Se fechar os olhos, consigo voltar à secretária da escola, no dia em que a professora do 2º ano perguntou à turma: “Qual é o maior órgão do corpo humano?” Foi o mote perfeito para crianças entusiasmadas começarem a gritar coisas como “pulmões!”, “intestino!” ou “coração!”. A professora recuperou-nos o foco quando disse: “Estão todos errados, o maior órgão do corpo humano é a pele.” Suponho que foi o surpreendida que fiquei que fez com que nunca mais me esquecesse disto. Sim, a pele é um órgão e é o maior que temos.
Se quiser continuar a recordar conhecimentos do Ensino Básico, a definição de órgão há de ser qualquer coisa como “um conjunto de tecidos que contribuem para a mesma função”. No caso da pele, uma função muito nobre: a proteção.
A pele funciona como uma barreira física e bioquímica que nos defende do mundo exterior. São os vasos sanguíneos da pele que regulam a temperatura corporal. Protege-nos da luz solar e dos raios ultravioleta, previne a perda de água e impede a entrada de micróbios e agentes químicos indesejados. É o habitat das células do sistema imunitário que combatem infeções. Está sempre pronta para tratar agressões diárias como cortes, hematomas, queimaduras ou esfoladelas (por esta última, a Carmo do 2º ano agradece eternamente).
Por muito que, provavelmente, passe demasiado tempo ao espelho a pôr-lhe defeitos, a pele cumpre, todos os dias, sem exceção, a sua função primária: proteger. Depois de reconhecer e agradecer isso, pode seguir para o motivo que fez com que abrisse este artigo já que, não, este ainda não é o princípio básico para tratar a pele como ela merece (mas podia).
Rotina diária
Porque dormir sem lavar os dentes parece tão chocante, mas dormir sem lavar e cuidar da pele não parece o fim do mundo? A pele é um órgão biológico. O seu tratamento não está apenas relacionado com questões de beleza, mas também com questões de saúde. Faça disso um hábito. Não tem de demorar mais do que 2-3 minutos. Pode demorar mais, se tiver o tempo, a vontade e o gosto.
Há mínimos olímpicos: limpar, hidratar e fotoproteger. Todos os dias. À noite, um gel de limpeza ou equivalente e um creme hidratante. De manhã, basta usar exatamente os mesmos produtos, acrescentando um bom filtro solar. Pode ser assim tão simples. Havendo vontade de especializar os cuidados, podemos adicionar um quarto passo à rotina: tratar.
Uma amiga falou muito bem de um sérum com ácido-hialurónico e quer experimentar? Aquele retinol que toda a gente está a testar e que “apaga os primeiros sinais da idade”? O tónico com AHA que dizem que faz maravilhas pela pele? Estamos a falar de três ingredientes ativos (ingredientes responsáveis por suprir as necessidades da pele), uns mais perigosos do que outros, que podem funcionar muito bem em determinadas peles e muito mal noutras, dependendo das necessidades específicas. Uma coisa é certa: se o nome do produto inclui palavras que não sabe o que significam, não deve usá-lo. Tem ingredientes que não conhece? Não deve usá-lo. Tem ativos que não sabe exatamente para que servem? Não deve usá-lo.
A forma que melhor resulta comigo e aquela que recomendo sempre é escolher os cuidados básicos (limpeza, hidratação e fotoproteção), tendo em conta o tipo de pele e os cuidados suplementares, de tratamento, segundo a sua condição.
A diferença entre tipo de pele e condição da pele
Estes termos são comummente usados como se significassem a mesma coisa, mas perceber a sua diferença simplificou e ajudou a estratificar o meu conceito de cuidados diários da pele.
O tipo de pele é, essencialmente, a classificação da pele com que nascemos. É genético, é hereditário e é, muito provavelmente, o que classifica a nossa pele em toda a nossa existência. Por outro lado, a condição da pele é, geralmente, um sintoma do nosso tipo de pele ou resultado do nosso estilo de vida. É algo (esperemos) tratável, mutável e temporário.
Tipo de pele
Helena Rubinstein não tinha ideia do impacto que teria na indústria dos cuidados da pele quando, há mais de 100 anos, a categorizou em três tipos: “normal”, “oleosa (over-moist)” ou “seca (dry)”, sendo cada tipo determinado pela quantidade de secreções produzidas pelas glândulas da pele.
