1.Talvez nunca como hoje se falou tanto de nutrição. Pode-se falar de uma obsessão que é quase reflexo uma busca de imortalidade/longevidade da sociedade ocidental?
Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento da prevalência de doenças crónicas não transmissíveis, como a Obesidade, Doenças cardiovasculares, Diabetes, Hipertensão arterial, entre outras, tendo estas em comum o facto de frequentemente surgirem devido a hábitos alimentares desequilibrados. Desta forma, têm proliferado as recomendações de estilos de vida saudáveis, onde a alimentação assume um papel fundamental.
2. Neste momento, defende-se a exclusão de, por exemplo, alimentos com glúten. Há sustentação para esta ideia (com exceção do caso dos doentes celíacos)?
Os doentes celíacos têm que retirar efetivamente esta proteína da alimentação. Nos restantes casos, apesar de o glúten não ser uma proteína essencial para o organismo, deverá ser feita a ressalva de que ao retirar-se a mesma da dieta poderemos estar a eliminar alimentos que forneçam outro tipo de nutrientes importantes para o organismo. Por outro lado, será também importante referir que não se verificam benefícios na eliminação do glúten da dieta de indivíduos não celíacos.
3. O mesmo acontece com a lactose, vinculando-se a ideia de que nos adultos não é necessário inserir alimentos com lactose na dieta. Confirma-se esta posição?
Mais uma vez deveremos olhar para o nutriente como estando inserido num alimento. O leite, por exemplo, apresenta muitos outros nutrientes de elevado interesse para a alimentação humana. Não poderemos negligenciar os benefícios nutricionais que advêm do consumo de leite, bem como a sua facilidade de acesso e consumo, pelo que deve ser incluído ao longo de toda a vida. Caso algum indivíduo apresente intolerância à lactose poderá optar pelos laticínios com menor quantidade ou inexistência de lactose como os iogurtes ou o queijo respetivamente, ou opções onde a lactose foi retirada.
4. E os super alimentos, a que se atribuiu propriedades quase mágicas. Que comentários lhe suscita esta designação?
Devemos ter sempre cautela com estas afirmações. Existem alimentos com propriedade mais interessantes que outros, mas não poderemos esquecer que aparecem no contexto de uma alimentação onde entram outros alimentos, pelo que o todo deve ser privilegiado, procurando-se ter uma alimentação saudável na sua globalidade.
5. A dieta paleo está na moda neste momento – mas não é perigoso excluir de forma tão radical determinados alimentos do cardápio? (e o mesmo quando se falam de detox, jejuns, etc.)
Qualquer dieta que seja muito restritiva pode trazer determinados défices, pelo que o ideal será procurar o auxílio de um nutricionista para um melhor acompanhamento, com um plano alimentar estruturado e adaptado à pessoa em questão.
6. O que aconteceu à roda dos alimentos? Foi ultrapassada ou está a ser ‘mal tratada’?
Continua a ser um guia alimentar de referência, adotado pelas entidades oficiais do nosso país.
7. O que devemos valorizar numa alimentação saudável?
Segundo os princípios da Roda dos Alimentos, guia alimentar português, uma alimentação saudável deve ser completa, ou seja, devemos comer alimentos de cada grupo da Roda e beber água diariamente; deve ser equilibrada, ou seja, devemos comer maior quantidade de alimentos pertencentes aos grupos de maior dimensão e menor quantidade dos que se encontram nos grupos de menor dimensão, de forma a ingerir o número de porções recomendado; e deve ser variada, isto é, devemos comer alimentos diferentes dentro de cada grupo variando diariamente, semanalmente e nas diferentes épocas do ano.