Vinha Velha, Ribeira, Choupal… Estes nomes fazem parte da minha infância e de recordações que deixam saudade. São tudo nomes de terras dos meus avós maternos, onde eu tive a alegria de ir crescendo. Existiam pés na terra, mergulhos em tanques de pedra, fruta acabada de colher e caminhos que levavam a paisagens que me ficaram gravadas. Estranhamente foram estas recordações de uma vida mais ligada à natureza que fui tantas vezes buscar durante os meses mais duros de confinamento e era a elas que regressava sempre que os meus olhos paravam na frase que aqui destaco. Pertence aos Jardins Gulbenkian e está escrita por cima de um banco onde nos apetece sentar e ficar.
Mentiria se dissesse que a pandemia me ligou mais à natureza. Não aconteceu. Talvez porque já acontecera antes, quando algo – muito difícil – na minha vida dividiu o tempo em dois, foi na natureza que encontrei a paz e a força que precisava.
Neste tempo de pandemia, por força das circunstâncias, tenho passado muito tempo sozinha e, se é verdade que o abraço dos que amo me faz falta, também a saudade de mar e floresta me pesam muito.
No final do verão troquei com dificuldade os passeios ao nascer do dia com o mar de um lado e a serra do outro, os finais de tarde na horta e as noites a aprender o nome das estrelas, pelo regresso a Lisboa e a uma casa na cidade. E neste tempo de incerteza e ansiedade, muitas vezes durante as minhas caminhadas nos Jardins da Gulbenkian, disse para mim que se há algo que a pandemia me ensinou é que os sonhos não se adiam e que devemos viver mais de acordo com a nossa essência. A resposta não vem de fora, mas de dentro, e a natureza é o lugar onde eu realmente escuto os meus pensamentos, a minha intuição. Este é o ano em que quero estar mais conectada com a minha essência. A natureza é um condutor para eu o fazer.
Neste início de ano difícil, desejo que todas vós encontrem o caminho para se ligarem ao que vos faz bem.
C.S. Gulbenkian