A classificação de Rubinstein continua a ser bastante atual no que toca a tipos de pele. No entanto, hoje em dia, a classificação mais consensual inclui 4 tipos:
Pele seca: Como resultado da insuficiência de sebo, faltam os lípidos de que necessita para reter a hidratação e construir um escudo protetor contra as influências externas. Tem tendência para a inflamação, descamação e sensação de pele repuxada. Os poros são pequenos, mas há linhas visíveis e a pele pode ser áspera.
Pele oleosa: Uma pele que, tipicamente, produz demasiado sebo. Tende a ter poros mais visíveis, a pele é brilhante ou espessa, e tem tendência a criar pontos negros e borbulhas.
Pele normal: Tem uma produção de sebo equilibrada. O tamanho dos poros não é um problema e a textura da pele é boa.
Pele mista: É uma mistura de tipos de pele (a mais comum atualmente). Tipicamente mais oleosa na zona T (testa e nariz) e mais seca nas bochechas.
Condição da pele
A condição da pele diz respeito a algo temporário (consequência do nosso estilo de vida e, provavelmente, com solução), ou algo a longo prazo (que resulta principalmente de questões de saúde ou doenças hereditárias).
Exemplos de condições da pele são: acne, sinais de envelhecimento, desidratação, eczemas, rosácea, pigmentação… Questões da pele que temos todo o gosto em tentar tratar e resolver, lembrando que se representarem um problema – quando são demasiado graves ou influenciam a qualidade de vida – deve sempre consultar um médico especializado.
Escolher os produtos
A lógica é fácil: os produtos que usa todos os dias devem ser simples e indicados para aquilo que a pele é todos os dias. Num dia de preguiça ou numa altura em que a pele esteja mais reativa, se usar apenas os cuidados básicos, sabe que fez um bom trabalho. Com os cuidados suplementares, trata de condições específicas que a incomodam em determinada altura.
Tratar
Tónicos, brumas hidratantes, máscaras, séruns… Há todo um mundo por descobrir. Conhecendo a sua pele e as suas necessidades sabe como tratá-la. A pele está desidratada? Se calhar faz sentido usar um sérum com ácido hialurónico. Começa a notar sinais de envelhecimento? Está na altura de introduzir uma vitamina A como o retinol. A pele está baça ou com uma textura mais irregular? Faz sentido usar um esfoliante químico como um tónico com AHA. É tarde, está exausta e só quer dormir? Volte ao básico. Abusou de determinado ativo e a pele está sensibilizada? Volte ao básico.
O (1) sérum Hyalu B5 Hyaluronic Acid da La Roche-Posay (€33,95) é um exemplo de um sérum com ácido hialurónico, uma substância naturalmente presente no corpo que atrai e retém a água. Pode ser aplicado de manhã e/ou à noite, com o rosto húmido (para que absorva e mantenha humidade na pele).
Um ativo interessante para a rotina da manhã? Vitamina C, um dos antioxidantes mais testados. Ótimo para combinar com o protetor solar, uma vez que vai ajudar na fotoproteção e na prevenção de manchas. O (2) sérum SVR Ampoule Anti-Ox [C] (€35,90) tem uma boa estabilidade (produtos com vitamina C oxidam com facilidade) e uma boa relação qualidade-preço.
O (3) sérum Niacinamide da The Inkey List (€7,90) é uma opção bem económica para incluir niacinamida na rotina, um bom ativo para peles com acne, uma vez que ajuda a regular a produção de sebo, as manchas e a vermelhidão.
Um dos ativos mais populares dos últimos tempos: retinol. Um derivado da vitamina A, ótimo para tratar sinais da idade. O que tem de eficaz tem de perigoso. Deve ser usado com cuidado, de forma espaçada, para dar tempo à pele de aprender a lidar com ele. A marca The Ordinary é uma boa opção, por ter disponíveis várias concentrações. Comece com o (4) Retinol Serum 0.2% in Squalane (€4,95), com a concentração mais fraca.
O (5) tónico Glow Tonic da Pixi (€11,45) é um dos mais conhecidos esfoliantes químicos. A fórmula contém 5% de ácido glicólico (conhecido por estimular a produção de colagénio) e uma mistura de aloé vera, ginseng e extratos botânicos.
