Já aprendeu a amar o seu reflexo no espelho? Tudo pode depender da idade que se tem.
Aos 20 anos
Tipo de confiança – Quem diz ‘ilimitada’ ou ainda não tem 20 anos ou já não se lembra como era. Aos 20 anos podemos ter os genes para ser giras, mas geralmente não somos porque adoramos croissants com chocolate e ainda não sabemos escrever a palavra ‘arteriosclerose’, embora comecemos a saber como se escreve ‘celulite’. Também ainda não temos o discernimento para perceber que aquelas calças descaídas com o pneuzito a tombar graciosamente por cima, só ficam bem à Cláudia Schiffer. Também já não sabemos quem é a Cláudia Schiffer. Há dias em que sentimos que podemos conquistar o mundo, mas geralmente achamos que não somos suficientemente giras e ainda não percebemos que a opinião das outras pessoas não conta assim tanto. Geralmente sentimo-nos muito muito velhas, porque nem sequer pensamos que um dia, se tudo correr bem, ainda vamos fazer 82. Só pensamos que algures no Portugal profundo há quem aos 15 esteja casada e mãe de família.
Armadilhas – Pensar que não se sabe tudo e não se vai ser capaz. O que interessa é pensar em tudo o que já se foi capaz de fazer, e andar para a frente.
O que nos deita abaixo – Pensar em tudo o que falta fazer para a nossa vida arrancar verdadeiramente. Pensar que não temos dinheiro para sair de casa, o Vasco não nos telefonou, e como também não temos dinheiro para comprar carro vamos andar de trotinete electrónica até ao fim da vida. Pensar que, se isto é o mais giras que vamos alguma vez ser, como nos estão sempre a dizer, o panorama não é muito animador.
O que pode animar – Começar a treinar-nos para gostar de nós. Isto não quer dizer aceitar que somos burras, feias e más. Quer dizer esforçarmo-nos por nos tornarmos melhores e aceitar aquilo que não podemos mudar. Ajuda falar com alguém com mais de 40 anos, porque os nossos amigos da nossa idade têm todos problemas iguais aos nossos, além de que geralmente não têm muita paciência para nos ouvir.
Aos 30 anos
Tipo de confiança – Geralmente estamos demasiado ocupadas para pensar nisso, ou então temos tanto tempo para pensar nisso que o feitiço se vira contra o feiticeiro e acabamos a pensar que aos 20 achávamos que ia ser tudo tão melhor… Mas geralmente já desenvolvemos pelo menos três talentos: sabemos como ‘dar sopa aos melgas’, sabemos que tipo de calças nos fica melhor e sabemos que há noites em que mais vale ficar em casa a ver o ‘Titanic’.
Armadilhas – Pensar que o resto da Humanidade depende de nós. É importante não entrar numa de sacrifício pelos outros, porque geralmente não nos agradecem, e corremos o risco de passar o resto da vida a pensar que não nos agradeceram, que é uma maneira bastante inútil de se passar a vida.
O que nos deita abaixo – Comparar-nos com as outras, geralmente com outras que têm aquilo que nós achamos que nos falta. As solteiras acham que falharam a dança das cadeiras e deixaram passar o Príncipe Encantado, as mães acham que perderam imensas oportunidades de carreira. A procura de equilíbrio pode tornar-se uma obsessão. Esta é aquela idade ambígua em que cabe tudo: há quem pareça 19 anos e se irrite porque os empregados dos cafés a tratam sempre por tu, e quem já tenha a cara que vai ter aos 50.
O que pode animar – Ter amigas na mesma situação que nós, seja lá ela qual for. Perceber que não somos as únicas. Perceber que fazemos algumas coisas muito bem, e concentrarmo-nos nelas.
Aos 40 anos
Tipo de confiança – Quem diz ‘ilimitada’ ou ainda não tem 40 ou já não se lembra como era. E quem falou na ternura dos 40, era homem. Todos os manuais dizem que os 40 trazem imensa segurança. Enfim, é verdade que já não usamos dez pulseiras de missangas todas no mesmo braço e já não nos sentimos culpadas se continuamos a preferir o Chico Buarque aos Repórter Estrábico, mas basicamente continuamos as mesmas que aos 20, só que com menos paciência.
Armadilhas – Os ‘ses’. Qualquer tipo de ‘se’. E se eu tivesse tirado engenharia aeronáutica em vez de arquitectura paisagística? E se eu tivesse tido uma filha em vez de um filho? E se eu tivesse casado com o João Paulo em vez do Manel? E se eu tivesse casado com quem quer que fosse? Qualquer ‘se’ nos parece melhor do que a realidade que temos, e nunca nos lembramos de que os ‘ses’ são de facto uma perda de tempo.
O que nos deita abaixo – Pensar que há um limite e um prazo para tudo. Para algumas, é a última oportunidade de ter um filho. Outras acham que a vida estagnou e que tudo vai ser sempre assim rotineiro daqui para a frente. É a idade do ‘agora ou nunca’: há quem aceite e se aninhe na vida que conseguiu. Há quem vá para a Carrapateira fazer velas de mel e dar consultas de Tarô. Enfim, tudo depende dos ciclos de cada uma…
O que pode animar – Aprender qualquer coisa nova, nem que seja ponto cruz. Aproveitar o dinheiro que se tem para viajar e ver caras novas. Se não se tiver dinheiro nem inclinação para viajar, aproveitar para fazer ginástica, comprar um canário e não se esquecer de regar as plantas.
Aos 50 anos
Tipo de confiança – Se se fez os trabalhos de casa, agora é inquebrável: já sabemos que valemos por aquilo que somos, que há gente neste mundo que nunca vai perceber isso, que o pior é para eles. Também já sabemos que há poucas coisas neste mundo que valham o esforço de termos de nos zangar verdadeiramente, e no entanto, quando vale a pena, que bem que nos zangamos!
Armadilhas – Pensar que já não se tem idade para, ou, por outro lado, sentir-se obrigada a fazer uma data de coisas para as quais já não se tem paciência, só porque achamos que devíamos ser ‘jovens de espírito’. Uma das coisas boas de se ter 50 anos é perceber finalmente que a vida é aquilo que nós fazemos dela. É cliché mas também é verdade.
O que nos deita abaixo – Bicos de papagaio. Cafés mal tirados. Melgas. Não conseguir emagrecer tão depressa como dantes. Encontrar de repente uma prima afastada com quem andámos ao colo quando ela tinha 2 anos, e perceber que ela já é avó.
O que pode animar – Saber que há alguém que gosta de nós, seja família, amigos ou cão. Arranjar tempo para estar com eles. Ir jantar fora com pessoas que nos conheceram aos 18 anos quando éramos radiosas (ou enfim, radiosas de outra maneira…) e que sabem que nem sempre tivemos aquele duplo queixo.