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Ainda não se inventou nada mais eficaz para diminuir os sinais de envelhecimento na pele, mas o retinol ainda suscita muitas dúvidas e receios. Falámos com duas especialistas para saber como tirar partido do seu poder sem as potenciais irritações cutâneas.


No princípio dos anos 40 do século passado era publicado o primeiro estudo sobre a utilização de retinóides na sua forma mais potente para tratar a acne, e durante várias décadas essa era a sua única aplicação. Mas rapidamente dermatologistas e pacientes começaram a verificar um ‘efeito secundário’ positivo: a pele rejuvenescia. No início dos anos 80 o dermatologista Albert Kligman demonstrou a sua eficácia nos sinais de envelhecimento… e o resto é uma história cosmética de sucesso.

Uma família sobredotada

Fala-se muito em retinol porque, sendo a forma usada em cosmética, é a mais conhecida. Mas ele é apenas um dos membros da numerosa família dos retinóides, com alguns deles a frequentar exclusivamente a área da dermatologia – como bem sabe quem teve acne e fez tratamentos médicos com as formas mais potentes destes ativos.


De origem sintética, os retinóides são derivados de vitamina A, entre os quais se incluem, por ordem decrescente de potência: o ácido retinoico (tretinoína, isotretinoína…), disponível apenas sob receita médica e usado para tratamento da acne e outras patologias e, em dermatologia estética, para diminuir os sinais de envelhecimento; o retinal (ou retinaldeído) e o retinol, que são os retinóides mais potentes disponíveis sem receita médica e usados em cosmética como ativo antienvelhecimento; e o palmitato de retinilo (um ester de retinilo, como o proprionato e o acetato de retinilo), os membros mais delicados (mas menos potentes) da família, também usados em cosmética.


Com a tendência da cosmética natural, chegaram novos ativos vegetais com uma ação ‘retinol like’, como o bakuchiol que não é tão potente, mas é muito bem tolerado.

Um trunfo da dermatologia

“Em medicina estética os retinóides são utilizados com uma série de finalidades. Aquela que é mais acarinhada pelo público, sobretudo o feminino, é a componente antiaging”, explica a dermatologista Marisa André. “Nós, na dermatologia, gostamos muito da manipulação e o retinol, que usamos habitualmente sob a forma de tretinoína, permite-nos manusear a sua concentração e associá-lo a outros componentes que nos são úteis. E também são comercializados cremes com uma concentração mais elevada de retinol, de ácido retinoico, que já são considerados medicamentos e requerem receita médica. Porque estes fármacos são eficazes, mas têm de ser usados com parcimónia por serem agressivos, irritativos. Há pessoas que fazem autênticos eczemas de contacto com a aplicação desse tipo de medicamentos tópicos. E às vezes até com cremes de cosmética, não é só com os fármacos. São as duas faces da mesma moeda: faz muito bem, mas as pessoas têm de ser educadas na forma como vão aplicá-lo e usá-lo.” É imperativo seguir as indicações médicas e há uma contraindicação importante: grávidas e mulheres a amamentar não podem usar ou tomar retinóides.


Estes manipulados contêm por vezes outros fármacos, consoante o efeito pretendido pelo dermatologista. “É uma arma terapêutica muito interessante, não só na estética, na dermatologia também, nomeadamente para a acne e as cicatrizes de acne, e nalgumas verrugas.” Na vertente antiaging, a dermatologista prescreve também muitas vezes derivados de vitamina A por via oral. “São óptimos aliados, não só na pele do rosto, como também nalgumas patologias da pele do corpo e couro cabeludo.”

Regresso à ribalta

“Na cosmética, o retinol é o ingrediente que mais se utiliza. É altamente funcional e tem eficácia comprovada, mas para agir tem de ser convertido dentro da pele em ácido retinoico”, explica Joana Nobre, farmacêutica e cosmetologista. “A conversão acontece por ação enzimática e nem todo o retinol que aplicamos vai passar a ácido retinoico, mas uma boa parte sim e, portanto, quando aplicamos retinol na pele a expectativa é que ele vá ser transformado parcialmente no ácido retinoico para fazer a sua magia.”

Mas se há 30 anos que essa eficácia é conhecida e provada, porque é que deixou de se falar dele? E porque voltou a ser agora o ingrediente estrela da cosmética? “A verdade é que ainda não apareceu nada que consiga destronar o retinol. A pandemia contribuiu para este regresso porque as pessoas, como tiveram mais tempo para ler sobre cosmética, tomaram consciência de que este continua a ser o verdadeiro antiaging”, diz Joana Nobre. “E depois há tendências, como o skin cycling, por exemplo, que introduzem a molécula na rotina.”

