O número de alérgicos duplicou em pouco mais de uma década e tudo indica que continuará a aumentar. As alergias são a sexta doença mais frequente no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, e estima-se que 12% da população mundial sofra de alguma variante.
Em Portugal, afecta um terço da população, revela o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), Mário Morais de Almeida.
É por isso importante perceber o que são as alergias e como podemos lidar com elas de forma a minimizar os seus efeitos. Até porque os custos de não o fazer irão ser muito grandes. Basta atentar no impacte económico destas doenças no Sistema Nacional de Saúde. ‘O custo do tratamento de um asmático (que serve de paradigma para as outras alergias) é de €1280, o triplo de um indivíduo sem doença crónica, que custa ao estado cerca de €420’, refere o imunoalergologista Carlos Nunes, da direcção da SPAIC. Além disto, há que contar com os custos indirectos relacionados com faltas ao trabalho e o seu impacte na produtividade. Razões mais do que suficientes para apostar na prevenção.
O que são?
Quando falamos de alergias, pensamos em espirros, nariz a pingar, olhos vermelhos e borbulhas na pele. Estas são algumas das manifestações mais frequentes, mas são apenas sintomas. ‘Na alergia há uma reacção exagerada do corpo a determinados elementos que interpreta como perigosos e desenvolve anticorpos especiais para se defender’, explica a alergologista Cristina Santa Marta. Desencadeia-se então ‘um processo inflamatório que se pode manifestar de várias formas e em qualquer parte do corpo’.
Por que somos alérgicos?
‘Não se sabe ainda por que é que algumas substâncias são mais propensas a causar estas reacções, como os ácaros e os pólenes, nem por que é que algumas pessoas desenvolvem este processo de hipersensibilidade a substâncias inofensivas’, diz o imunoalergologista Pedro da Mata. Sabe-se que a hereditariedade tem algum peso, já que filhos de pais alérgicos têm mais 15 % de probabilidade de o serem. Mas o estilo de vida será o factor mais importante. ‘Há estudos que mostram que é no Ocidente que estas patologias proliferam e observaram-se casos de populações isoladas sem alergias que migraram para países ocidentais, tendo, ao fim de alguns anos, uma percentagem assinalável de alergias.’
São vários os elementos associados ao estilo de vida moderno que contribuem para estas doenças, como o número de substâncias novas, produzidas pela indústria, que surgem quase diariamente e às quais o corpo não tem tempo para se adaptar, o crescente processamento dos alimentos com cada vez mais aditivos, a excessiva higienização e o facto de passarmos cada vez mais tempo em locais fechados, deixando de estimular o nosso sistema imunitário.
Sem cura à vista
Não existe ainda uma cura 100% eficaz, e nos casos em que não é possível evitar os alérgenos resta apenas o tratamento dos sintomas com medicamentos que terão de ser tomados a vida toda. Pode haver casos em que o problema deixa de se manifestar durante anos, mas nunca se pode assegurar a cura total. ‘O que acontece, muitas vezes, é confundir-se as alergias com patologias auto-imunes, as verdadeiras alergias não desaparecem’, assegura Pedro da Mata. Outro mito apontado por este médico é o de que o stresse pode ser um factor que despoleta uma reacção alérgica: ‘É um agravante, mas não é um desencadeante.’
Evolução nos tratamentos
Os medicamentos têm vindo a evoluir e nalguns casos é possível atenuar os sintomas quase completamente. ‘Usam-se cada vez mais terapias combinadas, que são bastante mais eficazes’, assegura Mário Morais de Almeida. ‘Infelizmente, são é menos comparticipados.’
. Os anti-histamínicos (inibidores dos sintomas alérgicos), muito usados nas rinites e conjuntivites, e que causavam muito sono (com elevados prejuízos no rendimento escolar e laboral), deixaram de causar esse transtorno.
. Os anti-inflamatórios tópicos sem cortisona, usados para tratar eczemas, são outra melhoria no campo dos tratamentos.
. As vacinas também constituem um avanço e são o mais próximo da cura que se pode chegar. Funcionam através da dessensibilização ao alérgeno que se injecta em quantidades diminutas sob a pele, em doses progressivamente maiores. São mais usadas no tratamento de alergia a pólenes, ácaros e veneno de insectos. No caso da asma, a injecção de anticorpos só pode ser feita em casos muito graves e nem sempre funciona.
A medida mais eficaz de combate às alergias, dizem os especialistas, é evitar as substâncias causadoras do problema. E nem tem de ser complicado: ‘Se as pessoas sabem que há mais pólenes de manhã do que à tarde, basta marcarem o jogging para essa altura para terem menos problemas’, exemplifica Mário Morais de Almeida, que deixa ainda outro conselho: ‘Se forem controladas a partir da infância, as alergias nunca causarão tantos problemas.’