Afetam, sobretudo, as mulheres — três vezes mais do que os homens — e cerca de mil milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. Bastante comuns, as crises de enxaqueca podem ser debilitantes e imprevisíveis. Na maioria dos casos, chegam inesperadamente e em qualquer lugar, afetando relações pessoais e profissionais e, no limite, podem ter implicações graves na nossa saúde mental. No dia 12 de setembro assinala-se o Dia Europeu da Enxaqueca.
Doença neurológica crónica, a enxaqueca caracteriza-se por episódios de dor de cabeça pulsátil ou latejante, de intensidade moderada a forte. Surge, geralmente, num dos lados da cabeça, acompanhada de náuseas, vómitos e de intolerância à luz, ao ruído e aos cheiros. Qualquer esforço físico ou movimento que se faça tem tendência a intensificar estes sintomas, fazendo da enxaqueca uma doença muito incapacitante.
Em cerca de 15 a 20% dos casos, vem acompanhada de aura e de alguns sintomas neurológicos (visuais, sensitivos, de linguagem ou motores) como alterações momentâneas na visão, formigueiro ou dormência em algumas zonas do corpo, ou dificuldade temporária em compreender a linguagem, ou articular palavras. Felizmente, tratam-se de alterações reversíveis, sem qualquer dano neurológico permanente. Estes sintomas podem durar até uma hora, geralmente antes do início da dor de cabeça.
Mulheres em idade fértil são as mais afetadas
A estatística mostra que uma em cada quatro mulheres sofrerá de enxaqueca ao longo da vida. As mulheres têm três vezes mais probabilidade de sofrer de enxaquecas, sobretudo se houver na família outras pessoas afetadas, em particular as suas mães. Apresentam um componente hereditário, estimando-se que cerca 80% das pessoas com enxaqueca tenham familiares próximos na mesma situação.
A componente hormonal também influencia a expressão da doença, verificando-se que as suas manifestações são mais intensas na fase de vida fértil, e o aparecimento de crises pode modificar-se nas várias etapas do ciclo reprodutivo. Por exemplo, a maioria das mulheres tem frequentemente crises perto da menstruação e passa o período de gravidez com muito menos crises, por vezes nenhuma. No pós-parto estima-se que 25% das mulheres terão uma crise de enxaqueca nas duas semanas seguintes ao parto, e que até 50% terão uma crise de enxaqueca durante o primeiro mês do bebé.
Mas nem tudo são más notícias. O envelhecimento e a menopausa, no caso das mulheres, pode ser um aliado na suavização dos sintomas. À medida que o tempo passa, as crises de enxaqueca tendem a tornar-se menos frequentes e menos graves, ao mesmo tempo que se dá uma diminuição na sensibilidade ao ruído, à luz e aos cheiros.
Controlar a enxaqueca
Viver com as limitações da enxaqueca não é fácil, mas, felizmente, o processo pode tornar-se menos pesado se apostarmos na informação e no controlo da doença. A procura de ajuda médica é fundamental — um profissional habilitado poderá fazer o diagnóstico correto e orientar o doente a aprender a gerir a sua doença.
Caso a caso, é importante isolar os comportamentos com tendência a despoletar uma crise. Seja o stress, os horários de sono incorretos, o ritmo desadequado, a ingestão de determinados alimentos, o jejum prolongado ou a fraca hidratação, o excesso de medicação, ou a exposição a determinados estímulos sensoriais, todos podem facilitar a ocorrência de uma crise de enxaqueca. É, por isso, importante identificar os estímulos a que cada um é sensível para planear estratégias de adaptação.
Algumas das estratégias mais comuns para lidar com a enxaqueca passam pelo controlo do stress; pela aposta em noites bem dormidas; pela boa gestão da medicação de controle de crise; pela atenção à saúde mental (e à procura de ajuda, sempre que se justifique); pela realização de uma alimentação adequada (regular, evitando os estímulos a que são suscetíveis, em particular o mais comum, o álcool ); e, sobretudo, pela prática regular de exercício físico e/ou estratégias individuais ou técnicas de relaxamento.
Apoie-se nos pares. Informe-se junto de quem sabe e compreende
Desabafar e partilhar experiências com quem sofre do mesmo problema pode ser libertador. As associações e grupos de doentes desempenham um importante papel e mesmo a Internet pode revelar-se uma grande aliada. Basta que se recorra a portais fidedignos e devidamente validados por sociedades médicas como Sociedade Portuguesa de Cefaleias. É o caso do site da Migra ou do portal Viver sem Enxaqueca que, não substituindo acompanhamento médico, podem ser dois grandes pilares no tratamento e no controlo da doença.
Converse com quem sabe, informe-se e recupere o controlo. Lembre-se de que informação é poder e que quanto mais souber sobre o tema, mais preparada estará para lhe fazer frente.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.