Está certo que algumas mulheres, em particular as mulheres belas, têm um certo poder magnetizante; e esse poder revela-se em pleno face a um amor que não seja vulgar.
Há algum desígnio cósmico que determina as ligações raras – que faz com que fatalmente, irremediavelmente, duas pessoas que se destacam pela beleza, pelo intelecto, pelo gosto, pela luz da sua alma, reparem uma na outra. É quase um dever estético e moral que assim seja, que os seus destinos se cruzem, pois é desses momentos, dessas faíscas que são uma amostra do quotidiano dos deuses, que é composta a simetria do Universo, que a Roda gira, que as coisas que valem a pena nesta vida se fazem. São esses os amantes que inspiram as grandes obras, o que não significa que isso seja suficiente. Por vezes, a perfeição não chega – ou é simplesmente desperdiçada. Mas esse receio que assalta o homem que tenta ser muito seguro de si é um engano. O erro de amar demasiado para o seu próprio bem não é um exclusivo masculino. Os que amam sensatamente e com moderação perduram, os que amam demasiado caem – facto. E uma mulher sensível também sabe disso. Quando alguém a faz sentir vulnerável, mas é nessa mesma fraqueza que se encontram todas as forças; quando, por mais independente e forte que seja, está disposta a adaptar os seus sonhos; quando sente medo, mas há uma volúpia nesse receio e uma fortaleza por trás; quando as emoções se sobrepõem a todos os planos anteriormente feitos, a todos os cautelosos cálculos; quando se rebela contra si mesma e sente vontade de entregar a sua liberdade nas mãos de outrem, que protegerá e amará essa liberdade oferecida como se fosse coisa sua. Quando é assim, uma mulher sabe que está o caso mal parado. Muito mal parado. Perante esse cenário, se tiver o pensamento estratégico de um homem, recuará também. Observará o adversário. E só se renderá se vir rendição igual. Se não tiver essa frieza, está irremediavelmente perdida – nas malhas da mesma armadilha que os homens tanto receiam. Ou numa situação pior ainda, por questões de educação e hábitos seculares que todos conhecemos.
As emoções avassaladoras e perigosas, o acto de se envolver demasiado para o seu próprio bem, não são apanágio de nenhum dos sexos. Simplesmente, o bom ou mau resultado desse encontro de titãs depende da capacidade mútua de entrega – e é a força das duas partes, a força para assumir a fraqueza, que determina o desfecho. Não é uma armadilha: é um teste de valor.
Autoria: Imperatriz Sissi