Imagine poder congelar o tempo. Guardar o seu momento de maior fertilidade num recipiente e ter a liberdade de escolher quando será a hora certa para ser mãe. Parece algo saído de um filme de ficção científica, mas esta é a realidade que a criopreservação de óvulos oferece às mulheres modernas.
Do ponto de vista clínico, o ideal para qualquer mulher é, sem dúvida, tentar engravidar o mais cedo possível, de preferência antes dos 30 anos. Contudo, atualmente, seja porque pretendem focar-se primeiro noutros objetivos de vida, como é o caso da carreira, ou porque simplesmente ainda não se sentem preparadas para ter o primeiro filho, são cada vez mais as mulheres que escolhem adiar os planos de maternidade. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, na última década o número de crianças nascidas de mães com mais de 40 anos aumentou em cerca de 80%.
Deste modo, nos casos em que não é possível a mulher engravidar durante o período de maior fertilidade, a segunda melhor opção é criopreservar os óvulos que estiver a produzir nessa altura, pois sabemos que, infelizmente, a fertilidade feminina diminui com a idade – e, deste modo, estes óvulos serão uma reserva de fertilidade que tem o potencial de, se necessário, poder ajudar a mulher a ser mãe no futuro, tendo em conta todas as restantes condicionantes.
De forma simplificada, o processo de criopreservação começa com a estimulação ovárica, onde é utilizada medicação hormonal injetável para estimular os ovários a produzir múltiplos óvulos. Estes óvulos são então recolhidos através de uma punção ovárica, um procedimento médico relativamente rápido e simples, que é feito sob sedação. Posteriormente, os óvulos obtidos são criopreservados a temperaturas extremamente baixas (-196ºC) num processo que se chama vitrificação. Segundo a legislação vigente em Portugal, a criopreservação de óvulos é feita por um período de cinco anos, que pode ser depois renovado por mais cinco a pedido da paciente.
Durante este tempo, os óvulos mantêm a sua qualidade praticamente inalterada, o que significa que uma mulher que tenha criopreservado os seus óvulos pode tentar engravidar mais tarde, utilizando óvulos que mantiveram a qualidade e a vitalidade dos seus anos mais férteis. Esta possibilidade permite que as mulheres tenham mais tempo para decidir serem mães, diminuindo a pressão do avançar da idade.
No entanto, as vantagens da criopreservação não ficam por aqui. Além de oferecer liberdade para o planeamento familiar, a criopreservação é uma ferramenta vital para as mulheres que enfrentam tratamentos para certas doenças (do foro oncológico ou auto-imune, entre outras) que implicam um risco grande de perda da fertilidade feminina. Em algumas dessas situações (infelizmente, não em todas) é possível criopreservar os óvulos antes de se iniciar o tratamento que potencialmente pode afetar a fertilidade da mulher, o que permite preservar pelo menos uma parte do potencial de fertilidade dessa pessoa, antes que este se perca de forma definitiva. Estas são, no entanto, questões complexas e que precisam sempre de ser avaliadas de forma rigorosa e individual, pois infelizmente nem sempre é possível a criopreservação de óvulos nestes casos.
Apesar dos seus inúmeros benefícios, é importante salientar que a congelação de óvulos será sempre uma opção de recurso, nunca uma primeira escolha, para as mulheres que têm o desejo de formar uma família. Esta é uma técnica que dá uma possibilidade adicional às mulheres que não puderam engravidar em idade mais jovem, mas não é uma garantia de sucesso. Como tal, a criopreservação dos óvulos deve ser vista como mais uma opção, mas não como uma solução milagrosa que permite adiar indefinidamente a maternidade, até porque há outros fatores, que não apenas a qualidade dos óvulos, que contribuem para a probabilidade de obtenção de uma gravidez saudável e a termo.
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