sexo

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Kennedy teve Marilyn, John Profumo teve Christine Keeler, Clinton teve Lewinsky: nas últimas cinco décadas, a relação entre poder político e escândalos sexuais tem sido a de atração fatal. Clinton tornou-se o segundo presidente norte-americano a passar por um processo de destituição, resultante de acusações de assédio sexual e perjúrio, por ter mentido sobre a sua ligação extraconjugal com a então estagiária da Casa Branca de 22 anos. A frase “Não tive relações sexuais com essa mulher, a menina Lewinsky” ficou célebre, tal como o desmentido que foi obrigado a fazer mais tarde. A brincadeira ia-lhe custando o casamento e o mandato presidencial, mas os Clinton puseram-se de pé e aguentaram o furacão, na pessoa da mulher traída, Hillary.

O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, também não é um novato no que toca a escândalos sexuais. Em 2009, a acompanhante de luxo Patrizia D’Addario afirmava que ela e outra mulher tinham sido pagas para ter sexo com Berlusconi e que tinha as gravações para o provar. Em Outubro passado, os jornais noticiavam que o líder do governo transalpino estaria a ser investigado por, alegadamente, ter pago para ter sexo com a marroquina de 17 anos Karima El Mahroug, ou Ruby. Ele negou que Karima fosse menor: a acompanhante de luxo só teria sido registada pelos pais aos dois anos, defendeu-se.

Também em finais do ano passado uma biografia do rei sueco, Carl Gustav, ‘O monarca relutante’, fez tremer a casa real escandinava. Nela se conta a predileção que, em tempos, teve por orgias, festas  no jacuzzi com modelos e incursões a clubes noturnos duvidosos. O que acontece a alguns poderosos que os faz pôr em cheque carreiras sólidas, redes de influências, casamentos e reputação, em troca de sexo?

“Homens como os outros”

Bernardo Coelho, sociólogo do ISCTE e autor do livro ‘Corpo a Dentro’ (Difel), é um estudioso de temas ligados às relações de género, sexualidade e família. “Os poderosos têm libido e sexo como os outros homens.” Mas não terá mais a perder quem mais acima está na hierarquia social? “Ambos podem ter uma vida a perder; são é vidas diferentes. Berlusconi ocupa um cargo visto como sendo de respeitabilidade, que se quer o mais imaculado possível. Mas isso não significa que quem lá chega não tenha tido uma vida antes. Há dias, li uma frase do George Clooney em que ele dizia que nunca se poderia candidatar a um cargo público porque experimentou demasiadas drogas e teve demasiadas mulheres.”

As amantes e acompanhantes como Ruby podem ganhar poder neste tipo de relacionamento. “Nomeadamente, o acesso a uma rede social muito influente e a grandes oportunidades, e porque se relacionam com homens dispostos a pagar valores altíssimos. Este escândalo de Berlusconi deriva de uma dessas raparigas, que provavelmente foi paga, mas não o suficiente. Mas isso também pode acontecer com o cidadão comum e alguém que queira um emprego, mais dinheiro, uma relação de exclusividade, um casamento…”

Inevitavelmente, ser bonita, ter um corpo escultural e capacidade de sedução para dar e vender são os requisitos necessários para que o sexo se transforme numa arma de poder. Para as profissionais e não só.

O direito à greve

Se entre os poderosos o sexo pode deitar tudo a perder, numa relação estável ele também pode ser um instrumento para ganhar contrapartidas ou marcar posições, como o provou, em fevereiro, Marlene Temmerman. Esta senadora belga propôs às mulheres dos políticos do seu país uma greve de sexo, pelo menos enquanto os maridos não resolvessem o grave impasse político que se instalou entre flamengos e francófonos. Há mais de nove meses que a Bélgica não tem Governo. “Se todas nos pusermos de acordo em relação à abstinência sexual, estou convencida de que podemos chegar mais rápido a negociações”, disse em entrevista, citada pelo jornal ‘El Mundo’. “Já se sabe o que pensam os homens sobre essas coisas.” A senadora inspirou-se na peça ‘Lisístrata’, comédia grega do século V a.C., escrita por Aristófanes, onde a heroína homónima faz um apelo às mulheres de atenienses e espartanos, então em guerra, para que façam greve de sexo enquanto os seus maridos não assinarem um acordo de paz. “Isso parte do pressuposto de que os maridos só têm sexo com elas”, ironiza Bernardo Coelho. “É uma forma um pouco ingénua de chamar a atenção para um problema grave. O sexo é usado aqui como arma de arremesso, um mediador para se atingir um fim.”

O sexo pode ser um campo de batalha mais pacífico mas onde muita coisa está em jogo, mesmo na intimidade de um casamento.  “A sexualidade é um campo de poder porque as relações sexuais são também relações sociais, momentos de negociação, mais ou menos verbalizada, de lugares de poder. As relações amorosas não são dissociadas de poder nem de interesse. A própria interação sexual está condicionada por aquilo que cada um quer fazer cumprir naquele encontro e por aquilo que quer que o outro sinta. O sexo pode servir como materialização de lutas e dinâmicas familiares, um instrumento para negociar outras dimensões da relação, sobretudo se ela for conflituosa.” Ou seja, até num casamento a satisfação sexual do parceiro pode servir para garantir coisas tão díspares como uma relação menos conflituosa ou umas férias de sonho. “No sexo não pago pode haver outras formas de ‘pagamento’.”

Guerra dos sexos

Mas o poder do sexo também existe por causa das diferentes bitolas morais que marcam as relações de género, lembra o sociólogo. “Homens e mulheres estão sujeitos a julgamentos morais diferentes. O homem, tido como mais ativo, pode exprimir a sua sexualidade de forma mais livre, vivê-la abertamente e ter múltiplas parceiras. Essa hipersexualidade até é valorizada. O padrão de uma mulher ‘moralmente adequada’ continua a ditar que ela seja regrada, que a sua sexualidade não seja demasiado partilhada; continua a vê-la num lugar mais ou menos passivo. Pode ter práticas idênticas às dele, só não as pode expressar. Há desigualdade. Recai sobre as mulheres uma moral sexual que limita a sua liberdade.”

Mas alguma coisa está a mudar neste duplo padrão sexual, nem que seja só no Olimpo das belas e famosas. Paris Hilton e Kim Kardashian fizeram das indiscrições sexuais em que estiveram envolvidas uma alavanca para promover a sua ‘marca’. Paris já era notícia por ser modelo e herdeira de uma das maiores fortunas norte-americanas. Quando as gravações da sua sessão de sexo com o então namorado, Rick Soloman, escaparam para a Internet – uma semana antes da estreia do seu reality show, ‘The Real Life’ – estava escrita a receita para o êxito de audiências. Seguiram-se os lançamentos de um perfume, um livro e participações em filmes.

Kim Kardashian não vem de uma família especialmente famosa ou rica, mas também foi a divulgação de uma gravação semelhante com o ex-namorado, o rapper Ray J, que a tornou famosa do dia para a noite. Kim percebeu que não existe má publicidade: falem bem ou mal dela, mas falem. A partir daí, soube alçar-se à fama através das suas páginas na Internet, passou a cobrar por sessões fotográficas para revistas, aparições em clubes noturnos, posou nua para a ‘Playboy’. Não tardou o convite para o seu próprio celebrity show, ‘Keeping Up With the Kardashians’, a que se seguiram uma linha de roupa, perfumes, produtos diet… A série televisiva acabou por também garantir fama às duas irmãs, Khloe e Kourtney. Para elas, a relação entre sexo, fama e poder parece estar mais do que provada, porque resultou.

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