Corro o risco de parecer (ainda mais) maluquinha), mas há muitas vezes que faço um género de versão cinematográfica das cenas que acontecem na minha vida. Às vezes imagino-me, por exemplo, a saltar para cima de uma mesa e desatar a cantar e a dançar, muito à laia da série ‘Fame’ (é assim que denunciamos sempre a nossa idade). Talvez seja assim que me imagino a ser mais assertiva: a minha cabeça até pode estar a acenar mas dentro dela passa-se algo insurrecto ou moralista que põe todos os pontos nos is com muito estilo (ok, deixamos cair as perneiras neste take). Quando não canto e danço, digo para dentro as coisas mais estapafúrdias, como se tivesse apagado todos os filtros nas definições da minha capacidade oratória.
Antes de sairmos para entrevistar Joana, Maya e Teresa, eu e a minha colega Gisela imaginámos de forma algo infantil “agora chegávamos lá e elas diziam que não gostavam nada umas das outras e que eram tudo menos amigas”. Rimo-nos e usámos esta cena alternativa como desbloqueador de conversa enquanto na vida real nos sentávamos à frente das três simpáticas atrizes.
Desta vez até pudemos confessar, mas a maior parte das vezes batemos palminhas por não haver por aí um Mel Gibson a intrometer-se nos nossos pensamentos (vá lá, o filme já é de 2000!). Talvez os meus sejam mais produzidos ou melodramáticos mas a verdade é que não deve haver ninguém no mundo – vivo – que diga tudo o que pensa.
Como é natural, a minha filha adolescente (sim, enviem ajuda), está agora a começar a descobrir verdadeiramente as pessoas e a aprender a relacionar-se com elas. Tento orientá-la no auge dos meus desorientados 40s, mas infelizmente é um caminho que ela vai ter de fazer sozinha, muito por tentativa e erro, com todas as alegrias e desgostos a que todos tivemos direito. No outro dia perguntava-me, ‘mãe, se uma amiga me perguntar se gosto do seu corte de cabelo novo e eu achar que ela está horrível, digo a verdade?’. Pois… A resposta é ‘sim’ e a pobre miúda fica com uma crise de autoestima que pode condená-la a uma vida inteira de relações tóxicas e pôr em causa todo o seu futuro. (Será que a minha filha já consegue perceber o significado de pergunta retórica?) A resposta é ‘não’ e passo a ideia de que devemos sempre dar a resposta que os outros querem ouvir. Hesito e penso que seria mais fácil a minha filha sacar da guitarra num tom delicodoce e entoar uma cantilena sobre a subjetividade do belo.
Não vos irrita quando cortam o cabelo e alguém diz ‘estás muito melhor agora!’. Andámos horríveis e ninguém nos disse nada?
É isso! Devemos sempre dizer a verdade aos amigos.
Por esta altura já estou em cima da bancada da cozinha, colher de pau em riste, com a mesma convicção do Freddy. Quando chego ao refrão, já todos cantamos em uníssono, eu, o meu marido, todos os meus dois filhos e, claro, o cão. Friends will be friends!
– Mãe, porque trocaste a pulseira que a Carlota te deu? Quando recebeste disseste que era linda!
Só mais uma, só mais uma!