1 É normal haver conflitos entre pais e filhos quando estes se apaixonam?
“É normal”, afirma Eliana Vilaça. “A adolescência é uma fase em que os adolescentes estão a solidificar a sua autonomia e é normal haver conflitos na dinâmica da família, que se altera muito nesta altura. Continua difícil para os pais aceitar que o adolescente já não é criança, que tem ideias próprias que podem ser muito diferentes das deles, e que vai construir o seu caminho influenciado por outras pessoas que não os pais.”
2 Os pais podem sentir-se um pouco postos de lado?
“Claro. A adolescência é a altura em que os pais caem do trono, coisa que os pais, naturalmente, odeiam”, nota a psicóloga. “Em vez de heróis passam a pessoas, e o herói passa a ser o namorado do momento. Os pais têm ciúmes? Claro que têm. Das meninas e dos meninos. Mas têm de se lembrar que o que lá deixaram continua lá. Se os filhos já estão a fazer o caminho de alguma independência, isso é muito saudável. Desconfio mais dos adolescentes com o quarto arrumadinho.”
3 Imagine que eu tenho uma filha adolescente e desconfio que ela tem namorado. Pergunto-lhe diretamente?
“Sim, por que não?” E se ela disser “Não tens nada a ver com isso”? “Então pronto, está respondido.” (risos) “Os pais, por vezes, ficam ofendidos quando eles não contam nada. Mas têm de respeitar, tal como têm de respeitar a porta do quarto fechada. Geralmente, não se passa lá dentro nada de especial… De qualquer maneira, convém conversar com ela”, aconselha a psicóloga. “Dizer que se está disponível: ‘se tiveres namorado e quiseres falar, estou aqui para te ouvir.’”
Tente perceber se a sua filha anda bem, se está bem disposta. É que, e muitas vezes não nos lembramos disso, a sexualidade não é o único problema: “Às vezes, há coisas muito mais pesadas e perversas nas relações entre adolescentes”, lembra Eliana. “Muitos tomam os ciúmes como uma prova de amor. As raparigas estão numa fase muito frágil, em que se sentem inseguras, e culturalmente também foram habituadas a pensar que ser amada é estar debaixo do poder de alguém. Portanto, algumas justificam situações de violência com frases do tipo ‘fui eu que tive a culpa, fui eu que não me portei bem’.” Isso é feminino? “Não, é patológico”. Também há muitos assuntos de culpabilização nos rapazes. E isso vem muitas vezes do tipo de relação que tiveram com os pais. “Ou vão reproduzir o mesmo, ou o oposto. Se eu fui muito controlado, ou vou ser controlado ou vou controlar…”
4 Nos primeiros amores, o que é que os pais devem controlar?
“Não gosto da palavra controlar. Podemos usar apoiar?” Pronto, usemos então apoiar… “Nos primeiros amores há duas atitudes típicas: as mães ficam demasiado amigas das filhas e há uma partilha excessiva, ou então há uma repressão tão grande que cria distância. ‘Não quero saber disso para nada, não quero meter–me’, e isso é quase uma retaliação: já que tens o teu namorado, não precisas de nós para nada… O ideal é apoiar na medida em que elas precisam.”
5 Deve-se acompanhar uma rapariga ao ginecologista?
Antes de marcar a consulta, deve falar com a rapariga e saber se ela quer ir. Quando isso acontecer, a adolescente deve ir sozinha, defende Eliana Vilaça. “A mãe pode acompanhá-la, mas deve ficar na sala de espera.” Quando deve acontecer a consulta, depende da rapariga. As mães geralmente percebem quando é a melhor altura. Como perceber se ela já tem uma relação? “Ah, elas dão sinais: começam a andar muito distraídas, muito sorridentes, agarradas ao telemóvel, a olhar para o horizonte…” (risos) “É uma consulta íntima, e é um choque falar à frente dos pais. Aí de facto as mães sentem-se excluídas. É a primeira vez que ficam fora da sala do médico.” Mas na adolescência é precisamente esse o papel dos pais: ficar cá fora para o que for preciso…
6 Porque é que temos tanta dificuldade em falar de sexo com os filhos?
“Porque estamos habituados a vê-los como crianças, e temos muita dificuldade em vê-los de outra maneira”, defende a psicóloga. “Além disso, este é um assunto do qual os pais sabem que não fazem parte. Ou então acham que não têm competência para o fazer. Mas já se fala mais com os filhos.”
Às vezes até se fala demais… as mães caem no erro de achar que devem ser as melhores amigas das filhas, quando esse não é o papel das mães. “Uma mãe deve estar ali para apoiar, e não para desabafar assuntos da vida privada. As filhas não têm de ser as mães das mães.”
