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Imagine o que é acordar gelada, várias vezes por noite, e ter de lutar por uma pontinha do edredão. Ou passar horas a pensar em como seria bom que inventassem um controlo remoto mágico para poder tirar o som ao ronco do marido, que parece aumentar de intensidade cada vez que você se sente a cair nos braços de Morfeu. Ou ainda ser despertada violentamente com um braço descontrolado em cima da cara, um joelho nos rins ou um pontapé nas pernas. Se calhar não tem de imaginar e esta é a sua realidade no dia a dia, ou melhor, noite após noite. É verdade que não precisamos de ter companhia na cama para ter uma insónia, mas muitas vezes a causa das noites em branco está na pessoa que amamos e que está mesmo ali ao nosso lado.

Mais vale só

Nem bem, nem mal acompanhado, é o que pensa João Duarte, 38 anos, que não quer ouvir falar em dormir com outra pessoa no mesmo quarto. “As minhas namoradas são logo avisadas: dormir juntos na mesma cama nem pensar. Tenho o sono muito leve, qualquer som me acorda e depois demoro uma eternidade a voltar a adormecer. Na minha casa tenho duas camas sempre feitas: a minha, grande, mas só para mim, e outra de corpo e meio num outro quarto. Sempre que a minha namorada cá vem, fazemos o que temos a fazer, ela dorme na minha cama e eu sigo para a cama das visitas. Já houve quem tentasse dar-me a volta, não conseguiu e teve de passar à história.”

Maria José Santos, 42, faz parte dos cerca de 18% de portugueses que sofre de insónia, segundo um estudo da Associação Portuguesa do Sono. É casada há 16 anos mas só há 5 começou a ter dificuldade em adormecer. O marido deixou de trabalhar por turnos e as suas noites tornaram-se um martírio… “O primeiro ano que ele deixou de fazer noites foi horrível, mal pregava olho. Ainda por cima foi em outubro, quando o tempo começa a ficar frio. Destapava-se e eu acordava gelada. Depois, para ajudar, ressonava sem parar, ou então, como andava preocupado com as coisas lá no trabalho, tinha dificuldade em adormecer, acendia a luz para ler… e eu sempre a acordar. Já só conseguia dormir profundamente quando eram quase horas de acordar. As minhas olheiras eram gigantescas, andava sempre irritada, sem paciência para nada e ninguém. Como antes ele trabalhava muito à noite, estava habituada a ter uma cama enorme e um quarto silencioso só para mim. Nas férias, como dormíamos até mais tarde, eu compensava as horas perdidas. Primeira solução: arranjámos uma cama maior, mas não foi suficiente. Muitas vezes ia para o sofá e acordava com dores horrendas nas costas. Segunda medida: alugámos uma casa com mais um quarto. Quando as noites ficavam insuportáveis, lá ia eu para o outro quarto. Sentia-me mal por estar a dormir longe dele, e ele, apesar de não dizer nada, amuava. A nossa relação passou por um mau bocado. Terceira, e derradeira, desesperada medida: gravar o ronco para ele perceber que não era eu que era muito sensível. Lá se convenceu a ir procurar ajuda médica. Melhorou, mas agora diz que eu também preciso de lá ir (risos) porque também ressono.”

Na minha ou na tua?

Para Pilar Rente, médica especialista em patologias do sono, a história de Maria José é-lhe muito familiar.  A Clínica do Sono, Lda., em Lisboa, onde exerce e é diretora clínica, tem muitos pacientes com casos semelhantes: mulheres com perturbações de sono provocadas por anos a (não) dormir ao lado de homens com roncopatias e apneia do sono. “Normalmente são as mulheres que trazem os maridos e contam o que se passa. Inclusive já tivemos casos em que os maridos recusam-se a vir – acham que o problema não está neles – e somos nós que lhes telefonamos e tentamos convencê-los a vir à consulta e fazer os exames. Olhe que é uma causa frequente de separação do casal: está descrito em 20% dos casos. Muitas vezes elas fazem ultimatos: ou vais tratar-te ou o casamento acaba.”

