Sou a primeira a admitir que não sou a grávida mais entusiasmada da história e nem sinto a obrigação de o ser. Também não tenho a necessidade de pintar uma fotografia perfeita desta fase só para agradar aos outros ou corresponder às narrativas, muitas delas forçadas, que vejo nas redes sociais.
O meu primeiro trimestre foi um caos a nível emocional, marcado pelas oscilações de humor. Tanto chorei por não ter esparguete em casa como por ter receios em relação ao futuro, sendo que passei muitas noites em claro a pensar em todas as mudanças, atuais e futuras, que ter um filho representa. A dada altura, cheguei a acreditar que se tratava de um quadro clínico de depressão na gravidez, mas, felizmente, não foi o caso.
O segundo e o terceiro trimestres trouxeram-me muita tranquilidade e a tão desejada adaptação às mudanças biológicas e psicológicas que uma gestação acarreta. No entanto, durante o processo, cheio de altos e baixos, nunca tive problemas em verbalizar os meus sentimentos, fosse num dia bom ou mau. Não posso negar que fiquei surpreendida com o facto de algumas mulheres parecem mais interessadas em dizer-me o que sentir, o que fazer e como fazê-lo do que em colocar a escuta ativa em prática. Ou seja, ouvir como eu me sentia não era tão importante como dar conselhos não solicitados e intrusivos.
Curiosamente, as minhas experiências menos agradáveis foram com mães. Valeu-me a famosa inteligência emocional — arriscando parecer presunçosa, acredito que domino minimamente essa capacidade —, que me ajudou a perceber que todas elas projetaram, de alguma forma, os próprios medos e inseguranças nessas interações. Contudo, tenho a consciência de que nem todas as grávidas lidam bem com a falta de empatia vinda de terceiros.
Eis 3 comentários estúpidos que ouvi de outras mulheres durante a minha gravidez e os motivos para ser boa ideia não darmos ouvidos a observações do género.
“Estás a ter uma gravidez santa”
Ouvi esta frase em duas ocasiões, de duas pessoas diferentes, e isso prova que o bem-estar emocional continua a ser desvalorizado, inclusive durante a gravidez. A ausência de náuseas, de vómitos e de outros sintomas físicos associados a esta fase não é sinónimo de uma gestação “santa”. Muitas mulheres têm episódios de ansiedade e depressão, acompanhados de vergonha, por acreditarem que não deviam estar deprimidas. Afinal de contas, as grávidas têm de estar sempre felizes (só que não).
Sim, a saúde física da mãe e do bebé deve ser valorizada e é natural que os entes queridos desejem que corra tudo pelo melhor nesse campo, porém está na hora de interiorizarmos que relativizar os problemas dos outros, mesmo que seja numa tentativa de fazer com que eles se sintam melhor, não é nada bonito.
“As palavras têm peso e os bebés sentem tudo”
É engraçado como falar abertamente sobre de gravidezes não desejadas ou planeadas provoca um certo desconforto em algumas mulheres. E é daí, de um lugar de desconforto, que, aparentemente, surgem os conselhos mais estúpidos e confusos.
Esta pérola foi surpreendente porque veio de alguém que fez terapia durante um bom tempo. Quer isto dizer que pagou por um tratamento que visa ajudar com uma ampla variedade de doenças mentais e dificuldades emocionais, e, suponho eu, falou dos seus sentimentos com um profissional nessas sessões. Ainda assim, conseguiu dizer-me qualquer coisa como “reprime os teus sentimentos, porque os bebés sentem tudo”. Então, se eu não falar sobre o que me incomoda e ficar só a sentir-me incomodada, isso não vai prejudicar a criança? Vá-se lá entender.
“Tenha atenção ao peso, se não ninguém lhe põe as mãos em cima”
Esta observação foi feita por uma médica e deixa claro que não podemos limitar o conceito de inteligência ao sucesso escolar. A frase é problemática a vários níveis, começando pela presunção de que eu sou mãe solteira. Criar um filho sozinha não tem problema nenhum, mas pareceu-me mesmo uma associação mulher-negra-mãe-solteira — e olhem que eu não sou nada de jogar a cartada da raça.
Depois, há a questão de esta profissional de saúde, pelos vistos, acreditar que as mulheres devem ter atenção à balança para não acabarem sozinhas. Não é por nada, mas existem dramas bem maiores na vida do que nenhum homem quer pôr-nos as mãos em cima. Por fim, surge a ideia implícita de que o facto de uma gestante ser (ou estar) gorda significa que tem a saúde em declínio ou está numa via rápida para uma gravidez cheia de complicações, o que não corresponde necessariamente à verdade. Anda por aí muito fat-shaming disfarçado de preocupação.