Nunca se questionou de onde lhe vem a vocação inata para a pintura, para a expressividade oral, ou para fazer contas de cabeça ou resolver equações do 5.º grau? Se pensar que esse jeito, que sempre levou na brincadeira, se transformou em gosto e moldou o seu percurso profissional, talvez a origem esteja no tipo de inteligência que você possui.
Até há pouco tempo, acreditava-se de que a inteligência poderia ser medida através do simples teste do QI (Quociente de Inteligência), que mede apenas um determinado tipo de inteligência: a lógica. Durante anos a fio, o teste de QI serviu para analisar a inteligência lógica e linguística, determinando e catalogando as pessoas em função do mesmo e não colocando a hipótese de existirem outros tipos de inteligência. As empresas utilizavam-no para recrutar pessoal, ciente de que os seus resultados conduziriam a trabalhadores com o perfil adequado e determinariam se a pessoa que temos à nossa frente, é ou não, inteligente. Mas não será este teste redutor das nossas verdadeiras capacidades?
O homem das sete inteligências
Foi em 1983 que o americano Howard Gardner provocou uma pequena revolução quando publicou o livro ‘A teoria da inteligências múltiplas’ no qual afirmava que cada um de nós possui, em maior ou menor grau, vários tipos de inteligência apesar de haver uma que prevalece sobre as outras menos ‘trabalhadas’.
Segundo este professor da Universidade de Harvard, só esse facto poderia explicar porque é que há várias pessoas, que possuem baixos resultados no teste de QI, conseguem ser bem sucedidas em diversas áreas profissionais.
A inteligência, segundo Gardner, não é mais do que ‘A capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos valorizados num ambiente cultural ou comunitário’. Para este teórico, todos nascemos com vários potenciais, mas devido às relações que estabelecemos com o ambiente que nos rodeia e a cultura com que somos confrontados, somos levados a desenvolver determinadas vertentes da nossa inteligência em detrimento de outras. No fundo, cada um de nós pode alcançar um respeitável nível de competência para cada habilidade cerebral, sempre que tenhamos o estímulo e a formação necessárias. E isso é o que nos faz ao longo da vida, desenvolver as ferramentas necessárias para resolvermos os mais diversos problemas e situações.
Para este professor são sete os diferentes tipos de inteligência que podemos desenvolver: Verbal ou Linguística, Lógico-Matemática, Cinestésica Corporal, Espacial, Musical, Interpessoal e Intrapessoal.
De Mozart a Gandhi
Saber em que tipo de inteligência nos encaixamos, até pode ser aparentemente fácil. Basta olharmos para aquilo que nos moldou a vocação e nos fez seguir um determinado trajecto profissional. No entanto, apesar de acharmos que podemos facilmente catalogar a nossa mente numa determinada categoria, podemos sempre revelar talentos desconhecidos, que não são tão evidentes.
Senão imagine, o que teria sido de Mozart se a sua genialidade musical tivesse sido completamente ofuscada por um teste psicotécnico revelador de uma inteligência pobre a nível linguístico e matemático? Ou até mesmo os génios da pintura como Van Gogh ou Gaugin? E o que teria sido de Einstein, que na escola era um péssimo aluno, mas que foi quem descobriu a teoria da relatividade? Este tipo de talentos implica um determinado tipo de inteligência dominante, onde também entram em linha de conta a lógica, mas igualmente os condicionalismos ambientais e culturais.
Segundo Gardner, a inteligência linguística pode ser exemplificada pelos grandes escritores; a do corpo é revelada através dos atletas; mas também existe a inteligência que nos permite compreender os outros, da qual Freud, o pai da psicanálise, é um bom exemplo; a da solidariedade e da paz, como Gandhi; ou a intrapessoal, que nos permite compreender profundamente o nosso próprio ser, como o escritor Proust.
(Re)Descubra os seus talentos
Antes de deitar contas à vida, sobre qual o tipo de inteligência que lhe tocou, leia em pormenor o que caracteriza cada uma delas, e esteja atenta ao tipo de profissões ou de talentos para o qual poderá estar mais apta.
