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Quase todos os seres humanos mentem pelo menos uma vez na vida… por mais honestos que sejam: para evitarem confrontos, não ferirem sentimentos, salvarem a pele, descartarem-se de responsabilidades ou conseguirem o que querem. É mais forte que nós. Susan Shapiro Barash, autora de ‘Little White Lies, Deep Dark Secrets’, afirma que 80% das mulheres contam meias verdades inocentes ou ‘mentiras brancas’ e que 75% já mentiu a alguém por causa de dinheiro.

De pequenino se torce o pepino
Aprendemos a usar o engano a nosso favor ainda em bebés, geralmente para testarmos a capacidade de conseguirmos o que queremos. Depois, mentimos para salvar a pele e a reputação – ‘Não fui eu, foi a minha irmã!’ –, para exercitarmos a imaginação, porque desejamos muito algo que não temos –‘Lá em casa, somos cinco irmãos!’ – ou até por falta de atenção. Até que percebemos que afinal a mentira tem perna curta e não compensa nem vai tornar-nos mais populares.

Um estudo de 2001, do Instituto de Estudos da Criança, na Universidade de Toronto, pesquisou 1200 crianças e jovens dos 2 aos 17 anos. E descobriu que aos 2 anos apenas 20% são capazes de mentir, mas que aos 4 anos a percentagem sobe para 90%. Pode parecer um processo simples, mas para uma criança de 3 ou 4 anos mentir implica um salto criativo – reconhecer a verdade, inventar uma versão alternativa coerente, pôr-se no lugar do outro e do que este está a pensar. “Se apanhar o seu filho de 3 anos numa mentira bem contada, não deixe de se sentir impressionado”, escreve o autor Ian Leslie em ‘Mentirosos Natos’ (Texto Editora).

Mas os pais também mentem aos filhos, tudo em nome da pedagogia. A mentira mais comum por parte dos pais é a ameaça de abandonarem os filhos na rua se estes não se comportarem bem, seguida de perto do nosso bem conhecido ‘Hoje não trouxe dinheiro suficiente, compro-te esse brinquedo noutro dia’. Foi a conclusão de uma pesquisa conjunta das Universidades da Califórnia (EUA), Zhejiang Normal (China) e de Toronto (Canadá), publicada em janeiro deste ano no ‘International Journal of Psychology’, que estudou mais de 200 famílias na China e EUA.


Como detetar um mentiroso?
Em quase todas as culturas o estereótipo do mentiroso é o de alguém que gagueja, desvia o olhar, faz gestos elaborados, pestaneja, conta histórias muito compridas ou exibe outros sinais físicos de desconforto. Na prática, as evidências mostram que não é assim, explica Ian Leslie:

Os melhores mentirosos são, geralmente, muito sociáveis, inteligentes, empáticos, eloquentes e capazes de antecipar o raciocínio de quem os ouve.

É frequente um mentiroso contar uma história por ordem cronológica. Os relatos verdadeiros não respeitam, necessariamente, uma ordem temporal e podem até parecer confusos. Quer desarmar um intrujão? Peça-lhe para contar a história de trás para a frente. É uma técnica que o especialista Aldert Vrij ensina a polícias e agentes dos serviços de informação militares.

• Quem corrige espontaneamente o que conta ou diz e não se lembra bem dos factos tem tanta ou mais probabilidade de estar a falar verdade do que a mentir. Os bons mentirosos ensaiam mais as suas histórias, falam sem hesitações – é claro que os melhores sabem que se as simularem parecerão mais espontâneos.

• Quando contam mentiras complicadas, as pessoas tendem a falar mais devagar e com mais pausas. Mas falam mais depressa quando se trata de mentiras simples ou muito aperfeiçoadas.

• Apesar de conseguirem simular bem, até os melhores mentirosos se traem a si próprios ao fazerem, inconscientemente e durante frações de segundo, expressões que são emocionalmente incoerentes com a história que estão a contar. É a isto que se chama ‘microexpressões’ faciais, de que se ouviu falar em séries como ‘Lie to Me’. São reais e foram catalogadas, durante sete anos de pesquisa, por Paul Ekman e Wallace Friesen num manual a que chamaram ‘Sistema de Codificação da Ação Facial’. Descobriram mais de três mil destas expressões faciais com algum significado interpretativo. 

