Quando comecei a escrever este texto para o Dia Mundial do Sorriso, a primeira coisa que pensei e na qual quis refletir foi na diferença entre a palavra ‘sorriso’ (do verbo sorrir) e a palavra ‘risada’ (do verbo rir) e na forma como estas duas expressões de felicidade, embora tão diferentes na amplitude, no contexto e nas suas intensidades, se manifestam nos encontros diários dos Doutores Palhaços da Operação Nariz Vermelho e das crianças hospitalizadas que visitam. Ia seguir divagando e formulando teorias sobre as ditas palavras e expressões, quando reparei no mais simples e poético e que é visível a todos – o ‘rir’ vive dentro do ‘sor(rir)’. De certa forma, são palavras inseparáveis.
Na realidade, foi uma criança que me fez pensar assim: a minha filha Alice, de nove anos. Conto-vos a história. No outro dia, tinha como trabalho para a escola escolher uma palavra preferida e escrever uma composição sobre ela. Escolheu a palavra ‘rir’. O texto que escreveu é muito especial, principalmente pela simplicidade das ideias que transmite. De forma clara e concisa, enumera as razões pelas quais escolhe esta palavra e descreve pequenos episódios em que o ‘rir’ foi fundamental na sua (ainda breve) vida.
Há duas ideias que elabora neste texto e que ficaram comigo, porque vão ao encontro do poder que tem o sor(rir) dentro dos hospitais. A primeira é esta: ‘o rir sobrepõe-se a qualquer sentimento que eu sinto em mim, pois faz-me sentir bem, e quando eu me sinto bem os outros também se sentem felizes.’ Simples, não?
Mas de facto não há nada mais real do que o poder contagiante do sorriso – é quase impossível ficar indiferente a um sorriso ou não ser contaminado por alguém que se ri compulsivamente.
Tenho dúvidas de que haverá um lugar onde um sorriso seja mais necessário para combater a ansiedade e o medo, as dúvidas e a incerteza quanto num serviço de pediatria. É impossível ficar indiferente ao sorriso de uma criança neste contexto; conseguimos este feito com as visitas dos Doutores Palhaços, porque trabalhamos o lado saudável da criança, distraindo por momentos do ambiente e situação onde estão, para olhar o lado bom da vida, e isto só pode ser verdadeiramente mágico.
A segunda ideia, com a qual encerro este resumido divagar sobre palavras tão essenciais no nosso dia-a-dia, está na base do nosso trabalho na Operação Nariz Vermelho e na forma como damos valor à unicidade e autenticidade do outro: ‘eu sou única e os nossos risos também são únicos e diferentes uns dos outros’… e termina o texto em apologia apoteótica à felicidade. Haverá coisa mais bonita a marcar a nossa singularidade no mundo do que a forma como sorrimos e rimos?
Não tenho dúvidas, as crianças são mesmo o melhor da vida.
*Luiza Teixeira de Freitas é Presidente da Operação Nariz Vermelho