O coração é a bomba do nosso corpo. Quando contrai, o sangue é empurrado para as paredes das artérias fazendo com que elas se expandam. A força dessa impulsão é conhecida como pressão arterial sistólica, ou máxima. Depois, ele relaxa e os vasos sanguíneos retraem: temos assim a tensão arterial mínima ou diastólica. É a estas variações que chamamos tensão arterial. Considera-se que os seus valores são normais quando estão abaixo dos 14 de tensão máxima e os 9 de mínima. “Numa pessoa não hipertensa, consideram-se óptimos valores abaixo dos 11/7 e normais os que estão entre os 11 e os 13 de máxima e os 7 e os 8,5 de mínima”, explica o cardiologista António Cecílio Gouveia. “As excepções são os diabéticos e os doentes renais, com quem temos de ser mais exigentes nestes valores.” Mas a tensão varia ao longo do dia. É mais alta de manhã e essa é a razão pela qual muitos enfartes e AVC (acidentes vasculares cerebrais) se dêem nesta altura. Emoções fortes, esforço físico intenso, frio e alterações de temperatura, a reacção nervosa, que acontece quando os médicos a medem (a chamada hipertensão de bata branca) são factores que podem fazer subir a sua pressão. Mas, se em várias medições espaçadas no tempo eles superam os 14/9, estamos face a um hipertenso.
Jovens sob tensão
Quando não controlada e, sobretudo quando combinada com outros factores de risco, a hipertensão pode desencadear acidentes vasculares incapacitantes ou mesmo mortais. E deixou de ser um problema de quem passou dos 40 ou 50 anos. Há adolescentes e jovens já começam a apresentar níveis de tensão preocupantes “devido à inactividade física dos adolescentes, que passam mais tempo em frente à televisão e dos computadores, e devido ao tipo de alimentação que se pratica em casa e nas escolas – abandonámos a dieta mediterrânica”, diz António Cecílio Gouveia, cardiologista da Fundação Portuguesa de Cardiologia e do Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada.
Apenas 10% das situações de hipertensão têm uma origem conhecida, geralmente genética. Chama-lhe hipertensão secundária e pode dever-se a alterações hormonais a problemas renais ou vasculares congénitos. Mas a maior parte dos casos deve-se a um estilo de vida desadequado.
Aposte numa alimentação saudável:
O grande inimigo da tensão arterial é mesmo o sal… e os portugueses consomem-no demasiado! Mas há outros alimentos com os quais deve ter cuidado:
– Reduza a quantidade de sal para metade, ou menos… ou mesmo nenhum! Experimente outros temperos e substitua por ervas aromáticas e limão.
– Evite enlatados: tem muito mais sal na sua composição do que alimentos frescos, que deve preferir sempre. Leia atentamente os rótulos das embalagens.
– Modere o consumo de enchidos (bacon, chouriço, fiambre), pickles, mostarda e alguns tipos de queijo.
– Reduza o consumo de alimentos ricos em colesterol: carnes vermelhas, manteiga, queijo ou leite inteiros, miudezas de animais (fígado, rins) e gema de ovo.
– Por alguma razão a dieta mediterrânica é considerada a melhor do mundo. Com poucas carnes na sua composição, muito peixe, vegetais, cerais e rica em azeite, a gordura mais saudável.
Repense o seu estilo de vida
– Combata o stresse: ele desencadeia produção de cortisol e adrenalina, que aumentam a tensão arterial. Exercícios de relaxamento, meditação, ioga ou Pilates podem ajudar a moderar o stress.
– Deixe de fumar. Se pensa que já é tarde saiba que, após ou ano de corajosa abstinência, um ex-fumador reduz para 50% os riscos de ataque cardíaco. Se não conseguir deixar totalmente reduza para menos de metade a quantidade que já consome habitualmente. Não é o ideal, mas pelo menos já ajuda…
– Mexa-se: “Um hipertenso controlado deve fazer exercícios dinâmicos, em que os músculos nunca ficam presos, contraem e distendem”, aconselha António Gouveia. Estamos a falar de corrida, marcha, caminhada, andar de bicicleta, nadar. “Os exercícios estáticos, como a musculação ou exercícios com pesos, aumentam-na e devem ser evitados ou feitos com muita moderação por hipertenso.”
Quando e como medir a tensão
Mesmo um jovem adulto completamente saudável, de 20 ou 30 anos, deve medir a sua tensão arterial pelo menos uma vez por ano. Faça-o no mesmo braço e à mesma hora, de preferência. O meio-dia é uma boa hora para o fazer. Se preferir ter um medidor de tensão em casa, opte por um modelo de braçadeira. “Os de pulso não são tão fidedignos”, explica o cardiologista.
Factores de risco
– Tabaco: provoca batimentos cardíacos mais acelerados e o estreitamento dos vasos sanguíneos, dificultando o bombear do sangue.
– Colesterol e triglicéridos elevados: colam-se às paredes das artérias, deteriorando-as e dificultando a circulação.
– Excesso de peso: representa um esforço extra para o seu coração bombear sangue. Mais uma razão para o manter controlado.
– Stress: desencadeia a produção de adrenalina, que aumenta os batimentos cardíacos e põe o corpo em alerta total, aumento também a tensão sem que se aperceba.
– Misturar a pílula com o cigarro: Uma mistura perigosa, segundo o cardiologista, e que pode desencadear hipertensão porque um factor potencia os efeitos do outro. Por si só os contraceptivos orais não acarretam tanto risco.
– Diabetes
– Falta de exercício
– Abuso de bebidas alcoólicas
– Idade: “A tensão arterial tem sempre tendência a aumentar com a idade, sobretudo depois dos 40 anos”, avisa o cardiologista.
– Sexo: os homens tem um risco de hipertensão maior e mais cedo do que nós. Mas, sobretudo depois da menopausa, o nosso risco de hipertensão também aumenta.
– A gravidez: a eclâmpsia ou pré-eclâmpsia aparece durante a gestação e pode acarretar consequências graves para mãe e bebé quando não seguida e medicada.