Ensiná-lo a não falar com estranhos
Por que não é boa ideia: Quem é que ainda não viu uma criança num centro comercial lotado, a chorar descontroladamente porque se perdeu da mãe, mas a recusar ajuda porque tem na cabeça a regra nº1 de todos os pais, ‘Não fales com estranhos’? Há incontáveis crianças que se perdem e depois se recusam a pedir ou receber ajuda de adultos bem intencionados, e passam horas de sofrimento inútil.
Como ensinar: Claro que se deve ensinar a não falar com estranhos, mas sem assustar as crianças. O mais prático, se for com ela a um local com muita gente, é combinar logo de início um local de encontro bem visível (não lhe diga ‘ao pé da Fnac’ se ela tiver 3 anos e não souber o que é a Fnac) para o caso de alguém se perder. Se por acaso se perder, diga-lhe para pedir ajuda a uma senhora mais velha.
Fazê-lo partilhar os brinquedos
Por que não é boa ideia: É boa ideia… depende é da idade, e da forma como é posta em prática. Duas situações são descritas no blogue educativo popsugar.mom: dois bebés de dois anos estão à bulha por um carrinho. A mãe de um diz para o filho: ‘Vamos embora. A mãe desse menino não o ensinou a partilhar.’ Noutra, duas crianças estão num parque de diversões com vários carros. Uma das crianças está num dos carros, e outra quer andar no mesmo carro. A mãe insiste com a outra criança para que deixe a primeira andar. Ora com tantos carros iguais, isso fará sentido? “É muito mau habituar uma criança a pensar que pode ter tudo. Não é assim que o mundo funciona. A maioria dos adultos não vai tirar os óculos ao outro só porque gosta deles…”
Como ensinar: Lema: as crianças têm o direito de dizer ‘não’ e o direito à propriedade privada. Não quer emprestar, não empresta. Nós também não gostávamos se viesse alguém, nos tirasse a nossa filha e a desse a outra mulher. Então porque insistimos para que ela ‘partilhe’ a boneca? Antes dos dois anos, um bebé ainda não tem noção do que é partilhar, e não deve ser obrigado a partilhar. Aliás, ninguém deve ser obrigado a isso, porque assim não lhes vai ensinar nada. A partilha ensina-se, mais do que por lições de moral, pelo exemplo quotidiano no dia a dia: a visitar a avó, a dar uma boa notícia ao irmão, a ajudar um amigo na matemática, a perceber se outra pessoa está triste… Tudo isso é mais importante do que emprestar ou não emprestar o carrinho.
Obrigá-lo a comer ‘saudavelmente’
Por que não é boa ideia: Porque todas as crianças são doutoradas em lutas de poder e farão finca-pé ao que quer que seja que os pais queiram que elas façam. “Lutei durante anos com a minha filha para que ela ‘comesse saudavelmente’”, conta o jornalista Tim Lott, no artigo ‘Don’t make children eat their greens’ em www.theguardian.com. “O que ela quisesse, eu dava-lhe, se ela comesse nem que fosse uma ervilha. Fiz de tudo. Prometi. Ameacei. Fiquei furioso. E mesmo assim, ela não comeu uma ervilha. Ela nunca comeu uma ervilha.” Outra vez, levou-a a um buffet de comida tailandesa com milhares de pratos diferentes. “Ela voltou com batatas fritas, pão e um bocado de frango. Dessa vez, nem fiquei furioso. Fiquei envergonhado.”
Como ensinar: Mais uma vez, dando o exemplo e não stressando. “Querermos que as crianças comam ‘saudavelmente’ é apenas uma máscara para outras ansiedades sociais. Queremos dar os sinais corretos ao nosso grupo social: sou um bom pai porque a minha filha come comida saudável. Temos pânico de ter um filho gordo, que hoje em dia é muito mais um estigma social do que um sinal de doença.” Ou seja, não faça da comida uma luta de poder e não entre na guerra: continue a servir refeições variadas e vá insistindo sem grandes polémicas. Se ela não comer ervilhas, também não vai morrer por isso.
Ter de fazer todos os TPCs
Por que não é boa ideia: Porque depende – hoje em dia, com o furor de se ensinar física quântica às crianças desde o berço para mostrar trabalho aos pais, perde-se a coisa mais importante que elas têm: a infância. Há serões familiares hipotecados aos TPCs de um filho. “Como muitos dos TPCs são apenas trabalho mecânico e pouco criativo, a aprendizagem torna-se uma tarefa chata em vez de uma experiência positiva”, comenta a psicóloga Kamala Nair, em www.parenting.com.
