Das novidades tecnológicas
Eu sei que o progresso é imparável. Mas desculpem lá: anda toda a gente a queixar-se de que está quase a vender a avó para comprar uma lata de atum no supermercado, mas depois toca qualquer coisa e eles dizem: “Ai espera lá, tenho de atender a minha filha”, e sacam de um i-pod-pad-pude última geração, daqueles que custaram pelo menos três ordenados mínimos e 24 avós… Há aqui qualquer coisa ilógica ou é da minha cabeça?
Do cinzento
Sim, até faz sol, e a malta anda de t-shirt e havaianas (enfim, em se trabalhando num bar de praia ou numa escola de surfe) mas já repararam que não há boas notícias neste país? No outro dia corri os jornais de ponta a ponta e a única boa notícia que encontrei foi uma manifestação de galdérias que desfilaram na América reivindicando o direito à galdeirice (enfim, não sei se seria uma boa notícia). Todos os dias temos sempre o mesmo mundo: a Troika, o FMI, o Bin Laden que morreu há três meses e mesmo assim ninguém sabe se era ele (história mal contada), e outra vez a Troika (acho sempre que são três russos sentados num trenó no meio da Praça do Comércio a beber vodka). Eu sei que o cinzento está em nós. Mas às vezes é duro expulsá-lo de lá.
Dos ginásios cheios
De Outubro a Março, somos sempre os mesmos dez na aula: sabemos de cor as graçolas uns dos outros, os equipamentos que cada um tem, quantos quilos carrega, em que sítio é que vai gritar (ai que mal que isto soou), e quando falta por que é que falta. Chega-se à primavera e verão e é uma enchente de caras novas que se embrulham nos atacadores, e vão para a esquerda quando é para ir para a direita, e dizem ‘ai mas vocês suam tanto’. Nós achamos que daqui a nada estão lá fora outra vez. Eles acham que estão na C+S da Musgueira. Daqui a nada é agosto. Eles desaparecem. Voltamos aos 10 de sempre. Talvez 11. Como se dizia no PREC (não que eu me lembre) há sempre alguém que resiste.
De fruta sem graça
Não vou entrar na onda do ‘ai dantes é que os morangos eram bons’, até porque, tal como no PREC, também não me lembro. Mas não é preciso ter 100 anos e um passado de fruta biológica para perceber que agora não sabe a nada…
De gente sem graça
Se são leitoras fiéis da Activa (Deus vos guarde!) e leram algures numa revista passada um artigo sobre amar no Futuro (se não leram eu resumo), a psicóloga Clara Soares bem se fartou de insistir que, no futuro (e o futuro é daqui a quanto tempo? 10 meses? 45 anos? Três mil?) as pessoas serão todas individualmente mais interessantes. Hmmm. Bem me parecia que o Futuro inda não era agora. Então eu quero adormecer hoje e acordar no futuro (se puder escolher, queria acordar loira, sem rugas e casada com o Brad Pitt também ele criogenizado mas sem a Angelina e os 28 miúdos) e encontrar uma multidão de gente interessante à minha espera. Claro que ninguém me ia dar conversa (‘Ai tadinha, até é engraçadita mas não diz coisa com coisa…’) eu é que seria imensamente feliz. Enfim. Isto para dizer que gostava de acordar um dia e não encontrar o Facebook cheio de posts do tipo: ‘Ai que belo dia de praia que eu tive ontem’ ou ‘Isabel prepara-se para fazer uma sesta’, ou ‘JoãoManuel está a pensar que se calhar era melhor mudar a festa de anos do Vasquinho para o próximo sábado’. E falo contra mim. Inda ontem votei no pastel de Belém nas 7 maravilhas Gastronómicas, por isso quem sou eu para atirar a primeira chamuça da sem-gracice. Sim, eu sei que não há nada para dizer, ver alínea 1. Mas ó meninos. Todos juntos conseguimos com certeza derrotar o cinzento (aahhhhhhhhhh! Estão a ver? Já me conseguiram obrigar a escrever uma frase pimba!).
De gente surda
Já repararam que a maioria das pessoas não tem conversas, tem monólogos àvez? Mal podem esperar que a outra pessoa acabe de falar para recomeçarem exatamente no ponto em que haviam deixado. Temos todos imensa coisa para dizer, e muito pouca vontade de ouvir. Que coisa tão esquizoide. Mas se calhar, isso é ter uma conversa. Se calhar é o melhor que arranjamos, hoje em dia. Afinal, inda não é o Futuro em que todos vamos ser gente interessante (mas de facto, ninguém me prometeu gente interessada…).
De perder coisas
Ganchos de cabelo. Óculos escuros. Casacos. Aquelas coisas da parte de trás dos brincos a que os ingleses chamam borboletas (vamos chamar-lhes gafanhotos, boa?). Cartões. Pessoas. Oportunidades. Paciência. Tempo. Sol. Vida.
De modelos que dizem que não fazem nada para serem magras
Ai desculpem lá. Ninguém é magra por acaso. Ninguém é magra a comer tudo o que lhe apetece. Ninguém é magra sem se esfalfar em qualquer coisa (e agora ponham a vossa imaginação a funcionar).
De filas para a praia
Já não aguentamos mais tempo dentro do carro. Já ouvimos a Shakira a cantar que é loca para aí umas 34 vezes, queremos viver num daqueles sítios com 2 habitantes por mil quilómetros, tipo a Austrália, a criança quer fazer chichi, lembramo-nos das horas recomendadas pelo Liga Contra o Cancro e achamos que a criança vai morrer de melanoma e a culpa é nossa, bem se vê que a Liga contra o Cancro nunca tentou vir à praia, a criança diz que quer mesmo fazer chichi, a outra criança enfiou o balde do Noddy na cabeça e não consegue tirá-lo, “sai à tua mãe, tem a cabeça maior que os ombros”, temos de parar num café para a criança fazer chichi, todas as crianças do mundo vieram fazer chichi ao mesmo café, quando finalmente aterramos na praia andamos às voltas sobre os buracos como aqueles carros de exploração da lua, queremos um sítio para espetar a bandeira, desculpem, deixar o bólide e nada, apetece desistir mas já falta tão pouco, e quando lá chegamos já só queremos vir embora…
Da SPM
Não, não é a ceninha das bicicletas fixas, é mesmo a Síndroma Pré-Menstrual. Se alguém me tivesse dito que todos os meses ia querer matar o meu vizinho do lado, esfaquear a prima Amélia, pôr uma bomba debaixo da cadeira de todas as minhas colegas e sufocar com os colchões de ioga qualquer um dos meus copraticantes, ai de certeza que não me tinha levantado assim que Deus gritou aos anjos: ‘Quem quer ser mulher é favor dirigir-se à mesa 4’. Ó céus. E tudo por causa da Eva. E de uma maçã. Mas pronto. Podia ser pior. Podiam ter-lhe oferecido um ananás.