Para funcionar corretamente, o nosso cérebro necessita de um ambiente protetor que é assegurado por uma barreira de células, a chamada barreira hematoencefálica (hemato = vasos sanguíneos; encefálica = cérebro). Esta barreira dificulta a passagem da maioria das substâncias do sangue para o tecido nervoso, selecionando de forma rigorosa as moléculas essenciais ao cérebro, como nutrientes e algumas hormonas.
Por outro lado, impede que certas substâncias tóxicas e agentes patogénicos entrem em contacto com o cérebro. Devido à sua seletividade, esta barreira não reconhece os 98% dos fármacos que usamos, sobretudo moléculas biológicas, como anticorpos, devido ao seu tamanho. Por estas razões, a entrega de fármacos no cérebro continua a ser o maior desafio de quem desenvolve medicamentos para combater doenças do sistema nervoso central, uma vez que, os métodos de administração local no cérebro e permeabilização da barreira, são muito delicados e pouco práticos.
Em resposta ao desafio de desenvolvimento de novos fármacos para tratar doenças associadas ao cérebro, nós e outros investigadores temo-nos focado em estratégias que utilizam os transportadores ou recetores naturais das células da barreira. Existem já alguns anticorpos terapêuticos modificados para reconhecerem e aproveitarem a “boleia” de um recetor da barreira hematoencefálica que está envolvido no transporte de ferro, por exemplo.
Estes anticorpos, que se encontram em fases de desenvolvimento avançadas, pretendem tratar doenças como Alzheimer e síndrome de Hunter. No iMM, o nosso grupo de investigação, liderado pelo professor Miguel Castanho, está a utilizar compostos derivados de uma proteína natural, que funcionam como uma chave, que reconhece um atributo nas células da barreira, que funciona como que uma fechadura, e consegue ter “permissão” para entrar no cérebro.
O nosso composto mostrou ser capaz de atravessar a barreira hematoencefálica, e está, por isso, a ser usado para modificar fármacos avançados, como anticorpos e nanopartículas, com potencial terapêutico no cérebro. Temos um enfoque especial em infeções virais no sistema nervoso central, em metástases cerebrais de cancro de mama e diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.