Mentiras e charlatões que ficaram para a História

“Estamos a ser invadidos por Marcianos!”: No dia das Bruxas de 1938, o ator e encenador Orson Welles decidiu dar um pouco mais de realismo à sua adaptação radiofónica de ‘A Guerra dos Mundos’, o romance de H.G. Wells. Um programa de música foi interrompido para um bloco noticioso a dar conta de uma invasão de discos voadores. O resultado foi o pânico coletivo em várias cidades norte-americanas. Houve quem se armasse até aos dentes, improvisaram-se máscaras de gás e muitos saíram à rua em histeria. Houve relatos, não confirmados, de nascimentos prematuros e mortes.

• Bernard Madoff: Alves dos Reis seria um aprendiz de feiticeiro comparado com este ex-corretor de Bolsa e consultor financeiro norte-americano. Madoff burlou cerca de 50 mil milhões de dólares aos investidores que lhe confiavam o seu dinheiro , prometendo-lhes lucros incríveis. Em vez de o aplicar, ficava com uma parte para si e usava a outra para pagar a investidores mais antigos – um ‘esquema em pirâmide’ ou ‘Esquema de Ponzi’, uma falcatrua antiga mas que dura pouco tempo, pois requer cada vez mais investidores. No entanto, Madoff tinha uma enorme carteira de clientes e conseguiu mantê-la anos. Foi condenado a 150 anos de cadeia.

“Não tive sexo com essa mulher”: Bill Clinton disse-o em frente às câmaras para milhões de espetadores. Não foi tanto o caso extraconjugal que quase o fez perder o cargo, mas o facto de ter mentido sob juramento, para evitar o escândalo, como provaram posteriormente as gravações de telefonemas entre Monica Lewinsky e a amiga Linda Tripp. A Câmara dos Representantes quis destituir Clinton, mas o Senado absolveu-o das acusações.

Frank Abagnale: Imortalizado por Leonardo DiCaprio no filme ‘Apanha-me se puderes’, começou por falsificar cheques ainda na adolescência. Depois fingiu ser piloto de aviões, médico (exerceu durante 11 meses até ser descoberto, depois de quase ter deixado morrer um bebé) e advogado. Ainda não tinha feito 20 anos e já o montante das suas burlas ascendia a 2,8 milhões de dólares. Foi preso em França e, cinco anos depois, tornou-se consultor do FBI para fraudes bancárias.

Artur Baptista da Silva: Dizia ser observador da ONU, consultor do Banco Mundial e professor de Economia Social da Milton Wisconsin University (que encerrou em 1982). Foi entrevistado por vários meios de comunicação nacionais. A verdade era outra: Artur cumpriu várias penas de prisão entre 1993 e 2011 por crimes de burla, abuso de confiança e emissão de cheques sem cobertura.

O médico falso: Deu que falar o caso do homem que se fez passar por médico durante 20 anos, em várias clínicas de Lisboa e do Algarve. Atendia uma média de 50 pessoas por semana, a cerca de 40 euros por consulta. Foi detido em fevereiro de 2011 e em janeiro deste ano foi formalmente acusado dos crimes de burla qualificada, usurpação de funções e falsificação de documentos. 

Jayson Blair: “Não deixes que a verdade se intrometa entre ti e uma boa história”– deve ter sido este o pensamento do ex-jornalista do ‘New York Times’ que plagiou e forjou pormenores em alguns dos seus artigos. Blair demitiu-se em maio de 2003, escreveu as memórias e chegou a ser orador numa conferência sobre… ética em jornalismo.

Milli Vanilli: ‘Girl You Know it’s True’, o álbum de estreia deste duo pop criado pelo produtor alemão Frank Farian e composto por Rob Pilatus e Fab Morvan chegou a receber um Grammy. Em 1990, descobriu-se que Rob e Fab não cantavam no disco e faziam playback ao vivo. O prémio foi-lhes retirado. Rob morreu de overdose em 1998 e Fab continua a tentar vingar na música.

Lance Armstrong: Ganhou sete vezes a Volta a França, entre 1998 e 2005, proeza inédita. Em janeiro, Lance confessou em público, no programa ‘Oprah’, que tomou substâncias como testosterona e EPO (regula os glóbulos vermelhos no sangue, aumentando a oxigenação e a resistência física). Até então, sempre negara as acusações de doping. Em 2012, foram-lhe retirados os títulos ganhos desde 98 e foi banido do ciclismo. Em fevereiro, o Departamento de Justiça dos EUA uniu-se à ação movida por alguns dos colegas do ciclista, alegando que enganou patrocinadores governamentais.

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