“E Lola?”, responde a minha filha quando me ouve pronunciar a palavra bimba. Confesso que começo a ter alguns problemas de comunicação com os meus filhos, dois debutantes na adolescência. O seu hobby mais recente é fazer chacota da mãe sempre que acham que estou a falar “português antigo”. A minha filha, por exemplo, vai adotando todo um léxico de português do Brasil, a denunciar sessões contínuas e clandestinas no YouTube. “O quê, não sabes o que é trollagem, mãe?” Vem-me à cabeça o meu melhor português de Portugal, que não verbalizo, para evitar o ar de regozijo dos meus filhos perante as minhas interjeições com cheiro a mofo.
Mas voltando ao português do Brasil, tenho de admitir que sofro da chamada ‘memória curta’, já que faço parte de uma geração que cresceu a ver as telenovelas da Globo, numa altura em que o país parava para ver o último episódio da mais recente trama brasileira e que o início de ‘Gabriela’ ditava o princípio do serão para graúdos e a hora de ir dormir para miúdos.
Talvez a única diferença é que, na altura, a minha mãe via as mesmas telenovelas que eu – pelo menos enquanto eram só dois canais –, não estranhando por isso quando eu falava com um sotaque ligeiramente mais aberto.
Hoje temos muito a mania de dizer que somos muito mais próximos dos nossos filhos, mas o mundo não só é maior e mais complexo como o ritmo é alucinante. Se não temos de percorrer uma distância maior para colmatar as diferenças, temos de o fazer num sprint. Aos 50, na melhor das hipóteses, continuamos a ser ‘velhas’ aos olhos deles, por mais atualizações que façamos ao nosso sistema operativo.
Quando perguntei ao meu filho de 14 anos se achava que tinha uma mãe velha, ele ainda tentou amortecer a sua verdade, mas não a omitiu: ‘‘Nova também não és!” Também então, aos meus olhos, a minha mãe sofreu um envelhecimento precoce. Está bem que o brushing semanal não ajudava, mas hoje faço o exercício de a recordar com a minha idade e de como eu a via – e como me ria com palavras como ‘tabefe’! Isso ajuda a pôr tudo em perspetiva, embora não atenue a dor de alma.
No outro dia, à hora do jantar, falava – ou tentava falar – com o meu filho a propósito de um outro rapaz lá da escola.
– Ele é um bocado esgrouviado, não é?
– Hummm, não sei…
Não estranhei o olhar indecifrável e a resposta lacónica, nestes dias universal, qualquer que seja a pergunta. A dúvida chegou um minuto depois.
– O que é esgrouviado?
Chiça-penico, parece que, afinal, a bimba sou eu! (Lola, não te metas…)