Cher: 77 anos de vida, 60 de carreira
Batizada Cherilyn Sarkisian LaPierre, é conhecida, no mundo inteiro, por Cher. Com mais de seis décadas de carreira, e a aproximar-se das oito de vida, a artista acaba de lançar mais um álbum de originais. Um bom pretexto para, sem filtros, falar sobre todo o percurso que a trouxe até aqui através de uma entrevista intimista à revista Vanity Fair
Dos palcos, aos ecrãs de cinema e televisão, Cher brilhou em diferentes plataformas. Casou duas vezes, teve dois filhos e, agora, tem um namorado 41 anos mais novo. Detesta o natal, mas é precisamente sobre esta quadra festiva que fala este último trabalho discográfico. “Este álbum de Natal fez-me feliz, quem diria. Fi-lo com artistas de todo o mundo: Michael Bublé na Argentina, Cyndi Lauper em Nova Iorque, Tyga no Dubai. Odeio álbuns de Natal, odeio escrever Natais de Natal, mas acho que este álbum é um dos melhores da minha carreira.“, assume.
O ativismo e a luta pelas causas sociais sempre fizeram parte da vida de Cher. Apaixonada pela terra natal, confessa-se preocupada com a atual e com o rumo que as coisas possam vir a tomar: “Penso que houve tempos maravilhosos na América, décadas em que tudo caminhava diretamente para o futuro, anos de grande progresso. Lembro-me de quando Barack Obama foi eleito: eu estava lá nessa noite, a dançar nas ruas de Washington. As pessoas estavam muito felizes, toda a gente estava feliz. Negros, brancos, homens e mulheres a abraçarem-se e a celebrarem. Toda a gente estava incluída. Não fazia ideia de que, do outro lado da cidade, outros estavam devastados, indignados com o facto de um homem negro estar sentado no lugar mais importante da Casa Branca. Eram como um contra-canto, um fundo musical. Tenho uma amiga que trabalha como infiltrada na CIA e no FBI. Ela impressiona: é uma mulher pequena, ninguém apostaria um cêntimo nela, mas é tão forte que talvez eu gostasse de fazer um filme sobre a sua história. De qualquer modo, um dia confessou-me que se tinha infiltrado num grupo de supremacistas brancos. E eu perguntei-lhe: “Porque é que estas pessoas querem minar a nossa democracia? Porque é que nos odeiam tanto?” Sabem o que ela respondeu? Bem, estas pessoas não se odeiam apenas. Estas pessoas odeiam-se umas às outras. Eles odeiam-se uns aos outros. E quando um deles chega ao poder, então é um desastre. E, infelizmente, um deles fê-lo…”
Cher assume, sem pudores, apoiar o atual Presidente dos Estados Unidos: “admito que sou parcial: admiro Joe Biden e desprezo Donald Trump. Toda a gente critica Biden por causa da sua idade, mas eu acho que ele está a fazer um excelente trabalho porque vi poucos presidentes trabalharem tanto como ele. A política faz parte da minha vida, não podia ser de outra forma.”
A luta por uma sociedade mais inclusiva é uma das grande batalhas de Cher: “Durante algum tempo, admirei muitas pessoas que estavam empenhadas em construir um mundo mais inclusivo, um lugar onde a diversidade de culturas, origens, identidades e orientações sexuais é celebrada, porque celebrá-la é o único caminho a seguir para nós. Mas, de repente, vi como outras pessoas e circunstâncias estavam a destruir tudo isso e a promover a ideia de que, por exemplo, se não somos cristãos e se não somos heterossexuais, estamos errados e temos um problema.
Quando olha para trás há coisas que naturalmente mudaria. E se pudesse “falar” com a Cher na juventude dir-lhe ia: “ouve, Cher, como a vida é uma longa viagem de carro, quando bateres numa parede, não voltes a fazê-lo, muda de direção e, se não conseguires mesmo, pelo menos encontra outra parede. Se olhares para a mesma parede, estás feito.”
Depois disto, confessa que, Sonny Bono, o primeiro marido, foi a sua “pior parede”. “Com o Sonny senti-me muito pequena, precisamente quando precisava de perceber que não era pequena. E a única maneira de ser grande, de me tornar grande, era deixar de bater na mesma parede.”
Aos 77, Cher exibe uma figura que faz inveja a muitas mulheres de 30. Faz exercício físico diariamente mas confessa que já aceitou a passagem do tempo. Faz parte: “A minha mãe era óptima a aceitar a passagem do tempo… E era tão ridícula quando me dizia: ‘Se não prestares atenção à passagem do tempo, a passagem do tempo não te prestará atenção’. É tudo mentira. A verdade é que a passagem do tempo é uma grande burla. Mas não há escapatória e talvez ela tivesse razão: se te deixares vencer pelo tempo, acabou-se. No fim de contas, há que ter em conta que sou um artista, e a um artista não é permitida a passagem do tempo. Toda a gente exige que se tenha uma espécie de saída, uma forma de escapar ao tempo. Como se fosse possível escapar à idade.”
Certa da sua finitude, Cher fala disso sem rodeios. Quando lhe pergunta onde se vê daqui a 10 anos, não tem dúvidas.
“Mas onde é que querem que eu esteja daqui a dez anos? Morta. Eu estarei morta. Claro que te desejo toda a sorte do mundo. Mas já não estarei cá.”
Cher: 77 anos de vida, 60 de carreira