Se eu ganhasse um euro por cada vez que pergunto “não terás a pele desidratada?” quando alguém se queixa de maleitas cutâneas, estaria, querida leitora, a escrever-lhe desde as Bahamas (com uma rica camada de protetor solar, claro). Qualquer problema – enfim, no que a estas questões diz respeito – será de mais fácil resolução se o cenário das hostilidades estiver devidamente hidratado.
Quando seca, a pele perde a sua capacidade de defesa, ficando mais vulnerável às agressões externas. E é uma pescadinha de rabo na boca, porque quanto mais seca estiver a pele, mais a barreira epidérmica está comprometida, menor é a sua capacidade de reter a água e mais seca a pele vai ficar. Não se perca já neste círculo vicioso, isto ainda piora antes de melhorar.
A descida das temperaturas não é, de todo, um aliado. Ora note: quando está frio, os nossos vasos sanguíneos contraem-se, o aporte de nutrientes e oxigénio por via sanguínea diminui, assim como a produção de sebo. Acresce o facto de o vento e a baixa humidade contribuírem também para favorecer a desidratação. Sem esquecer que duches muito prolongados e/ou com a água muito quente podem também colocar em causa a barreira epidérmica, esse escudo protetor que tantas vezes desmerecemos.
Parem o carrossel! Creio que, a este ponto, já está suficientemente (assoberbada e) convencida da necessidade de um bom cuidado hidratante. Mas porquê só um, quando podemos ter três?
TERCETO DO BEM
Os agentes hidratantes são divididos em três categorias principais: humectantes, emolientes e oclusivos. Sob pena de ser esconjurada por químicos e farmacêuticos que me leiam, vou cometer esse crime que é generalizar para simplificar: (dos menos aos mais oleosos) humectantes são hidratantes, emolientes são nutritivos, oclusivos são protetores. Fez sentido?
Humectantes hidratam, emolientes
nutrem
e oclusivos protegem.
Pense numa loção muito fininha e de fácil absorção: trata-se de um humectante. O típico creme hidratante que deixa a pele confortável sem ficar demasiado oleosa? Emoliente. Já o oclusivo é aquele bálsamo bem denso, que assenta na pele, cria uma película e não vai a lado nenhum. Os três têm propósitos diferentes.
Os ativos humectantes, altamente hidrofílicos, possuem a capacidade de atrair e reter humidade na pele. Um bom exemplo seria o ácido hialurónico, conhecido por conseguir reter até mil vezes o seu peso em água. Funcionam muito bem em qualquer tipo de pele, principalmente nas oleosas.
Os emolientes ajudam a suavizar a camada externa. Espalham-se facilmente e é como se preenchessem os espaços entre as células, deixando a pele macia e suave. O grande benefício dos emolientes é a capacidade de oferecer nutrição a todos os tipos de pele, principalmente as mais secas.
Os agentes oclusivos são ingredientes que criam uma barreira física na camada superior da pele e impedem a perda de água para o ambiente. A vaselina, por exemplo. Mais do que hidratar, estes ativos impedem que a pele desidrate.
PLANO DE AÇÃO
Há tempos, ouviu-se muito falar sobre duas tendências de cuidados da pele: skin flooding e slugging. Skin flooding (inundação da pele, numa tradução literal) consiste em combinar camadas de produtos hidratantes. Não se veste também por camadas no inverno? A lógica é a mesma.
Com o rosto limpo, começamos por uma essência hidratante ou água termal. Aqui, como no passo seguinte – o sérum –, é uma boa altura para incluir os agentes humectantes. Recordando, humectantes hidratam, têm alto teor de água. Procure por ácido hialurónico, glicerina ou pantenol.
Depois do sérum, aplique um creme emoliente, com alto teor de óleo, para nutrir. Ceramidas, manteiga de karité e esqualano são boas opções. E agora a leitora pergunta: “Então, mas depois do sérum e creme que outra camada posso aplicar?”
Referi duas tendências, falta-me falar-lhe da segunda. Deriva de ‘slug’ (que, sim, se traduz para lesma), mas tem muito potencial. Slugging é uma técnica que passa por incluir, como último passo da rotina, um agente oclusivo – aqueles muito gordos que criam uma barreira sobre a pele. Vai ficar brilhante? Vai. Gordurosa? Também. Não é o semblante ideal e é por isso que esta técnica é recomendada na rotina da noite.
O propósito desta última camada é criar uma barreira à superfície que vai ‘selar’ tudo o que aplicou antes, impedindo a perda de água para a atmosfera, aumentando a hidratação da pele e consequente penetração dos ativos da rotina.
Não precisa, porém, de aplicar esta camada em todo o rosto. Quando as rugas não eram sequer uma miragem, lembro-me de ler numa revista de beleza que “o segredo da pele jovem de Jennifer Aniston” era aplicar, no final da rotina de noite, uma fina camada de vaselina pura no contorno ocular. Expedita, já na altura usava agentes oclusivos apenas nas zonas que, tendencialmente, mais desidratam. É uma opção, se não adorar a textura untuosa por todo o rosto – mas, por favor, experimente antes de assumir que não vai gostar. É graficamente terrível, bem sei, mas para uma pele desidratada e desconfortável é como afundar no sofá depois de um dia de trabalho.
O ideal será seguir esta rotina pelo menos uma hora antes de se deitar. Ainda que um bom bálsamo crie um filme de gordura para proteger a sua super-hidratante rotina, de pouco lhe serve se acabar tudo na almofada.
Tenha atenção, porque em peles oleosas, acneicas e/ou com rosácea esta última tendência pode ser contraproducente. Nas primeiras, por ser pouco agradável e contribuir para a obstrução dos folículos. Nas segundas, porque pode eventualmente aumentar a vermelhidão da pele.
E O RESTO?
Não vai ter todo este cuidado com a pele do rosto para depois descurar a do corpo. Esconder-se não é uma opção, há que chegar a um compromisso! E o segredo pode passar por escolher a rotina ideal.
Falando do corpo, talvez não faça sentido uma camada completa de um oclusivo. Era bem capaz de terminar a transpirar! A típica latinha azul pode, porém, ser uma boa opção para uma hidratação extra em zonas tipicamente mais desidratadas, como os cotovelos, joelhos e canelas. Para o resto do corpo – e porque compreendo que (seja por ter frio ou preguiça) prefira algo mas fácil de espalhar, sem comprometer a hidratação da pele –, escolha um creme hidratante rico em emolientes. Vão hidratar e nutrir, com a quantidade certa de óleo. Se não suporta a sensação de creme na pele, experimente fórmulas mais humectantes: carregadinhas de água, com texturas mais finas e de rápida absorção, como um gel hidratante.