‘Um perfume de mulher, com cheiro de mulher’ foi o
briefing que Coco Chanel deu a Ernest Beaux quando lhe encomendou o seu primeiro perfume. Beaux, que tinha sido perfumista da corte imperial russa, criou várias propostas, entre as quais um
bouquet abstracto com ylang-ylang, rosa de Maio e doses quase exageradas de jasmim de Grasse e aldeídeos (umas moléculas aromáticas sintéticas que na altura constituíam a vanguarda da perfumaria). Foi esta proposta que Chanel escolheu. Como era a quinta amostra chamou-lhe simplesmente Nº5 – e fez-se história na história da perfumaria.
Lançado em 1921, o CHANEL Nº5
foi o primeiro perfume moderno, e essa modernidade mantém-se até hoje: o seu cheiro continua tão misterioso, atraente e original como no primeiro dia em que Coco Chanel o apresentou às suas clientes na sua pequena boutique de moda.
Ao longo dos anos, o Nº5 teve várias ‘musas’ que representaram o perfume com a sua beleza e personalidade, entre as quais a própria
Coco Chanel em 1937, Lauren Hutton nos anos 60, Ali MacGraw e
Catherine Deneuve nos anos 70, Carole Bouquet nos anos 80 e 90 e
Nicole Kidman em 2004.
Marilyn Monroe, uma fã famosa, revelou uma vez que dormia ‘vestida’ apenas com umas gotas de Chanel Nº5. Agora cabe a
Audrey Tautou unir o seu fabuloso destino ao do perfume mais famoso do mundo e ao da sua criadora, protagonizar o novo filme publicitário do Nº5, realizado por Jean-Pierre Jeunet, e a longa-metragem ‘Coco avant Chanel’, da realizadora Anne Fontaine, sobre os anos de Gabrielle Chanel que antecederam a sua carreira.
A jornalista francesa Elisabeth Quin entrevistou a actriz para o microsite dedicado à nova campanha publicitária do Nº5.
Revelamos-lhe um excerto da entrevista no vídeo e a versão integral com as respostas de Audrey Tatou:
Ser a nova musa do Nº5: “Não é uma palavra que me tenha vindo à mente, tenho mais a sensação de me incluir na história deste perfume e na minha história cinematográfica com o Jean-Pierre Jeunet, mais do que tornar-me a imagem ou a musa do perfume. O Chanel Nº5 é (…) todo um mito. É o que eu acho. Podemos usá-lo, partilhá-lo, propô-lo, mas ele transcende todas as mulheres que o usarem.”
Perpetuar uma herança: “Não me vou comparar a todas essas grandes actrizes, não me vejo na mesma linha que elas, sinto-me mais próxima do perfume propriamente dito, da sua história e de Coco Chanel, do que de todas essas mulheres famosas que o usaram, como Marilyn Monroe. Mas sinto-me muito honrada e faz-me pensar que tenho talvez uma imagem de mim que não é a que têm os outros.”
Encarnar o Nº5: “Recusei sempre fazer publicidade e ser imagem de um perfume até agora porque queria realizar-me como actriz e porque precisava que houvesse uma sinceridade no meu ‘sim’. Queria que fosse um verdadeiro encontro marcado. E acho que esta combinação entre Jean-Pierre Jeunet, a casa Chanel que conheço há muito tempo e foi sempre simpática comigo, e este perfume tão excepcional, foi um cocktail bastante saboroso. Em todo o caso vejo isto como uma associação sincera e fiel.”
O perfume: “Uma mulher que se perfuma é a ultra-feminilidade. Quando usamos um perfume levamos um segredo. Não vamos partilhá-lo com qualquer pessoa. É uma
coquetterie calorosa e refinada.É a pequena gota de elixir que dá o mistério, é isso. O que há de bonito no perfume é o segredo. Vamos partilhar alguma coisa com alguém e essa pessoa vai estar receptiva ou não. Acho isso bonito. É como um presente que damos a alguém.”
A memória olfactiva: “Há perfumes que me lembram homens que conheci, há outros que me lembram lugares. São lembranças inesquecíveis e inesperadas. É como uma lufada de vento, a lembrança chega com a mesma violência e força. Há perfumes que marcam momentos da minha vida. Sei que tive um perfume quando era criança, tive outro quando era adolescente. Uso perfumes Chanel há várias anos e, para fazer uma pequena ligação com Jean-Pierre Jeunet, nas filmagens de ‘Um longo Domingo de noivado’ eu punha todas as manhãs o perfume CHANCE.”
O momento do perfume: “Perfumo-me sempre a seguir ao banho e gosto muito quando posso envolver-me em perfume.”
Superstições Nº5: “Em relação a esta história, aconteceu uma coisa muito curiosa:no dia em que foi anunciado que eu tinha sido escolhida para novo rosto do CHANEL Nº5, foi num dia 5 de Maio, 5 do 5, e o quarto de hotel que me deram em Nova Iorque era o 555. E eu não tinha pedido nada, ninguém sabia, foi um acaso. Claudel dizia que não há acasos, só encontros. É uma aventura que eu não queria perder porque penso que tinha encontro marcado com ela.”
O trem da noite (tema do anúncio do perfume): “É a imagem da viagem, da descoberta, do segredo, do mistério, do despertar noutro lugar e respirar toda a novidade.”
2009, o ano Chanel: “Não tive nenhum problema em interpretar Coco Chanel e tornar-me o novo rosto do perfume porque para mim não tem nada a ver. Tenho mais a impressão de ser uma embaixadora no que respeita ao perfume. Eu tenho o fio e continuo a desenrolá-lo até o colocar nas mãos de outra pessoa. É tão excepcional que um perfume tenha marcado todas estas dezenas de anos e continue tão misterioso e tão presente, que eu sou muito pequenina face a tudo isso. Representei Coco Chanel sem entrar no mimetismo, até porque se trata da sua juventude, mas tentei que nos aproximássemos, de certa forma. A história deste perfume é de tal maneira à imagem do seu carácter fora das normas e excepcional, que consegui medir ainda melhor o seu carácter único.