Estes são alguns exemplos de cuidados complementares, de tratamento, para condições da pele específicas. Não precisa de ter todos, não tem de os usar todos os dias nem ao mesmo tempo. A sua utilização depende de vários fatores, principalmente da condição da sua pele. Não deve misturar demasiados ingredientes ativos sob pena de criar um cocktail demasiado perigoso para a sua pele. Pode ter mais do que um e ir variando. Aplicá-los todos ao mesmo tempo é meio caminho andado para acordar com a pele sensível, irritada e a descamar. Por isso, aconselho a manter a limpeza, hidratação e fotoproteção o mais simples possível: 1) para garantir que as cumpre; 2) para interferir o mínimo possível com os ativos dos produtos de tratamento.
Hidratar
Claro que não está errado usar um creme hidratante indicado para uma condição da pele específica. Eles existem, podem ser usados e não há nenhum pressuposto de que não vão funcionar. Se não está pronta para investir (tempo ou dinheiro) num quarto passo na rotina, são uma boa opção. Mas, querendo tirar partido da ciência da dermocosmética e usar vários ativos, este é só o meu conselho para nunca perder o fio à meada e não ter de ir a correr, às tantas da noite, à farmácia de serviço, porque usou três dias seguidos um creme novo com retinol e a sua pele está a pedir socorro.
A função máxima de um creme hidratante é… hidratar. Precisamos de uma fonte de hidratação diária, indicada para o nosso tipo de pele: um creme que a nossa pele receba bem todos os dias. Manter a hidratação simples é o passo mais importante para ter uma pele forte e pronta a receber outros produtos de tratamento.
A (6) loção facial hidratante da CeraVe (€11,80) é uma boa opção de hidratação, principalmente para peles secas. A sua fórmula contém três ceramidas essenciais e ácido hialurónico, que hidratam e restauram a barreira natural da pele, e ainda niacinamida.
Peles oleosas também precisam de hidratação, sob pena de produzir ainda mais óleo para compensar a falta dele. Vão, no entanto, muito provavelmente, preferir texturas mais líquidas e fluidas, como a do (7) creme Hyséac 3-Regul da Uriage (€14,81).
O (8) creme Natural Moisturizing Factors + AH da The Ordinary (€7) é uma opção simples para peles normais.
Uma pele mista vai, como uma pele oleosa, reagir melhor a texturas líquidas. O (9) Gel-Creme Aqualia Thermal da Vichy (€20,57) é bastante hidratante para as zonas mais secas, sem pesar demasiado nas zonas oleosas da pele.
Limpar
Tão ou mais importante do que a hidratação é a limpeza. Não vai querer aplicar os restantes produtos escolhidos a dedo numa pele com restos de maquilhagem, poluição ou excesso de sebo.
Se usa maquilhagem, um desmaquilhante antes da limpeza pode facilitar. O (10) bálsamo de limpeza Take the Day off da Clinique (€31), por ter uma textura oleosa, vai derreter até a máscara de pestanas à prova de água mais teimosa.
Um produto de limpeza com uma textura oleosa, por ser menos agressivo, pode ser a melhor opção para as peles mais secas. O (11) Essential Cleansing da ISDIN (€27,40) tem uma textura oleosa que se transforma numa emulsão quando entra em contacto com a água.
Por produzirem bastante sebo, as peles oleosas precisam de uma limpeza bem profunda. Sem exageros, não queremos a pele completamente despida dos seus óleos naturais. O (12) gel de limpeza Sebiaclear da SVR (€13,90) não é demasiado agressivo.
O produto que usamos para fazer a limpeza é o que menos está em contacto com a pele. Vamos enxaguar de seguida, todo e qualquer ativo que o produto possa ter vai acabar a ir pelo ralo. Este (13) gel de limpeza Micelar da Garnier (€4,99) é uma boa opção para uma limpeza descomplicada e eficaz.