Pilar Rente concorda que é muito bom dormir ao lado do marido ou da mulher, mas só se não põe em causa a saúde do outro. “Tenho aqui casais que optaram por viver em quartos separados e até um casal – que eu nem queria acreditar – que comprou o andar ao lado para a mulher ir para lá dormir… em vão, porque a senhora conseguia ainda ouvir o ronco do marido. Era desesperante. E o voltar à normalidade também custa. Quando eles têm de dormir com um aparelho sobre o nariz, que, apesar de ser insonorizado, elas queixam-se que não conseguem abstrair-se do facto de eles terem uma máquina que está ligada à corrente.”

 As perturbações mais frequentes que ali tratam são as insónias, a apneia do sono (ressonar e sonolência diurna excessiva), narcolepsia e síndrome das pernas inquietas. As insónias são a queixa feminina mais frequente e sobretudo numa faixa etária mais jovem (entre os 20 e 40 anos), embora ultimamente tenha havido um crescimento nos homens; enquanto a apneia do sono é um problema tipicamente masculino a partir dos 40 anos.

Sinal vermelho

Historicamente, dormir no mesmo quarto e na mesma cama é algo que acontece há pouco tempo, relembra Neil Stanley, especialista britânico em doenças do sono e professor da Universidade de Surrey, é sobretudo uma consequência da Revolução Industrial, quando as pessoas migram dos campos para as cidades e se amontoam em casas minúsculas. Antes disso, era normal cada membro do casal ter o seu próprio quarto. Na Roma Antiga, a cama de casal não era para dormir, apenas para ter relações sexuais… depois cada um ia para os seus aposentos.

Embora haja estudos que comprovem que dormir a dois faz bem à saúde ­–diminui o stresse e faz-nos sentir mais seguros e protegidos –, há quem defenda que isso só acontece quando ambos dormem bem e não há perturbações do sono, nesses casos, em que se dorme pouco e mal, o impacto na saúde é grande: depressão, doenças cardiovasculares, problemas pulmonares e acidentes de viação. E foi isso mesmo que aconteceu a Alda Pereira, 32 anos. Meses acumulados de noites quase sem dormir fizeram com que um dia, parada num semáforo vermelho, “de frente para um sol reconfortante, os meus olhos fecharam-se e só abriram quando bati no camião atrás de mim e com a sonora buzinadela. Felizmente já tinha levado o meu filho à escola e a estrada não era inclinada. Os estragos foram poucos, mas serviu-me de emenda.”

Guerra dos sexos

Mas se nós nos queixamos mais dos decibéis do ronco, das apneias do sono, também podemos ser as más da fita. De que eles se queixam mais? De nos enrolarmos no edredão, mas sobretudo de se sentirem a cozer em lume brando. Beatriz Serrano, administradora da empresa Pato Rico, que fabrica edredões, colchões e almofadas e fornece várias cadeias de hotéis, revela que é frequente ter clientes a contactarem-na porque dormiram que nem “uns anjinhos no hotel e querem um produto idêntico lá para casa.” Mas há também quem a contacte para arranjar soluções criativas para sonos complicados a dois. “Há uns anos, um amigo veio ter comigo, em desespero. Queixava-se imenso que a mulher era muito friorenta, só queria dormir enrolada em vários edredões e ele sentia-se num forno. Passava as noites sem dormir porque tinha um calor horroroso. ‘Tens de me ajudar’, e eu lá tentei. Primeiro cosemos dois edredões com alturas diferentes para cada um, mas depois optámos por uma capa com alturas diferentes, que permitia ter dois tipos de edredões diferentes, de verão e de inverno, à medida de cada um. Olhe, só lhe digo, estavam à beira da separação e hoje já têm gémeos e dormem lindamente.”

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