Um estudo realizado este ano pela marca de beleza Dove revela dados alarmantes, que demonstram que a IA tem um longo caminho pela frente face à forma como representa a beleza, a marca percebeu também que 1 em cada 5 mulheres estaria disposta a perder um ano de vida para atingir o seu ideal de beleza e que 6 em cada 10 tem baixa autoestima. Olhando para as camadas mais jovens, a realidade é ainda mais preocupante pois, 1 em cada 5 raparigas até aos 18 anos estaria disposta a sacrificar até cinco anos de vida para atingir o mesmo ideal – demonstrando que o ideal de beleza suplanta a própria vida na perceção das jovens portuguesas.
No âmbito deste estudo, a psicóloga Filipa Jardim da Silva, que tem tido um papel ativo no debate de temas relacionados com o empoderamento feminino, comenta: “As mulheres correm, atualmente, mais risco de fazerem escolhas impulsivas (como procedimentos estéticos) persistindo por um ideal de aspeto físico totalmente irrealista, que as pode colocar em risco até de desenvolvimento de doença mental. Apesar de, até existir consciência do uso da Inteligência Artificial em muitas imagens online (redes sociais, videojogos, publicidade e media digital), o gerar de imagens femininas com recurso à IA cria um padrão de beleza irrealista com impacto negativo na autoestima de muitas mulheres”.
Além destas conclusões, o estudo revela outros dados alarmantes que vêm em linha com algumas conclusões de anos anteriores: 1 em cada 2 mulheres reconhece que existem influenciadoras completamente geradas por inteligência artificial e mais de 70% considera que a forma como as mulheres são retratadas em videojogos, por exemplo, contribui para ideais irrealistas de beleza. Estes são alguns perigos da IA associados à recriação das mulheres, que Dove visa combater no presente e garantir que no futuro não representam uma ameaça tão demarcada para as jovens e para as mulheres.
As influenciadoras têm um papel determinante nos padrões de beleza
Nos dias de hoje, as redes sociais acabam por ter um papel determinante na forma como as mulheres e jovens se percecionam, e na forma como constroem os seus ideais de beleza, em que as influenciadoras acabam por desempenhar um papel de “indicadores de beleza ideal”. No estudo desenvolvido este ano pela marca, foi possível perceber que, até aos 30 anos, 1 em cada 4 mulheres diz ser influenciada a realizar procedimentos estéticos para mudar a sua aparência, após ver os resultados desses procedimentos em influenciadoras. Esta é uma realidade que ainda se intensifica mais nas camadas mais jovens, pois, até aos 22 anos, metade das jovens diz ser influenciada a experimentar os produtos e tratamentos cosméticos que as influenciadoras recomendam nas redes sociais.
Perante estas conclusões, a psicóloga Filipa Jardim da Silva comenta: “Olhando para os vários dados deste Estudo de Dove e enquanto Mulher, Mãe e Psicóloga Clínica, preocupam-me três fatores que constituem uma espécie de triângulo ameaçador da liberdade, empoderamento e saúde física e psicológica das mulheres: 1) exacerbação contínua do aspeto físico da mulher pela sociedade atual e permissão generalizada para se falar sobre o corpo de uma mulher sem permissão; 2) adoção pelas mulheres de comportamentos perigosos e pouco saudáveis em prol de poderem alcançar o seu ideal de beleza, em todas as faixas etárias; 3) difusão nas redes sociais de referências de beleza utópicas, que geram maiores níveis de ansiedade e insatisfação com a autoimagem”.