Quando pensamos na crise de natalidade que se tem verificado no mundo em geral, com especial ênfase na Europa e, da qual, o nosso país é um claro exemplo, procuramos os fatores que permitam justificar porque é que nascem cada vez menos bebés e encontrar medidas capazes de reverter esta tendência. Para isso, devemos direcionar as nossas atenções também para um aspeto essencial e que não tem sido alvo da atenção que merece: a literacia sobre a fertilidade e sobre a medicina da reprodução.Falta de informação, um dos grandes desafios na saúde reprodutiva
O inquérito FutURe, realizado em 15 países europeus, incluindo Portugal, ouviu mais de 9.300 jovens da Geração Z e Millennials sobre vários temas, um dos quais a fertilidade. Os resultados obtidos permitem confirmar que existe um vasto trabalho que a ser feito, nesta área, junto dos mais jovens.
Por cá, mais de 90% dos inquiridos não consideram o relógio biológico uma prioridade, manifestando uma falta de informação e desinteresse sobre saúde reprodutiva e fertilidade que nos devem preocupar. Um desconhecimento vai ainda mais além: mais de metade dos jovens admitem saber pouco ou nada sobre os fatores que influenciam a fertilidade ou a sua preservação. Os dados confirmam que, em Portugal, 78% dos jovens reconhecem desconhecer praticamente tudo sobre o tema da reserva ovárica, uma estatística que supera a média europeia (72%).
Os dados deste inquérito revelam ainda que, cerca de 43% das mulheres inquiridas, desconhecem o impacto da idade na fertilidade, o que configura uma lacuna de conhecimento num tema essencial quando se trata do planeamento familiar ou da preservação da fertilidade.
O que está aqui em causa, já nem é a questão de o projeto de parentalidade ser ou não uma prioridade para os jovens ou de criar condições económicas para que este se torne prioritário. Já estamos a falar de questões básicas de conhecimento e informação. É preciso informar, esclarecer e criar condições para que possam aceder ao conhecimento sobre os métodos que lhes permitem vir a construir uma família no futuro, começando pela avaliação da reserva ovárica.
É essencial ter consciência que a idade é um fator crucial quando se trata da fertilidade e que as decisões de dar prioridade a uma gravidez ou adiar o projeto de constituir uma família estão intrinsecamente associadas a este condicionante, salvaguardando a existência de alternativas que assegurem a preservação do potencial reprodutivo, através da criopreservação de gâmetas. Porque o limite para a fertilidade espontânea não é a menopausa. O limite ocorre muito antes disso!
Temos de ter presente, entre todos, que para reverter a crise de natalidade que vivemos mundialmente, são precisas medidas tomadas no presente, mas que tenham em vista o futuro. A educação e a informação são ferramentas essenciais para capacitar as pessoas a tomarem decisões informadas sobre o seu futuro reprodutivo, sendo necessário um esforço conjunto das instituições de saúde, educação, governo e sociedade civil, para a promoção do conhecimento sobre os fatores que influenciam a fertilidade, os métodos de avaliação disponíveis e as opções de tratamento ou de preservação para o futuro.
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