Para alguém que sempre exercitou o cérebro é difícil compreender um momento tão desconcertante como o de um diagnóstico de demência vascular, isto é, qualquer demência cuja principal causa foi uma doença vascular encefálica.
Falamos de uma enfermidade mais frequente que o próprio Alzheimer e que quando atinge alguém próximo do nosso núcleo familiar se revela completamente perturbador. Mas atenção, a prevenção é possível!
Ao contrário do Alzheimer, onde os especialistas permanecem na procura da causa, as origens da demência vascular são conhecidas. Para a neurocientista da universidade de Edinburdh, Karen Horsburgrh: “A doença vascular é causada pela falta de sangue, ou seja, se o sangue não atingir as células do cérebro, estas acabam por morrer, levando a um diagnóstico de demência. Pode acontecer na sequência de um AVC – acidente vascular cerebral – ou depois de míni derrames. Qualquer um destes pode causa danos que a longo prazo serão significativos na função cerebral.
Foi o que aconteceu a Tom Mtchell, um inglês de 62 anos, de Merseyside. Ele e a mulher Liz estavam na caixa de um supermercado, tal comotantas evzes o fizeram, e no final ela entregou nas mãos do marido o dinheiro para pagar a conta. “Tom olhou para o dinheiro e depois para mim”, recorda Liz, que deu o seu testemunho ao mail online. “Abanou a cabeça como quem diz: ‘O que é que eu faço com isto?’ – Podia ver a confusão nos olhos dele”, completou. Recorde-se que quatro anos antes ele ainda trabalhava como comerciante e tinha uma capacidade para fazer contas de cabeça incrível.
Já em casa, Liz tentou falar com ele sobre o assunto mas Tom apenas parecia confuso e não preocupado. Os episódios foram-se sucedendo e a própria personalidade do marido foi mudando “Estava frequentemente mal-humorado e irracional”, diz.
Dias depois Liz levou-o ao médico. Diagnóstico: Demência vascular.
“Fiquei arrasada”, conta Liz. O Tom foi o meu primeiro e único namorado, fomos uma combinação perfeita toda a vida, tivemos dois filhos, e agora ele está a ser tirado de mim da forma mais cruel”, partilha Liz.
A demência vascular pode danificar qualquer parte do cérebro, onde quer que tenha ocorrido o bloqueio do fluxo sanguíneo. E dependente disso, podem perder-se funções cognitivas como a perceção, funções físicas ou de memória.
Para Karen Horsburgrh: “A demência vascular é causada, em termos gerais, pelas mesmas coisas que irão causar as doenças cardíacas. Portanto, se fuma, tem colesterol alto, sofre de hipertensão ou não fizer exercício físico, está não apenas a aumentar o risco de um ataque cardíaco, mas também, de sofrer de demência vascular. Nos casos de pressão alta, o risco triplica.”
Mas, felizmente, há boas noticias: Segundo os especialistas, as mudanças de estilo de vida podem reduzir os riscos de contrair um diagnóstico destes. “Claro que algumas pessoas podem ter predisposição genética para a demência vascular, mas mudar o seu estilo de vida pode reduzir em muito, o risco de a vir a ter. Falo em perder peso, reduzir a ingestão de álcool, parar de fumar e fazer exercício físico”, diz Jessica Smith da Sociedade de Alzheimer do Reino Unido.
Esta foi também uma mensagem para Liz, que hoje pensa: “O Tom excedeu o seu peso e foi-lhe diagnosticado diabetes tipo II aos 40 anos. Também fumava e os médicos diziam-lhe com frequência que corria o risco de sofrer de doença cardíaca. Mas acredito que se ele soubesse que estava também em risco de ter demência teria tido mais atenção ao seu estilo de vida.”
A verdade e que hoje Liz é quem toma conta do marido a tempo inteiro e se ele se apercebe que ela se vai ausentar começa a gritar. Os amigos afastaram-se e apenas recebem as visitas dos filhos e do grupo de apoio. “É apenas o meu amor profundo pelo meu marido que me faz continuar. Viver com demência e um inferno, não o desejo a ninguém”, conclui.