
Queria aproveitar esta oportunidade para endereçar um pedido especial às marcas de beleza: podem pensar mais nas presbíopes, por favor? O problema são as embalagens exatamente iguais, diferindo apenas numa palavra – champô ou condicionador, dia ou noite – cujo tamanho vai diminuindo na proporção inversa à minha idade.
É que alguém consegue lavar a cabeça ou aplicar creme no rosto com os óculos na fronha?
Uma coisa que podia funcionar como elemento diferenciador era estes frascos terem tampas de cores diferentes, embora saiba que isso fuja à tendência marcadamente minimalista destas marcas. Claro que depois ia ficar meia hora para me tentar recordar se a amarela pertencia ao produto X ou Y. Lá ia eu tentar arranjar associações inúteis de palavras para me lembrar da função de cada embalagem – amarelo e amaciador, ambas começam com um A! No dia em que precisasse de recorrer à cábula mental só me ocorreria o termo condicionador e ficaria séculos à procura de uma tampa castanha, que em minha casa podia bem pertencer ao frasco de detergente para WC que ficou esquecido na prateleira do chuveiro (o que foi? #somostodasmariekondos). A solução que arranjei foi colocar à esquerda o produto que uso primeiro, ainda que a indústria esteja sempre a inventar e qualquer dia anunciam que, afinal, o champô deve ser o último passo do procedimento de lavagem capilar (e que, afinal, já só podemos comer meio ovo por semana).
Fala-se tanto de inclusão que não percebo como é que se podem marginalizar à vontadinha as pitosgas.
Nunca devo ter visto muito bem (o meu olho esquerdo sempre andou à boleia do direito) mas quando era pequena não havia tantos rastreios e, portanto, só quando as crianças batiam com a cabeça nos postes da eletricidade é que se lembravam de consultar um especialista. Só comecei a usar óculos já bem adulta e agora eles são para o meu rosto o que o micro-ondas de encastrar é para o armário da cozinha.
Só que os óculos são como os cortes de cabelo, não ficam bem a toda a gente. Fui ao cabeleireiro pedir o mesmo corte de cabelo da Irina Shayk e saí de lá, não com um bob, mas a parecer literalmente um qualquer Bob (não o Marley, por razões óbvias).
Nos momentos em que estou sem óculos, as coisas não correm lá muito bem. Da última vez que fui ao supermercado sem eles, tive de pedir a uma senhora de 140 anos para me ler o rótulo do enlatado. Ou quando decidi seguir a tendência dos olhos esfumados perguntaram-me insistentemente se tinha levado um soco nas pálpebras. E escrever uma mensagem de texto? Sei que podia aumentar o tamanho de letra do telemóvel, mas houve uma vez que uma pessoa em Belém conseguiu ver o que a minha amiga estava a escrever em Santos e eu valorizo muito a minha privacidade. Ou acham que os presbíopes não têm segredos, só porque tantas vezes dependemos da bondade de estranhos?
Ir sem óculos a um restaurante pode ser uma desgraça. No outro dia pedi o número 13 da ementa a pensar que estava a pedir a Galinha com Amêndoas e saíram-me umas Gambas na Chapa. O cheiro a fritos com que de lá saí combinava na perfeição com o cabelo oleoso de quem, horas antes, não tinha dado com o champô.
Estão a ver? Não?