Se mostrassem à Carmo adolescente o exército de dermocosmética que agora levo nem que só para um fim de semana fora, das duas uma: ou ria à gargalhada, ou revirava os olhos com desdém. Não seria falta de interesse, que já na altura perdia horas a experimentar os cremes e maquilhagens da minha mãe. A curiosidade já cá estava, mas a preguiça ainda ganhava ao rigor das rotinas.
A idade, mais do que disciplina, trouxe-me necessidade. E ensinou-me a fazer a pergunta: o que é que a minha pele precisa?
Para respostas baseadas na ciência e ajustadas a todas as fases, marquei sessão com Sara Fernandes, farmacêutica, especialista em aconselhamento dermocosmético e autora dos E-books ‘Manual do Skincare‘ e ‘Tudo sobre cosmética asiática‘ e do blog Make Down. Afinal, qual a rotina ideal em cada idade?
Adolescência
“Não há altura como a adolescência, em que as alterações hormonais que nos fazem viver emoções violentamente são também responsáveis pelas borbulhas que nos arruínam o rosto. É importante diagnosticar a acne cedo, porque se trata de uma doença e pode ter consequências na própria estrutura cutânea, deixando para trás cicatrizes na pele e na autoestima. É uma excelente altura para começar a estabelecer rotinas de skincare, os simples passos de limpar, hidratar e proteger diariamente com protetor solar já ajudam e previnem muitos problemas.
Em muitos casos, por esta altura, a pele torna-se oleosa e é difícil controlar a oleosidade ao longo do dia. Não é por falta de higiene ou de disciplina, mas simplesmente porque o aumento da secreção de hormonas progestativas leva, por vezes, a um aumento da oleosidade.
Para as curiosas que comecem a dar os primeiros passos na maquilhagem, alerto para uma coisa que gostava mesmo que me tivessem dito aos 16 anos: mais do que maquilhar, desmaquilhar é o que vos vai trazer saúde à pele. Por isso, limpem sempre bem a pele ao final do dia.
Esta é também uma altura de intensas alterações na sudorese e odor corporal, pelo que ter produtos eficazes faz toda a diferença na confiança para enfrentar os desafios.”
20’s
“É uma excelente década para estabelecer hábitos para fazer perdurar as bênçãos do nosso corpo. Pode parecer precoce, mas a pele renova-se de dentro para fora e tudo o que fazemos fica lá registado. Sim, aquele escaldão na praia aos 15 anos e, sim, todas as vezes que não aplicámos protetor ou limpámos o rosto à noite. O nosso futuro cutâneo é uma soma cumulativa de todas as ações que fizemos pela nossa pele.
Aqui, a rotina pode incluir já um sérum em adição à limpeza, hidratação e proteção. A minha sugestão é que seja um sérum de vitamina C durante o dia, para ajudar a combater o stresse oxidativo e as más decisões que naturalmente tomaremos, e à noite um retinol, para ajudar a pele a não se esquecer da juventude. Introduzam um de cada vez e aos poucos, e vamos aqui combinar: o retinol não se usa sem proteção solar no dia seguinte, sim? Obrigatório e não é negociável. Comecem devagar, uma vez por semana e vão incrementando até usar todos os dias. Não misturem demasiados produtos ou princípios ativos porque vão arruinar a vossa barreira cutânea e arranjar problemas.”
30’s
“Esta é a década em que muitas mulheres decidem ser mães, e com esta decisão vem um mini ser humano que exige todo o tempo e atenção da nossa vida.
Durante a gravidez não é recomendado o uso de retinóides, pelo que é um ingrediente que deverá ser suspenso, mas a rotina deve continuar na mesma, dentro das limitações existentes. Troquem o retinol por péptidos (proteínas mais pequenas, nada diferentes das que ingerimos), que ajudam a estimular a pele a produzir fibras elásticas e a retardar o envelhecimento.
A introdução de um creme de olhos pode mudar as vossas vidas. Têm não só ingredientes ativos corretamente doseados para o contorno periocular como o pH adaptado para não irritar a zona. A boa notícia é que há cremes de olhos que ajudam a reduzir as olheiras por privação de sono. Eu sei, soa a milagre, mas experimentem um com vitamina K.”
40’s
“Os 40 são também uma fase em que as preocupações com a idade estão instaladas e a procura por produtos que digam ‘antirrugas’ no rótulo começa. Vamos respirar fundo e pensar: se já estavam a fazer proteção solar, vitamina C e/ou retinol, parabéns, já estavam a fazer cuidados antirrugas! A verdade é que a partir dos 35-40 a pele começa a desacelerar a sua produção de fibras elásticas e até a produção sebácea e começa a precisar cada vez mais da ajuda de cosméticos. No entanto, não caiam no desespero! Quando o creme custa o mesmo que um tratamento de botox/laser/ultrassons, que ajudam a pele nas suas camadas mais inferiores, não vale a pena. Guardem o vosso dinheiro para investir neste tipo de tratamento e informem-se junto do vosso dermatologista/médico estético sobre os tratamentos mais adequados.
Esta é uma boa altura da vida para adicionar um passo extra-hidratante, como um sérum ou essência hidratante, e aumentar a % de retinol, caso tolerem. Por vezes, entre os 30 e os 40 temos também uma coisa fantástica que se chama ‘adolescência 2.0 – o retorno da acne’. Não caiam na tentação de tratar a acne adulta como se de acne adolescente se tratasse porque é muito diferente. Consultem um dermatologista se não conseguirem tratar com cuidados de rosto.”
50’s
“O principal evento deste ato é habitualmente a menopausa. A grande maioria passa por este período da vida nesta década e continua a ser um tabu quase tão grande como a menstruação. A menopausa tem imensas implicações no corpo de uma mulher, devido à diminuição da produção de estrogénio. Isto vai levar a fenómenos que vão desde a reabsorção óssea à perda muscular. Calma, que não se vão ver já – muitas vezes é só na década seguinte –, mas é importante abordá-los e preparar o corpo para receber estas mudanças.
Muitas vezes, a grande preocupação aos 50 são as rugas, mas garanto-vos que muito em breve a flacidez vos vai preocupar mais. É também uma altura em que os cuidados de pele que usavam na década de vida anterior subitamente não resultam! Não, os cremes não mudaram, a vossa pele é que sim! Procurem texturas mais confortáveis e mantenham o uso de um retinóide.”
60’s+
“Aqui, o fenómeno que descrevia anteriormente de perda óssea e muscular está instalado e reflete-se na flacidez da pele. Como podem calcular, um creme de aplicação tópica não tem a capacidade de reduzir significativamente estes problemas, mas certamente ajuda a combatê-los, em conjunto com outro tipo de tratamentos mais interventivos, caso a flacidez gere desconforto na autoestima. Agora, podemos passar aos retinóides mais fortes para ‘acordar’ as fibras elásticas e o metabolismo cutâneo e não é má ideia dar também atenção ao corpo! Ah, e por favor não se esqueçam do pescoço e mãos!
É apenas nesta altura que muitas pessoas se começam a preocupar com cuidados de pele, e muitas outras desistem por ser ‘demasiado tarde’. Asseguro que nunca é demasiado tarde nem demasiado cedo.
Nunca pensem que a batalha está perdida, porque a batalha não é contra o envelhecimento ou contra o tempo, mas sim contra o decréscimo de autoestima e ainda contra acharmos que não somos dignas de um bom creme, de um tratamento ou de nos sentirmos melhores connosco mesmas.