Como ensinar: Alguns TPCs são úteis para criar hábitos de trabalho individual. Habitue-o desde pequeno a uma rotina diária e depois dê-lhe autonomia. Ai se lhe der autonomia ele não faz nada? Fará depois da primeira negativa. Deixe-o aprender com as consequências e estudar ao seu ritmo, de outra maneira ele ‘encosta-se’. Se ele precisar de um empurrãozinho, peça uma ajuda ao avô que percebe de matemática ou a um explicador.
Má ideia: pôr-se a explicar. Os pais enervam-se e não são os melhores explicadores… Mas às vezes a criança não estuda não porque é preguiçosa ou desatenta, mas porque está estoirada. Afinal, eles passaram o dia inteiro sentados. Quando chegam a casa, idealmente iriam jogar à bola ou andar de bicicleta. Como perceber se há TPCs a mais: “Basicamente, se a criança começar a odiar a escola, se se sentir cansada ou triste, se fizer um drama à hora dos TPCs”, defende Kamala Nair. A National Education Association, a maior associação de educadores dos Estados Unidos, estabelece como regra que se vá aumentando dez minutos diários de TPC de ano para ano: ou seja, no primeiro ano devem ter dez minutos, no segundo 20, e por aí fora. Mais do que isso, é excessivo.
Castigá-lo quando se porta mal
Por que não é boa ideia: “Porque muitas vezes os pais seguem diretos do mau comportamento ao castigo sem pararem no que é mais importante, a comunicação”, explica o psicólogo americano Carl Pickardt em www.edition.cnn.com.
Como ensinar: Mais do que castigar, há que perceber “Temos de começar por entender a razão por trás do comportamento”, explica Devra Renner, assistente social, no mesmo artigo. “Numa situação de bullying, por exemplo, temos de perceber o que se passa ali. Porque fazem eles aquilo? Estão a dizer-nos que não têm voz? Que se sentem desapoderados? Que querem ser populares? Estão a sentir-se frágeis e desprotegidos, ou só se meteram com alguém mais fraco do que eles porque podem?” Estão sempre a tentar dizer-lhe qualquer coisa. Ouça–os antes de castigar.
Exigir que o quarto esteja arrumado
Por que não é boa ideia: Enfim, é boa ideia tentar habituá-lo desde pequeno a ter hábitos de arrumação, e a não ser daquelas crianças mimadas que largam o casaco no corredor. Envolvê-lo na decoração do quarto também pode levá-lo a querer mantê-lo bonito. Mostre-lhe que arrumar e limpar pode ser divertido, em vez de uma tarefa aborrecida.
Como ensinar: Pronto, parte 2: quando eles chegam à pré-adolescência, o quarto é o mundo deles, e os pais estão fora. Esqueça a arrumação: o quarto deles deixou de ser território aberto.“O monte de roupa no chão, a pilha de meias sujas, os CDs e a papelada são uma declaração de independência”, explica a psicóloga Marie Walker em www.psychcentral.com. “Retire-se e feche a porta. Ele não consegue encontrar uma camisa limpa? É uma boa altura para aprender a lavá-la.”
Educar os irmãos da mesma maneira
Por que não é boa ideia: Porque o facto de serem irmãos não os torna parecidos: pelo contrário. Um estudo muito interessante dos anos 80 analisou vários pares de irmãos e descobriu que fisicamente tendiam a parecer-se, mas psicologicamente dois irmãos são praticamente como estranhos (ver www.npr.org). Ou seja, do ponto de vista de gostos, interesses, formas de reagir, o seu irmão será tão parecido consigo como outra pessoa qualquer que não seja da sua família. Ou quase: temos apenas 20% de hipóteses de ter um irmão parecido connosco. Porque é que a mesma família e o mesmo ambiente parecem afastar os irmãos em vez de os aproximar? Basicamente, porque as crianças competem por tempo, amor e atenção, e quanto mais se diferenciarem dos irmãos, mais as hipóteses de o conseguirem. Além disso, embora pareça que crescem na mesma família, a diferença de idades geralmente faz com que o ‘timing’ daquela família já não seja igual. Ou seja, na prática, nunca crescemos de facto na mesma família.
Como ensinar: Nunca os compare. Siga a sua intuição, descubra o que funciona e não funciona com cada um dos seus filhos. E a partir daí eduque ‘à medida’.