Fotoproteger
Provavelmente, a recomendação que mais vezes repito: protetor solar todos os dias (SPF inferior a 30 não conta). A luz solar é o maior fator de envelhecimento da pele. Se chegou a este ponto do texto é porque tem interesse em cuidar da sua pele. O melhor tratamento é a prevenção. O mercado evoluiu, há vários protetores solares que não deixam aquele filtro branco desagradável. A quantidade recomendada de protetor solar é de 2 mg por cm quadrado de pele, o que equivale a três dedos para rosto e pescoço. É só espalhar bem e ele vai desaparecer na pele – ao contrário das manchas que vão, garantidamente, aparecer se não o utilizar.
Das linhas de fotoproteção mais conhecidas do mercado, o (14) Anthelios Invisible Fluid SPF50+ da La Roche-Posay (€20,45) tem uma textura praticamente líquida, que se espalha fácil e rapidamente na pele.
O (15) Capital Soleil UV Age Daily SPF 50+ da VICHY (€23,97), também com uma textura extremamente fluida, é uma boa opção para peles com tendência a problemas de pigmentação.
Simples, fluido e eficaz, o (16) Super Fluid FotoProtetor da Babe (€18,45) tem um SPF50 e é indicado para todos os tipos de pele.
Sensibilidade
A sensibilidade pode ser transversal nesta categorização de tipo/condição de pele. Pode ser genética (e isso reflete-se durante toda a vida) ou pontual (exposição à poluição – no campo é, obviamente, diferente da cidade -, ou o uso excessivo de produtos demasiado fortes – que alguém, curioso, decidiu experimentar ao mesmo tempo). A sensibilidade da pele deve ser considerada na escolha de todos os cuidados da pele.
É importante limpar uma pele sensível, sem comprometer ainda mais a sua barreira. Este (17) Sensifine da SVR (€14,10) é um bálsamo desmaquilhante em óleo, formulado também para reduzir a irritação.
O (18) Mesoestetic Skin Balance (€68,60) é um sérum com uma ação calmante e apaziguante, com aloé vera e panthenol, que vai reforçar o sistema de defesa da pele, a microbiota e a função de barreira.
Uma pele sensível precisa de um creme hidratante suave, que proteja e acalme e que diminua as vermelhidões. O (19) Sensitive Crème Apaisante Réparatrice da Eisenberg (€116) é uma boa opção.
Desidratação e secura da pele
A desidratação e secura da pele são fatores muitas vezes difíceis de distinguir, uma vez que têm consequências muito semelhantes. No entanto, uma pele desidratada é uma pele com falta de água e que precisa de hidratação, enquanto uma pele seca é uma pele com falta de óleo que, por sua vez, precisa de nutrição. Sim, uma pele oleosa pode estar desidratada. As glândulas sebáceas produzem demasiado óleo, mas a pele não consegue reter a água que precisa. Uma boa forma de distinguir é com a aplicação da base. Numa pele desidratada, a base vai não vai aderir tão bem. Tem uma maior tendência para ficar à superfície, adquirindo a textura do método que usa para a aplicar (como os riscos de um pincel). Por outro lado, uma pele seca vai absorver todos os óleos presentes na base, tornando-a também difícil de espalhar, mas porque é absorvida e desaparece em determinadas zonas (as que estiverem mais secas) dando um aspeto manchado.
Uma pele desidratada vai agradecer um cuidado complementar especializado. Se a sua pele tem tendência a desidratar, tenha sempre em casa uma máscara rica em água como esta (20) Mask SOS Hydra Fraicheur Hydratant Intense da Clarins (€41,50).
A (21) Máscara de Noite com Água Termal da Uriage (€16,95) tem uma textura gelatinosa, também indicada para peles mistas ou oleosas, e pode ser utilizada durante toda a noite. O ácido hialurónico vai proporcionar uma hidratação profunda ao mesmo tempo que fortalece a barreira natural da pele.
A (22) pure HA (€76,24) é uma máscara facial líquida com 1,8% de ácido hialurónico, uma das maiores concentrações disponíveis.
*Os preços e pontos de venda dos artigos anunciados são representativos. Os preços podem variar e os produtos podem ser adquiridos em diferentes lojas (físicas ou online).
#emBeleza
Tudo o que precisa de saber em Beleza, pela jornalista Carmo Lico. Pele, perfumes, maquilhagem e cabelo: as novidades, os indispensáveis e os que o vão passar a ser, assim que os conhecer.
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