Durante a gravidez, os cuidados com o corpo e a alimentação devem ser redobrados porque nem tudo aquilo que comemos habitualmente pode ser saudável, ou essencial para garantir uma boa gestação e desenvolvimento do feto. Os órgãos do seu bebé necessitam de proteínas, cálcio, ferro, vitaminas e hidratos de carbono para se desenvolverem adequadamente, por isso, a grávida não deve ‘vingar-se’ em bolos e gelados diariamente, nem conter-se de tal maneira que aquilo que come não chega para alimentar os dois.
Tempos de fartura
“Assim que soube que estava grávida desatei a comer desalmadamente. Como adoro chocolate, comprava quantidades industriais e comia todos os dias pelo menos uma barra grande. Cheguei ao fim dos nove meses com mais 30kg e com o médico a pôr as mãos na cabeça porque não só o aumento de peso foi exagerado como desenvolvi diabetes gestacional. Na segunda gravidez controlei-me, até porque ainda fiquei com uns pneuzinhos extra do Miguel”, confessa Conceição Barros, 39 anos.
A história de Susana Henriques, 38 anos, é em tudo semelhante, e a professora de inglês confessa que as três gravidezes serviram de desculpa para “desatar a comer doces e batatas fritas de empreitada. Conclusão: por cada um dos meus filhos engordei uns 25 kg e nunca perdi o peso todo de uma gravidez para a outra. Cheguei ao fim do terceiro filho com muitos quilos a mais. Seis anos depois, ainda estou a tentar livrar-me de dez quilos que teimam em agarrar-se às coxas”.
Geralmente as mulheres queixam-se que voltar a ter a silhueta que tinham antes da gravidez é extremamente difícil, mas aumentar exageradamente de peso – geralmente os médicos aconselham um ganho de nove a 12kg – é nocivo em várias vertentes, não só em termos estéticos. Ora veja:
. Causa maiores problemas de coluna, dores nas pernas, varizes e fadiga do que é normal;
. Os partos vaginais são mais penosos;
. Há a possibilidade do bebé ter peso a mais e vir a sofrer, mais tarde, de doenças como obesidade ou diabetes;
. A recuperação no pós-parto que é bastante mais difícil.
Obsessão pelo corpo
Numa altura em que o culto do corpo tanto se faz sentir – e de vermos as actrizes e modelos a terem filhos e a voltarem ao peso normal enquanto o diabo esfrega um olho -, era de esperar que a pressão para ter um corpo fantástico, mesmo grávida, fosse ‘absorvida’ pelas futuras mães.
“Quando as minhas amigas souberam que estava grávida, todas me disseram para não me ‘desleixar’. Contaram histórias de mulheres que continuavam gordíssimas depois de terem os filhos e cujos casamentos se tornaram um inferno. Enfim, uma pressão horrível. Resolvi ir a um nutricionista que me aconselhou a seguir uma dieta… só que a minha obsessão era tal que cortava as doses para metade e continuava a fazer ginástica como antes. A mais de meio da gravidez, o médico ‘encostou-me’ à parede, ou eu tomava juízo ou ia ter problemas porque o bebé não estava a crescer como devia”, conta Sandra S.
Cada vez mais mulheres têm pavor de aumentar o peso, receando que, após o parto, não consigam voltar a ter o mesmo corpo que possuíam antes de engravidar. John Challis, professor da Universidade de Toronto e director do Instituto de Desenvolvimento Humano, afirma que “as mulheres necessitam de se alimentar correctamente antes de pensar em engravidar. Períodos de fraca nutrição ou restrição alimentar, como dietas sem controlo médico, poderão comprometer o desenvolvimento das glândula pituitária e endócrinas do bebé, o que poderá afectar o desenvolvimento de outros órgãos.” A mesma opinião é partilhada pela médica ginecologista e obstetra Manuela Calado Araújo, “não engordar é bastante prejudicial, podendo originar carências nutricionais básicas para a mãe e para o feto com atraso do crescimento intra-uterino e parto pré-termo, com todas as consequências que daí advêm’. Então, a pergunta impõe-se…
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