Agora que já consegui a sua atenção com este título (os adolescentes é que fazem muito isto, chamam-lhe ‘clickbait’), podemos falar sobre as notícias que têm corrido todos os meios de comunicação.
Culpam o ‘TikTok’ pela tendência crescente: cada vez mais e cada vez mais novos, os jovens são bombardeados com informação que os fazem temer as tão difamadas rugas. O resultado? A vontade de criar rotinas de cuidados da pele complexas, à semelhança das que veem as meninas mais velhas fazer.
Claro que não é normal termos adolescentes preocupados com envelhecimento. Mas será que é mesmo essa a questão? Não estaremos apenas a assistir ao que acontece a cada geração, onde é perfeitamente normal que uma criança queira replicar o comportamento de um adulto?
No meu tempo não era assim. Ou será que era?
Se, hoje, uma criança, depois de ver um vídeo no ‘TikTok’, suplica aos pais por aquele novo creme que toda a gente tem, eu, com 10 anos, depois de ver o filme ‘Coyote Bar’, ia para a frente do espelho ensaiar os passos de dança que haveriam, achava eu, de fazer de mim uma estrela, em cima de um balcão de um bar. E, depois disso, ía à gaveta de maquilhagem da minha mãe, experimentar todos os batons e sombras, para desespero dela que via os seus produtos cheios de dedadas e a minha pele irritada de tanto a esfregar.
Claro que há um limite para o comparável que estas situações são. E claro que usar cremes que não são indicados para o tipo de pele pode causar irritações com potencial para marcar para sempre a pele – em crianças e sem ser. Mas porque não tiramos proveito desta situação e, em vez de um “isso não é para tua idade” enquanto fechamos a porta na cara, não nos sentamos ao lado destes jovens e lhes explicamos o que faz e não faz sentido usar?
Rotinas de beleza ou saúde?
Cuidar da pele é uma questão de saúde. A pele é um órgão e, por sinal, é o maior que temos. Lamento pelos que choco quando digo isto mas, para mim, uma rotina de cuidados da pele é tão importante como lavar os dentes. E uma rotina de cuidados da pele inclui o indispensável: limpeza, hidratação e fotoproteção. A necessidade da limpeza é autoexplicativa (principalmente no caso de adolescentes, que começam, nesta fase, a tantas vezes desregulada produção de sebo). Hidratar a pele é tão importante como hidratar o corpo: promove o seu bom funcionamento. E, por último, mas não menos importante, proteger a pele da radiação solar evita as tão temíveis rugas, sim, mas também evita o ainda mais temível cancro de pele.
Será que os adolescentes estão mesmo interessados em evitar as rugas? Ou será que querem apenas construir uma rotina de cuidados da pele, porque veem as meninas na internet a fazê-lo, e referem os ‘cuidados antienvelhecimento’ só porque querem fazer e pensar como nós? Porque não foi isso que nos venderam desde sempre? Que usamos cremes na cara para prevenir as rugas?
Ter as crianças interessadas nesta temática é a oportunidade perfeita para quebrar o sistema que nos leva a nós, adultos, a este discurso tendencioso sobre como evitar as rugas. Porque toda a gente sabe que as crianças são pequenos mimos, que repetem tudo o que nos ouvem dizer (às vezes só pensar).
Alinhamento perfeito
Dizia-me há dias a Joana Soares, Diretora de Marketing do Grupo NAOS, que, infelizmente, funciona melhor comunicar produtos com proteção solar fazendo referência à prevenção dos sinais de idade, do que à prevenção do cancro de pele. E ainda que isto seja preocupante, não me surpreende. Para mim, o maior problema esteve sempre aqui.
Texto sim, texto não, dou voltas e voltas à narrativa para conseguir fugir a conceitos como “antienvelhecimento”. O que é isso do antienvelhecimento? É voltar para trás no tempo? Nós não queremos antienvelhecer, não somos o Benjamim Bottum. E “pele madura” também não é a opção ideal. O que é que vem depois da pele madura? A pele podre?
Temos de chamar as coisas pelos nomes e deixar cair a conotação negativa que os anos e anos de marketing vincaram nas nossas mentes, ainda mais do que as rugas vincam a nossa testa. Envelhecer é um luxo. Não vou ser hipócrita e dizer que os sinais de idade não me incomodam. Incomodam-me tanto como as dores nas costas que também hão de vir. E da mesma forma que vou ao ginásio para garantir que vou envelhecer da melhor forma nessa categoria, tenho uma rotina de cuidados da pele, de manhã e à noite, como forma de garantir que a minha pele vai envelhecer tão bem como, por exemplo, os meus músculos.
Envelhecer em bom
Repito: cuidar da pele é uma questão de saúde. E envelhecer é uma consequência que se reflete em todo o corpo, não só na pele. Preocuparmo-nos com isso não tem de ser uma coisa má, se pelos motivos certos. As novas gerações podem (e devem!) começar, desde já, a preocupar-se com envelhecer bem, de forma saudável. Porque da mesma forma que lhes vendemos a lengalenga de “uma dieta rica e variada e exercício físico”, podemos perfeitamente acrescentar – exatamente pelos mesmos motivos – uma rotina de cuidados da pele ajustada e personalizada à idade e necessidades de cada um.
#emBeleza
Tudo o que precisa de saber em Beleza, pela jornalista Carmo Lico. Pele, perfumes, maquilhagem e cabelo: as novidades, os indispensáveis e os que o vão passar a ser, assim que os conhecer.
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