Os Jogos Olímpicos de Tóquio entram para a história como os com a maior igualdade de género. Desde que as mulheres puderam participar das competições, a partir de 1900, em Paris, nunca houve equilíbrio maior: Dos mais de 11 mil atletas a competir em Tóquio ao longo dos próximos dias, 48,8% são mulheres. Em todas as modalidades há mulheres a disputar medalhas – Mostrando qualidade técnica, dedicação, força, e, muitas vezes, uma mensagem. Chegar até aqui não foi fácil, mas a luta continua… Eis 5 que usam o espaço dos Jogos Olímpicos para protestar contra o patriarcado.
Marta – Futebol
Dentre as jogadoras e jogadores de futebol, só Lionel Messi destacou-se tanto quanto Marta. A atleta brasileira foi eleita 6 vezes a melhor do mundo pela FIFA. Ela é a atleta que mais fez golos em Campeonatos Mundiais de Futebol – entre homens e mulheres. Mesmo assim, a internacional do Brasil não tem patrocinador desde julho de 2018. Nos Jogos Olímpicos está a usar uma chuteira preta, sem logomarcas, e com a mensagem: “Go Equal”. É que Marta até tem marcas a interessarem-se, porém nenhuma delas quer pagar aquilo que ela realmente vale. “Não é só pelo dinheiro em si. É toda uma história. Mas, muitas vezes, os contratantes da patrocinadora não enxergam por esse lado. É um conjunto de coisas para a minha decisão. E posso ver que, por outro lado, isso ajudou outras atletas”, disse a jogadora, em entrevista ao Globo Esporte.
Para completar a mensagem, Marta usou os cabelos compridos para cobrir o logótipo do patrocinador da camisola oficial da seleção brasileira. Nas redes sociais, o movimento Go Equal luta pela igualdade de género no desporto e conta com o apoio de centenas de atletas ao redor do mundo.
Simone Biles – Ginástica Artística
É um dos grandes nomes desta edição dos Jogos Olímpicos. Simone Biles tem uma cabra em cristais no seu collant de competição e não é só porque acha o animal fofinho: A atleta é conhecida como a “G.O.A.T.” – Greatest Of All Times, uma alcunha para a melhor de todos os tempos. Ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e este ano é a favorita em quase todos os aparelhos da ginástica artística. Espera-se que nas finais Biles seja a primeira mulher a executar um salto Yurchenko com duplo mortal, um dos movimentos mais difíceis da ginástica.
Mas para além do grande fenómeno no desporto, Simone Biles usou a sua visibilidade para dar voz a mulheres vítimas de assédio e violência sexual. Em 2018 ginastas norte-americanas acusaram o médico da Federação Americana de Ginástica (USAG), Larry Nassar, de as ter abusado. Simone Biles foi uma das atletas que veio a público e contou a sua história: “Por muitas vezes me questionei. Eu estava sendo muito ingênua? Foi minha culpa? Agora eu sei responder a estas perguntas. Não. Não foi minha culpa. Não, e eu não devo carregar uma culpa que pertence a Larry Nassar, USAG, e outros”.
Desde então Biles tem sido voz ativa na defesa das vítimas de Nassar, que está atualmente preso a cumprir uma pena de mais de 40 anos pelos abusos sexuais. Numa entrevista recente ao 60 Minutes, a ginasta afirmou que a Federação de Ginástica sabia dos assédios e nada fez para evitar que acontecessem: “Está longe de ter acabado. Ainda existem muitas questões que precisam de respostas. Não deixaria uma filha juntar-se ao programa porque não me sinto confortável o suficiente.”
Naomi Osaka – Ténis
Na última sexta-feira, 23 de julho, Naomi Osaka foi a responsável por acender a pira olímpica na abertura dos Jogos de Tóquio. A tenista tem chamado a atenção do mundo pelo bom desempenho em quadra e pelo ativismo. Foi a primeira japonesa e vencer um Grand Slam e já tem quatro títulos aos 23 anos, sendo a número dois do ranking mundial.
Filha de mãe japonesa e pai haitiano, Naomi Osaka fez da sua participação no US Open de 2020 um ato de resistência. No auge do movimento “Black Lives Matter”, usou 7 máscaras diferentes, com os nomes de 7 vítimas de violência racial nos Estados Unidos da América.
Mais recentemente em Roland Garros, Osaka recusou-se a participar das coletivas de imprensa. Pressionada pela organização do torneio, a tenista falou sobre saúde mental e decidiu abandonar a competição. “Nunca banalizaria a saúde mental ou usaria o termo levianamente. A verdade é que tenho sofrido longas crises de depressão desde o US Open em 2018 e tenho tido muita dificuldade em lidar com isso.”
Sarah Vossi – Ginástica Artística
Sarah faz parte da delegação de ginástica da Alemanha, que nesta edição dos Jogos Olímpicos optou por um uniforme que é um protesto. “Nós, ginastas da seleção alemã, reservamo-nos o direito de decidir, dependendo da situação, como nos sentimos mais confortáveis”, escreveu Sarah no Instagram, ao mostrar o macacão escolhido pelas atletas. É que tradicionalmente as ginastas usam um collant bastante cavado com as pernas à mostra. Porém o regulamento da Federação Internacional de Ginástica (FIG) autoriza o uso do macacão com o objetivo de atender as necessidades das atletas que seguem religiões que não permitem a exposição do corpo.
O protesto das alemãs aconteceu um dia depois de a seleção norueguesa de andebol de praia ser multada por se ter recusado a usar biquíni para jogar. As atletas vestiram calções durante um jogo na quarta-feira, 21 de julho, no Campeonato Europeu. Pelo uniforme fora da regra, receberam uma punição no valor de 1.500 euros.
Alice Dearing – Natação
É a primeira mulher negra da história a representar o Reino Unido na natação em Jogos Olímpicos e luta para que depois dela venham muitas. Mas não quer ser reconhecida por este título, e com razão: “Somos mais que a cor das nossas peles. Não quero que as pessoas negras sejam lembradas apenas por serem negras. Queremos ser lembrados pelas nossas conquistas e pelo que fizemos pelo mundo”.
Uma das ações de Alice Dearing foi apoiar a Soul Cap, criadora de toucas de natação especial para cabelos afro. A peça foi proibida nos Jogos Olímpicos de Tóquio por “não seguir o formato natural da cabeça”. A nadadora também é uma das criadoras da Associação de Natação Negra (BSA). Dearing fala abertamente sobre episódios de racismo que sofreu, também como uma forma de conscientizar as pessoas sobre os diferentes tipos de discriminação. “Sempre digo que prefiro educar a confrontar e debater, porque muito frequentemente os pontos de vista são baseados em ignorância de sistemas racistas, que estiveram na nossa sociedade por gerações”.