A sexóloga norte-americana Lou Paget tem uma visão muito realista do universo masculino no que respeita ao sexo: eles são muito mais pressionados para atingirem um bom desempenho sexual do que nós. São ensinados, desde adolescentes, que são mais viris quanto mais vigorosa e longa for a penetração, quanto mais prazer proporcionarem às parceiras e, pior ainda, estão convencidos de que esse prazer depende quase inteiramente do coito. Não admira que quando os problemas de erecção aparecem se sintam frustrados e percam a autoconfiança.
A mais recente campanha mediática sobre este fenómeno, pela qual o actor Nicolau Breyner dá a cara, frisa que há que procurar ajuda, sem vergonha. Mas a disfunção eréctil está longe de ser um problema exclusivamente masculino: a vida afectiva do casal sofre um abanão a que é preciso fazer frente.
A RAÍZ DO PROBLEMA
A disfunção eréctil, diz a Organização Mundial de Saúde, traduz-se na incapacidade de manter ou alcançar uma erecção suficiente para permitir uma relação sexual satisfatória. Pode manifestar-se de diferentes modos: uma erecção menos rígida, dificuldade em mantê-la ou até a total incapacidade de a conseguir. Afecta, sobretudo, homens acima dos 40 anos, mas também atinge os mais jovens. E pode dever-se tanto a um problema físico como psicológico. Durante muito anos pensou-se que 90% dos casos tivessem origem na mente, mas hoje sabe-se que grande parte das dificuldades de erecção têm uma causa orgânica, que pode ser corrigida com tratamento. Doenças vasculares aterosclerose, problemas cardíacos, hipertensão, acidentes vasculares cerebrais, colesterol elevado, diabetes, doenças hormonais ou neurológicas, certas cirurgias (operações ao intestino grosso, recto, próstata), doenças crónicas e até os efeitos secundários de medicamentos podem desencadear a disfunção eréctil. Um estilo de vida desadequado também não ajuda: álcool, sedentarismo e tabaco agravam em muito as dificuldades de erecção. A estas juntam-se causas psicológicas, que podem agir isoladamente ou em conjunto com problemas físicos que já existam. É o caso da ansiedade, do stresse e da depressão.
E quando o relacionamento afectivo e a comunicação entre o casal já conheceu melhores dias, é muito difícil que a vida sexual não se ressinta.
DECIDIDAS A AJUDAR
Não se trata apenas de dizer: ‘Querido, não há problema. são coisas que acontecem!’ As mulheres parecem mesmo preocupadas e empenhadas em tratar este problema em conjunto. Num estudo conduzido pela Bayer em sete países (Reino Unido, Canadá, México, França, Espanha Alemanha e Itália), 66% dos homens e 65% das mulheres confessaram não saber como começar a conversa e falar francamente de disfunções sexuais um com o outro. E aqui está uma excelente prova de que eles não são tão autocentrados quanto as mulheres os acusam de ser: 23% dos homens confessam que o que os levou a quebrar o silêncio e a abordar o assunto com as suas companheiras foi a frustração de não conseguirem dar-lhes prazer. Já 37% das mulheres deram o primeiro passo na discussão do problema, por se considerarem ‘pró-activas e compreensivas’.
Um estudo francês feito este ano pela Pfizer, onde participaram 6500 mulheres, descobriu que elas estão mais satisfeitas com a sua vida sexual e que o seu principal cuidado é darem confiança aos parceiros. Preocupam-se com os problemas de erecção dos companheiros: 14% relatam que acontecem com alguma frequência e 3% confessam ser um problema permanente. 48% das questionadas dizem-se ‘resignadas à ideia de que são problemas que os homens têm de enfrentar a partir de certa idade’, mas a maioria diz ter uma atitude bastante compreensiva. Uns expressivos 9% das inquiridas têm consciência de que as disfunções sexuais dos seus homens podem ser o reflexo de problemas sérios na relação ou de ordem psicológica. Apenas 2% pensam que a disfunção eréctil é um problema que só aos homens diz respeito.
VAMOS CONVERSAR
A solução começa sempre com uma conversa franca, onde se fala sobre a disfunção eréctil e como planeiam procurar ajuda.
Conversem sobre sexo, mas fora da cama e longe de situações de intimidade física. Lembre-lhe que a sexualidade não vive apenas da penetração e que podem explorar novas formas de sensualidade juntos. Quem não está habituado a falar de sexo pode ver aqui o iniciar de uma nova fase da relação ao ganhar coragem para expressar aquilo que o angustia. Só assim se estabelece uma verdadeira intimidade entre o casal.
Explique-lhe que milhões de homens em todo o mundo sofrem do mesmo problema. Ele não é nenhuma excepção ou caso raro.
Assegure-lhe que existem tratamentos. O aconselhamento sexual, as injecções penianas (aplicadas lateralmente), os medicamentos orais, as cápsulas inseridas na uretra e até acessórios sexuais, como um anel de borracha colocado na base do pénis. Todos eles se destinam a aumentar o fluxo sanguíneo no pénis, intensificando a erecção. Se nenhum destes tratamentos resultar, existe ainda a possibilidade de inserção de uma prótese peniana através de cirurgia.
Incentive-o a mudar o estilo de vida. Reduzir os níveis de stresse, deixar de fumar, diminuir o consumo de álcool e a ingestão de gorduras e praticar desporto podem ajudar muito nesta tarefa.
Relembrem como, nos tempos de namoro, o prazer vinha de outras maneiras que não a penetração: troquem mais carícias, beijem-se mais, tirem um dia por semana para fazerem mais coisas a dois, sem filhos, trabalho ou televisão pelo meio. A rotina e o stresse acumulado fazem com que se percam os pequenos rituais românticos que apimentavam a relação.
Dê tréguas à penetração. Alguns especialistas pensam que algum tempo de abstinência da penetração pode fazer milagres pela vida sexual. Durante um mês, por exemplo, todas as formas de sexo são permitidas menos as que envolvam o contacto de órgãos genitais. O objectivo é retirar o papel principal à penetração e reduzir a pressão que lhe está associada para uma consumação perfeita do acto.
Não tenham vergonha de procurar ajuda. Se existem problemas no relacionamento do casal, recorram a um terapeuta ou psicólogo.
Uma preocupação mundial
A disfunção eréctil não escolhe raça ou credo, como comprovam os números.
Estima-se que 152 milhões de homens em todo o mundo sofram de disfunção eréctil (16% de todos os homens entre os 25 e os 75 anos). Crê-se que, em 2025, sejam 322 milhões. Apenas 20% recorrem a ajuda médica e só 15% ou 20% deles iniciaram tratamento.
Em Portugal, acredita-se que 500 mil homens sofram de algum grau de disfunção. Estima–se que entre 30% a 52% tenham idades compreendidas entre 40 e 70 anos.