Como atua o retinol

À superfície, este ativo estimula a renovação da epiderme e promove a eliminação das células mortas, tornando a pele mais lisa e uniforme, com poros menos aparentes, mais luminosa. Em profundidade, acelera a regeneração celular e estimula a produção de colagénio, elastina e glucosaminoglicanos, o que a longo prazo diminui as rugas e torna a pele mais densa, preenchida, hidratada, firme e elástica. “E até hoje é considerado o mais eficaz a desempenhar estas funções antienvelhecimento”, diz Joana Nobre. Também regula o excesso de sebo e a produção excessiva da melanina, ajudando a esbater as manchas.


Em relação às percentagens de retinol usadas em cosmética, a cosmetologista diz que podem variar consoante a finalidade. “Normalmente para a ação antienvelhecimento o que se usa é 0,3%, que é o máximo recomendado pela União Europeia nos produtos para o rosto e outros produtos leave-on, embora haja fórmulas com concentrações até 1%. Quanto mais aumentarmos a percentagem, maior será a eficácia, mas também maior é o potencial de irritação da pele. 0,3% é um bom compromisso entre eficácia e tolerância. Se for para acne, já existem evidências de eficácia do retinol a partir dos 0,2% e, portanto, aqui pode ser um bocadinho mais variável.”

 

É comum haver ardor, vermelhidão e descamação nas primeiras aplicações, até a pele se habituar.

Regras da boa utilização

Os retinóides são todos potencialmente irritativos e é por isso que muitas pessoas ainda hesitam em experimentá-los. E há de facto quem nunca vá poder usar um creme com retinol. Mas a forma como se utiliza, com uma introdução progressiva na rotina de cuidado do rosto, faz toda a diferença e pode permitir a muito mais pessoas o acesso aos benefícios deste ativo único.


“Segundo apurei, apenas 15% das pessoas não tem qualquer reação adversa ao retinol, a esmagadora maioria pode reagir se não o utilizar bem e por isso as marcas aconselham uma utilização com prudência nas primeiras semanas. Pode acontecer a pele ficar pior antes de melhorar, e pode haver descamação e irritação ao mesmo tempo. Portanto, é preciso ter cuidado para que isto não aconteça”, adverte Joana Nobre. “Uma das coisas que podemos fazer é começar com uma formulação que faça uma libertação controlada (normalmente vem a informação na cartonagem). Ou então fazemos a utilização da seguinte forma: primeira e segunda semana usamos apenas duas vezes por semana e se a pele tolerar bem progredimos na utilização e passamos a usar dia sim dia não. E depois, ao fim de mais uma ou duas semanas, usamos todos os dias.”

Outras técnicas que a cosmetologista recomenda são a introdução do retinol numa rotina de skin cycling (uma noite de esfoliação, seguida de uma noite de retinol, seguida de duas noites de hidratação e volta-se ao princípio); a chamada ‘short contact therapy’ (terapia de contacto curto), em que se aplica o retinol normalmente mas retira-se ao fim de meia hora, limpando o rosto e hidratando a seguir; ou a técnica da sanduíche: aplicar um hidratante (por exemplo um sérum de ácido hialurónico), depois o produto com retinol, e de seguida outra vez o hidratante.

Boas (e más) companhias

Joana Nobre adverte: “Duas coisas que nunca se deve fazer quando se aplica retinol: usar a técnica de slugging, em que se isola o rosto com vaselina, porque cria um efeito oclusivo que potencia o efeito irritativo, e aplicá-lo sobre a pele ainda húmida de água ou tónico, porque ao aumentar a penetração pode aumentar a irritação.” Também não deve ser aplicado em conjunto com hidroxiácidos, mas pode ser combinado com outros ativos como péptidos, niacinamida, ceramidas ou vitamina C.


A partir do momento em que é bem tolerado, pode continuar a ser usado enquanto se desejar. Os resultados começam a ser visíveis ao fim de uns 2 ou 3 meses, embora a uniformização da textura da pele e a luminosidade se notem mais cedo.


O retinol que se usa em cosmética é fotossensível (degrada-se sob a luz solar), por isso se usa à noite. E embora não seja fotossensibilizante (ao contrário do ácido retinoico usado em dermatologia) deixa a pele mais frágil face aos UV pelo que o protetor solar é obrigatório.

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