É aquela que nos ‘persegue’ desde sempre e que geralmente aparece nos testes psicotécnicos que tanto odiamos por nunca conseguirmos acabar tudo dentro do tempo limite. As pessoas que revelam uma capacidade lógico-matemática têm propensão para contas e tratam os números por tu. São rápidas no cálculo mental, possuem a excelente capacidade prática de solucionar problemas que envolvam números e são capazes de pensar de forma abstracta. Geralmente descobrem sempre quem é o criminoso de um filme de mistério, quando ele ainda se encontra no início da trama e quantificam os problemas quotidianos de forma surpreendente. São muito curiosos com o mundo que os rodeia, fazem muitas perguntas que começam com ‘porquê’ e adoram fazer experiências.
Profissões: Cientistas, matemáticos, engenheiros, gestores informáticos.
As palavras são o seu mundo. Adora falar, escrever, ler e tem enorme facilidade em expressar-se? Memoriza termos, faz palavras cruzadas com a mesma facilidade que declama um poema de Fernando Pessoa, e não tem qualquer tipo de dificuldade em utilizar a linguagem como vínculo de expressão e em comunicar com os demais. A sua inteligência permite-lhe lidar de forma criativa com as palavras. Tem muito jeito para contar histórias, para dar explicações e lembra-se bem do que lhe contaram – até das palavras exactas – nem que tenha sido há 30 anos.
Profissões: Professores, jornalistas, escritores, actores, advogados, tradutores e criativos.
– Inteligência Cinestésica-Corporal:
Utiliza o corpo como forma de expressão, possui agilidade, destreza e flexibilidade corporal suficiente para o utilizar como potencial de trabalho e resolver problemas. Como refere Gardner, “Há pessoas portadoras de uma inteligência física equivalente às suas aptidões linguísticas ou numéricas.” Os portadores deste tipo de inteligência, são possuidores de coordenação corporal, equilíbrio e rápidos reflexos. Têm muito jeito para manejar objectos e executar tarefas com eles que exijam muita precisão e destreza manual.
Profissões: Desportistas, artesãos, cirurgiões ou bailarinos.
– Inteligência Espacial:
Este tipo de inteligência caracteriza-se em pessoas que possuem um sentido de orientação muito apurado. Pessoas que decoram facilmente o caminho numa cidade que nunca visitaram antes na vida, que vêem o Mundo facilmente esquematizado, quase a três dimensões. A noção do espaço e da direcção está sempre bem presente, há como que uma visualização imediata de um sítio, ou projecto.
Profissões: Marinheiros, arquitectos, escultores ou decoradores
– Inteligência Musical:
Os ritmos, os sons, a vibração, os acordes e as notas musicais não possuem segredos para as pessoas dotadas de uma inteligência musical. Facilmente constroem melodias, inventam sinfonias, reconhecem e distinguem sons muito semelhantes entre si ou decoram com grande facilidade letras e músicas. Conseguem fazê-lo com a mesma facilidade dos que possuem uma inteligência lógica ou linguística. Pessoas com uma inteligência musical necessitam de estar rodeadas de som, cantam com frequência, cantarolam e aprendem a tocar instrumentos com facilidade.
Profissões: Músicos, compositores, cantores
– Inteligência Interpessoal:
É a capacidade de conhecer o mundo através do ponto de vista de outra pessoa, de se pôr no seu lugar. Pessoas que possuem a capacidade de compreensão, de aceitar o próximo, de ajuda e de solidariedade, intuem a personalidade, as motivações e intenções dos que a rodeiam. Este tipo de pessoas disponibilizam-se, são voluntariosas e nunca metem o seu próprio ego como uma prioridade. São impulsionadores, activos e solidários.
Profissões: Psicólogo, médico, enfermeiro e até político
– Inteligência Intrapessoal:
Se possui um conhecimento profundo sobre o seu si próprio, consegue definir-se sem se enganar a si mesmo, possui um alto nível de compreensão, auto-disciplina e auto-estima, então você possui uma inteligência intrapessoal, que lhe permite administrar os seus sentimentos e emoções tendo em conta os seus projectos e objectivos, consegue identificar os seus pontos fortes e as suas fraquezas.
Profissões: Não estando orientada para nenhum tipo de profissão em particular, tem propensão para todas elas, principalmente aquelas onde é suposto controlar os seus impulsos e emoções. Este tipo de inteligência pode ser encontrada em muitíssimas pessoas, misturada com outros tipos de inteligência dominante. Pode sempre dar um excelente investigador, filósofo (se bem que é cada vez mais raro) ou teórico.