Espanha tem uma nova Rainha consorte. Ao longo de dez anos de casamento, a então Princesa das Astúrias – uma mulher que dizem (ou se tem mostrado) independente, determinada, cheia de opiniões, algo intempestiva e muito ciosa da sua modernidade ou “normalidade”, com tudo o que isso encerra de mais ou menos positivo – teve momentos em que soube manejar as circunstâncias a seu favor e conquistar admiração contra todas as probabilidades num ambiente marcadamente hostil…e outros não tão felizes.
Não me vou alongar sobre o assunto que tem feito correr muita tinta ao longo da semana (as análises são muitas e com pareceres mais ou menos apaixonados) mas aposta-se que terá uma postura muito diferente da sua antecessora, Princesa de sangue e mulher de outro tempo, mais afeita a um papel tradicionalmente feminino.
Pois é aqui que as subtilezas começam e que a ex jornalista me intriga enquanto espectadora, quando comparada com outras jovens princesas e rainhas de percurso semelhante. Catherine, Máxima, Mary ou mesmo Mette-Marit – esta com um passado bem mais sombrio – aparentam ter-se fundido no ambiente que passou a ser o seu. Umas mais discretas, outras mais espontâneas, parecem ir cumprindo os seus deveres como mulheres de hoje, mas isentas de uma certa atitude de desafio que (verdadeira ou falsa) é atribuída à jovem e bela (porque o é, com mais ou menos retoques) Rainha de Espanha.
A forma de estar de Doña Letizia, como o seu estilo, não é exactamente regular: momentos fantásticos e outros que ficam aquém por um excesso de simplicidade e quase desatenção (propositada?) às exigências do protocolo.
A sua personalidade e os ossos do ofício que são difíceis de perder contribuirão talvez para dar razão aos seus detractores – uma mulher espontânea forçada a reprimir uma personalidade borbulhante poderá sofrer como consequência opouco à vontade que alguns lhe apontam.
Nem todas as mulheres demonstram doçura e meiguice da mesma maneira; é fácil confundir nervosismo ou reserva com arrogância; mas uma Rainha, principalmente uma rainha consorte, deverá estar acima destas coisas e (tarefa difícil!) polir os aspectos menos agradáveis do seu carácter…nem que isso signifique passar por menos “actual” e perder um pouco da “independência” que lhe parece ser tão cara.
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