uma corrida contra a morte”, afirma.
De sublinhar que embora as unidades de saúde em qualquer zona de guerra devam ser agentes neutros, isso nem sempre acontece. Por exemplo, no passado dia 17 de outubro, em pleno colapso humanitário, um bombardeamento atingiu o Hospital Árabe Al-Ahli, na Cidade de Gaza, fazendo pelo menos 500 vítimas mortais.
Planeamento familiar comprometido
Os bloqueios também afetam o acesso a serviços de planeamento familiar. Isto significa que as escolhas reprodutivas dos civis, sejam cuidados de rotina, contracetivos ou de aborto, são-lhes retiradas. “Tudo isto faz parte do quadro de justiça reprodutiva, garantindo que as pessoas têm acesso a todas as opções que as ajudem a consciencializarem-se da própria humanidade plena”, explica Mimi Niles, professora assistente na Faculdade de Enfermagem Rory Meyers (Universidade de Nova Iorque) e parteira praticante, à ABC News.