7 Quando acaba um amor de adolescentes, o que lhes devemos dizer?
“Os amores da adolescência têm aquele lado divertido que é o serem intensos e avassaladores”, lembra Eliana. “Quando acabam com o primeiro, dizem ‘nunca mais vou amar desta maneira’, e eu acredito! Às vezes há aquela nostalgia dos amores da adolescência, mas são uma aflição. Quando a pessoa perde o outro, fica com a sensação de que se perdeu a ela própria.”
Aprende-se a recuperar dos insucessos? “Claro, mas também se aprende muito com os sucessos. Uma relação que termina pode ser um insucesso, mas também teve coisas boas. O que é importante é aprender a não repetir as coisas que não funcionarem. Muitas raparigas procuram sempre o mesmo tipo de pessoa, porque é aquele objeto que nos dá segurança. Há uma tentativa de resolver a situação repetindo-a, mas o que acontece é que ela nunca fica resolvida e se cai nos mesmos erros. É possível mudar de padrão de relacionamento e fazer escolhas mais saudáveis.”
8 Ainda existe a pressão do grupo para uma rapariga ter namorado?
“Sim. Se as outras raparigas têm namorado, eu também quero um, seja quem for. Ser mulher é ter namorado. Ter namorado dá estatuto. Ter namorado é ser amada e valorizada, é ter valor. Se não tenho namorado, é porque ninguém me dá valor. Isto também funciona para os rapazes: eles gabam-se de que já tiveram muitas namoradas, já tiveram muito quem lhes desse valor. Depois crescemos e aprendemos a dar valor a nós próprios sem precisarmos de outra pessoa, mas a relação continua fundamental.” Quando são valorizados pelos pais, isto é menos provável? “Bem, às vezes são tão valorizados pelos pais que acham que não podem substitui-los…”
9 Não gosto do namorado da minha filha ou filho. Faço o quê?
“Tente perceber por que é que não gosta”, aconselha Eliana. Se de facto é uma companhia das piores que há, é tentar estar atenta e estar por perto. Criticar não vale a pena: só vai ter o efeito contrário. Mas pode-se ir conversando, fazê-la pensar, perguntar-lhe por que é que gosta dele.
“Mas às vezes os pais não gostam daquele como não gostam de nenhum, não gostam é que a filha tenha namorado. E hoje em dia, os pais também têm namorados, e muitas vezes são os filhos que não gostam dos namorados dos pais. Às vezes os filhos são muito piores com os namorados dos pais do que os pais com os namorados dos filhos!”
10 Tenho uma filha de 12 anos que quer sair à noite. Deixo?
“Depende da maturidade dela, depende do sítio para onde vai, do horário, das pessoas…”, nota Eliana. “A idade é sempre tão relativa! Mesmo assim, acho 12 anos demasiado precoce, até porque podem ser muito atinados mas quando estão rodeados pelo grupo podem pôr-se facilmente em perigo. Mas continua a haver um travão. E é importante os pais testarem se eles têm esse travão incorporado. Se o pai manda estar em casa à meia noite e eu chego à meia noite e dez, não é grave. São os dez minutos da honra e do orgulho para mostrar que ele não manda (risos). Se passar a noite fora, já se passa os limites.”
Por isso, os pais devem tentar conhecer os amigos, conhecer os sítios por onde eles andam. “Quando não têm noção nenhuma do que é a realidade, têm muito mais dificuldade em apoiá-los. Porque de facto há situações perigosas. Por isso é que é importante incorporar esta cassete desde pequeninos. E é importante que vejam os pais divertir-se sem excessos.”
11 Deve-se permitir que tragam os namorados para casa?
“Sim. Conhece-se a pessoa, percebe–se como é a relação, se se tratam bem. Isso é o mais importante, e é uma das perguntas que eu faria a uma filha adolescente: se ela se sente bem tratada, se está confortável naquela relação.”
12 E a síndroma da ‘casa-hotel’? Deve–se aceitar que passem a vida fora de casa?
“É normal que a certa altura a vida se passe toda lá fora. Pelo menos ao fim de semana deve-se esperar que eles estejam um bocadinho em casa, mas sejamos honestos, às vezes os pais são uma seca e há coisas tão mais interessantes para fazer lá fora!”, nota Eliana.
“Isto é um desafio: nesta altura, os pais têm de lutar pela atenção dos filhos. Às vezes, eles só aparecem mesmo para dormir. E se vão dormir a casa, já é uma sorte… (risos) Em vez de stressarem com os namorados dos filhos, os pais podiam começar a pensar que há de vir um dia em que vão ficar os dois sozinhos em casa. Como é que se vão organizar?”