Contava-me uma amiga que queria encontrar-se com o rapaz com quem andava a namoriscar por correspondência *leia-se, via redes sociais que isso das cartas de amor foi chão que deu uvas mas o princípio é o mesmo* mas tinha medo de apanhar uma desilusão. Ou melhor, de sofrer mais uma desilusão.
E fiquei a pensar no poder que as mulheres colocam nos outros para as magoar eventual e hipoteticamente. Até num estranho que nunca viram mais gordos.
A desilusão que pode vir daí é tão grave como constatar que o ídolo do cinema, quando visto na rua como o comum dos mortais, é atarracado e sem grande graça, produto de fumo e espelhos.
Ou que aquele bolo novo na pastelaria da moda afinal não presta: desde que não provoque alguma intoxicação, o caso não é grave e no dia seguinte já ninguém se lembra disso nem dos trocos que deitou fora. Ralar-se com um caramelo que nunca se viu, ou que se conhece de ontem, é o mesmo que tratar o bolo novo e insípido como se fosse o copo d´água, ou a última refeição de um condenado.
Conheço muitas raparigas cuja principal preocupação, antes de um encontro com o novo namorado em potencial, é “espero conquistá-lo” ou “espero que ele goste de mim!” – hello, minhas meninas: nem conhecem o marmanjo e já se estão a esforçar? Em vez de irem com a mente analítica ligada no máximo para perceber se elas gostarão dele, se o rapaz não é um psicopata ou um javali à mesa ou coisa assim, já decidiram na sua cabeça que gostam dele. E que se se portarem bem, vão ser recompensadas com casamento e filhos. Calma:for all you know, o moço pode ser um pesadelo. A pergunta sensata não deve ser, portanto, “será que ele vai gostar de mim?”e sim “será que eu vou gostar dele?”.
Mas o hábito de colocar nos outros grandes expectativas não é um exclusivo feminino: conheço vários homens assim. Na mesma semana, um amigo contou-me, todo entusiasmado, que estava interessado numa pessoa que acabava de conhecer. Tinha havido aquele “clic”, o que é sempre uma boa notícia, um belo entretém no rame- rame do quotidiano.
Pois bem: uns dias volvidos, já andava ansioso porque o flirt em causa não lhe respondia, ou respondera mais casualmente, ou falava muito não sei com quem, como se o caso importasse muito para a sua vida. Aquilo que devia ser um divertimento em fase embrionária, que não se sabia se valia a pena, já era motivo para nervos.
Emoções
|Crónica: Dos namoros surpresa (great expectations)
"Tecedeira, tecedeira, como hei-de viver sem ti? Não tem que saber, menino - é viver como até aqui". (Júlio Diniz)