O Mundial de Futebol ainda agora acabou e já dou por mim a ressacar os jogos diários. Eu gosto de futebol. Não que domine os nomes – só o do eterno Bento na baliza do Benfica – ou números de todos os jogadores – venham mais 7! – ou que veja os jogos de todas as jornadas, mas facilmente me apanham a ouvir o relato da TSF no carro se porventura a partida me interessa e estou em trânsito. E confesso que por não ter acesso aos canais fechados da especialidade, já acompanhei jogos das formas mais bizarras, naquelas emissões em podem transmitir tudo menos o que se está a passar dentro de campo: já passei 90 minutos a ver marmanjos, eles sim a ver e a comentar o jogo, ou focada exclusivamente nas reações de Sérgio Conceição e a treinar a arte de decifrar vernáculo nos seus lábios.
E depois há os programas que fazem uma autêntica novela de tudo isto e que atingem o estatuto de puro entretenimento. Gosto de passar a ferro – essa outra tão linda modalidade – a ouvir os senhores comentadores da bola. (Diria que já estou em treinos para me alienar do mundo num possível regresso de Trump).
Mas descobri que tenho de ter cuidado ao debitar este tipo – ou qualquer outro tipo – de informação a ver futebol junto dos tais clubes masculinos mais conservadores – ainda há alguns clubes da bolinha por aí, em que menina não entra quando se juntam em bandos, alcateias ou qualquer que seja o coletivo com que se identificam. Só depois de me infiltrar num é que percebi que há certos denominadores comuns no comportamento dos seus membros (altura do Sir Herman Attenborough saltar do meio da vegetação para descrever alguns dos traços mais característicos desta espécie).
Por fim, não será possível tirar quaisquer ilações sobre o resultado final do jogo com base nas manifestações emocionais destes seres. Dessa vez, a nossa equipa ganhou – e era um derby! – mas naquela sala, onde só eu deitei os foguetes, reinava um silêncio absoluto. “Porque, sim, repara, saímos vitoriosos mas estivemos muito mal em campo.” Mas estão a brincar comigo, então e a festa? Se houvesse um VAR na vida real, eu iria certamente ver a repetição para ter a certeza do que vi e ouvi já fora de jogo.
Aproveito para meter aquele trocadilho futebolístico, tão oportuno como enervante, ‘vão-se Catar!’ Eles certamente vão, mas pelos visto eu irei com muito mais gosto.