Nascemos a partir de uma única célula que se dividiu, criando uma cópia igualzinha. E o processo repete-se: todos os dias, morrem e nascem 70 milhões de células no nosso corpo.

Cada célula tem a sua própria fábrica de produzir proteínas, e um ‘software’ que lhe diz como o fazer, os nossos cromossomas. Cada célula tem um filamento de dois metros de comprimento onde, com a ajuda de três mil milhões de moléculas de base que constituem o código genético, estão inscritos os nossos 30 000 genes. Aliás, cada célula contém dois destes filamentos: um do pai, outro da mãe.

Sempre que uma célula tem de fabricar uma proteína, desenrola estas cadeias até chegar ao gene de que precisa, faz uma cópia desse gene, e encaminha-o para a ‘fábrica’, onde a proteína será fabricada. O cancro resulta da alteração de um destes genes: a multiplicação dessa célula deixa de estar controlada e passa a acontecer de forma anárquica até formar uma massa, o tumor.

Como é que isto se dá? Pode ser uma simples letra no lugar de outra, uma em três mil milhões de letras que contém cada um dos filamentos de ADN. “Um simples T no lugar de um C ou de um A e é todo o sentido do ‘texto’ que muda”, afirma o oncologista francês David Khayat, no livro ‘O Verdadeiro Regime Anti-Cancro’ (Livros d’Hoje). “Um interruptor que se liga quando o queríamos desligar. Um gene que bloqueia a divisão em situação normal, e de repente deixa de bloquear. Ou que tem por missão estimulá-la e entra em espiral!”

Claro que, na maioria das vezes, estes erros são detetados pela célula e há sistemas de reparação do ADN. Ele é lido e relido, e quando a célula deixa de ser eficaz, é destruída. Mas basta que este ‘guardião do gene’ deixe de funcionar para que se produza uma alteração fatal.

Os três ‘novos’ inimigos

Problema (outro):  atualmente, os investigadores perceberam que este esquema não era assim tão simples, e que entram outros ‘maus da fita’ no filme.

Os micróbios, por exemplo. Noventa por cento das nossas células codificadoras de proteína são micróbios: temos com eles uma relação simbiótica: as bactérias nos intestinos, por exemplo, ajudam-nos a funcionar bem, e nós damos em troca casa e comida. Mas, se a comunicação entre um micróbio e o organismo for mal feita, pode causar um tumor (como, por exemplo, o do cancro do colo do útero).

Depois, vem o ADN ‘irrelevante’ (aquilo a que os americanos chamam ‘junk DNA’): só uma parte das nossas células contém informação essencial para produzir proteínas. Os outros 98% eram até aqui considerados DNA sem serventia. Mas, agora, os cientistas pensam que podem ser um perigo, enviando sinais errados a uma célula.

E, por último, os mensageiros de RNA: uma proteína que atua como correio, levando a mensagem do ADN aos Ribossomas, espécie de fábrica que constrói as proteínas. Mas existem uns vilões, chamados Micro-RNAs, que vão sabotar a mensagem enviada: se esta chegar à ‘fábrica’ com a informação errada, aí está mais uma célula mal feita.

Conclusão: temos mais inimigos do que aqueles que conhecíamos, mas são cada vez mais identificados. E quem sabe, talvez possamos, daqui a uns tempos, aprender a derrotá-los.

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