Na minha cabeça, os pensamentos encurralados, como carros que circulam numa rotunda sem saídas. Ainda estou a ressacar e não é do tinto do jantar de ontem. Antes fosse. Não venho falar aqui de governabilidade. Acho que Portugal já esgotou a quota de comentadores. Aliás, eles são, em grande parte, responsáveis pelo engarrafamento de ideias que me entorpecem o cérebro. Estou esgotada com tantas antevisões, rescaldos, pulsómetros, painéis de campanha, arruadas e arruaceiros, uma amálgama de opiniões mais e menos isentas, com e sem real conhecimento de causa. Eu nem conseguiria comentar o estado da minha vida, quando mais o estado da nação! As sondagens dizem que lá em casa eu continuo a perder popularidade e que o protesto está a subir de tom. Os adolescentes estão zangados. Dizem que o IMI – Imposto Maternal sobre a Insolência tem de baixar.
Escrevo isto no pós-noite eleitoral. Nas redes sociais, há cravos e espinhos, palavras de ordem e expressões de regime. Há rejúbilo, contestação e resignação. Também há muitos silêncios. E a indiferença de quem continua a fazer ‘unboxing’ de sapatos e cremes – eu sempre a pensar na falta de firmeza da nossa democracia.
Tudo isto atinge-me através de um caos perfeitamente alinhado e controlado pelo algoritmo, essa entidade manipuladora que nos dá em dobro aquilo que validamos ou pesquisamos, levando-nos a crer que tudo o que vem à rede é peixe. Outras pessoas terão um feed mais animado… ou mais indignado. Sendo a minha vivência digital algo tímida e errática – há dias em que gosto de tudo, outros em que não me interesso por nada – o meu mural é uma mixórdia esquizofrénica de temáticas.
Também escrevo isto em véspera de uma Greve Geral de Jornalistas, a primeira em 42 anos – a última foi a 12 de fevereiro de 1982 – e os resultados das eleições revalidaram a minha intenção de participar e exigir melhores condições de trabalho para um setor em crise. Sim, aqui também somos jornalistas – afirmação óbvia para uns, ousada para outros, mas objetivamente factual. PPD ou LBD*, as duas siglas podem ser notícia e conter o mesmo teor de verdade, em comum o facto de não servirem a toda a gente, ainda que claramente divergentes no grau de elegância.
Na ACTIVA damos, todos os meses, voz a mulheres (e homens) que têm um impacto positivo na nossa sociedade. São elas que nos inspiram a, diariamente, perante a adversidade, lutar pelas nossas causas, por uma sociedade melhor e mais justa para todos – não só para quem segue em frente com as palas do privilégio. Perante o exemplo de quem dá vida às nossas páginas, também nós não podemos baixar os braços… e os cravos. E, já agora, um manifesto: não somos uma revista feminina, somos uma revista feminista. Viva o 25 de Abril.
*Little Black Dress