Hiperactividade: Quando as crianças não param quietos

‘Há dez anos ninguém sabia o que era esta doença, mas hoje chega a pecar-se por excesso. Muitas crianças, porque são irrequietas, levam logo com o rótulo de hiperactivas.’ O alerta é dado por Linda Serrão, presidente da Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva (APDCH), mas este facto não chega para desvalorizar a importância crescente desta patologia, que se estima afecte entre 35 e 50 mil crianças em Portugal.
A hiperactividade ou, como se diz na gíria científica, Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA), é uma perturbação do comportamento que se manifesta numa incapacidade crónica de concentração e em impulsividade ou irrequietude permanentes. O diagnóstico costuma ser feito quando as crianças entram para a escola, embora possa ser efectuado mais cedo, como explica Paula Temudo, psicóloga no Hospital Pediátrico de Coimbra: ‘Um miúdo hiperactivo já era um bebé hiperactivo. O problema é que, nessa fase, os sintomas são facilmente confundidos com os de outras doenças, como a perturbação bipolar ou a ansiedade.
Quando muito, um bebé poderá ser sinalizado como potencial hiperactivo, mas só a entrada na escola permitirá ver como se comporta noutro contexto e confirmar o diagnóstico.’ Isto é importante porque um dos critérios PHDA é precisamente a constância do comportamento. ‘Se ele só se ‘porta mal’ em casa, provavelmente tem um problema na relação com os pais, não hiperactividade’, esclarece o neuropediatra José Carlos Ferreira.
Para serem associados à hiperactividade, os sintomas destas crianças têm ainda de ser crónicos, isto é, persistirem pelo menos durante seis meses, e não estarem ligados a outras causas, como o divórcio dos pais ou a morte de um familiar.

Os sintomas mais comuns:
. Tem dificuldade em prestar atencao e tudo lhes serve de pretexto para nao se concentrarem. Evitam tarefas que exijam esforco mental ou persistencia, o que os pode fazer passar por preguicosos.
. Sao distraidos. Tem tendencia a perder objectos e cometer erros por descuido.
. Tendem a fazer ‘orelhas moucas’ quando os chamam ou falam com eles.
. Falam muito e atabalhoadamente, interrompendo constantemente os outros.
. Possuem muita energia fisica e o vulgarmente chamado ‘bicho-carpinteiro’.

Vão ser adultos mais problemáticos?
Além de desafiar a paciência dos pais e dos educadores, a hiperactividade tem efeitos negativos no desempenho escolar, já que estas crianças não se conseguem concentrar nas aulas nem estudar. Também são mais vulneráveis à depressão porque a sua ineficácia no dia-a-dia lhes causa muita frustração, e, se não forem medicadas e apoiadas, correm o risco de se tornarem adolescentes problemáticos.
‘Como são muito sensíveis aos estímulos do meio e impulsivos por natureza, caem mais facilmente na delinquência’, alerta José Carlos Ferreira. Existem estudos feitos nos EUA que apontam para uma maior prevalência de toxicodependentes (sobretudo de cocaína) entre hiperactivos, o que pode ser justificado pela semelhança desta substância com a que é usada para tratar a hiperactividade (o metilfenidato, que é da família das anfetaminas).
É por isso muito importante para procurar um diagnóstico fiável feito por um especialista.

O acompanhamento é fundamental

Não existe uma cura, os principais tratamentos são a administração de um psicoestimulante, o metilfenidato (como a Ritalina) e as terapias comportamentais. O ideal é serem feitas em conjunto ‘porque 20 a 30% das crianças não responde ao medicamento, e o acompanhamento ajuda-os a aprenderem a lidar com as suas diferenças e dominarem os impulsos’, diz José Carlos Ferreira. Os sintomas podem ser atenuados com a idade, mas haverá sempre uma tendência hiperactiva com que é importante saber lidar.

Este guia é para si
Há estratégias que podem ser adoptadas na escola ou em casa para ajudar estas crianças.
Não esteja sempre a ralhar: ‘Os pais têm de aprender a distinguir o que é importante do que não é. Estas crianças vão ser sempre mais activas, e se estiver sempre a ralhar facilmente perde autoridade’, alerta o neuropediatra José Carlos Ferreira.
Divida-lhes as tarefas: ‘Eles são irrequietos porque não conseguem concentrar-se muito tempo numa coisa. É mais fácil se dividir as tarefas noutras mais pequenas.’ Exemplo: em vez de o fazer analisar um texto inteiro, estabeleça como meta um parágrafo.
Cuidado com a TV: Num estudo realizado nos EUA, e publicado na revista ‘Pediatrics’, concluiu-se que por cada hora de TV diária entre o primeiro e o terceiro ano de vida aumenta o risco de PHDA em 10%. Reduza o tempo em que ele passa à frente do ecrã, especialmente antes de ir para a cama.
Limite o açúcar: O açúcar também tem sido associado à hiperactividade em crianças pequenas. Evite os doces, pelo menos à noite.
Mantenha rotinas: Quanto mais simples e organizada for a vida destas crianças, melhor. As rotinas têm um efeito ‘tranquilizador’.
Dê instruções claras: Diga-lhes uma coisa de cada vez, mantendo o contacto visual. E, quando tiverem de se concentrar, por exemplo, para fazer os deveres, limite os ruídos e as distracções.
Procure ajuda: A Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva dedica-se a ajudar crianças, pais e professores que sofrem ou têm de lidar com a hiperactividade.

Contactos: Lisboa, tel.: 96 532 11 92; Leiria, tel.: 91 861 78 20; Algarve, tel.: 96 169 73 75; Mirandela, tel.: 96 169 73 76.

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