
Daniel Laflor
*artigo publicado originalmente em agosto de 2015
1. “Atira os lenços de papel para o caixote. Mas acerta lá dentro”
Está bem, esta os rapazes também fazem. Atiram qualquer coisa, a qualquer coisa erra o alvo, acham que vão apanhá-la e corrigir a rota? Está bem. Viram costas à espera que os pais façam vista grossa ou apanhem eles mesmos os lenços. Que é, para sermos honestas, aquilo que a nós também nos apetece fazer nessa situação. Virar costas.
2. “Tenho que te pôr o gancho porque se não passas o tempo de cabelo nos olhos”
Há ganchos que pode ser e ganchos que não pode ser. Também há bandoletes aceites e outras não. As razões são sempre obscuras. Os ganchos é porque arrepanham ou não arrepanham. As bandoletes ninguém sabe. Mas nós também somos assim, se pensarmos bem. De qualquer maneira, esta batalha pode dar-se ao luxo de perder. Não vem mal ao mundo se ela andar de cabelo nos olhos de vez em quando. Faça-lhe uma franja.
3. “Não te vou fazer uma trança agora, já estamos atrasadas. Chamei-te há dez minutos e não te mexeste, e agora é que queres uma trança?”
À última hora é que se lembram de tudo. Que querem uma trança, que não querem uma trança, que afinal preferem a saia azul. Grrrr…
4. “Não, não podes levar uma malinha com umas coisinhas”
Começamos a pensar onde é que estávamos com a cabeça quando lhe comprámos a porcaria da malinha e mais as ‘coisinhas’. O problema é que ela leva a malinha com as coisinhas até lá abaixo, carrega com aquilo durante cinco minutos e durante as próximas 3 horas quem leva a malinha e as coisinhas somos nós. A mesma coisa com as bonecas. Ai posso levar a Madalena? Adivinhem lá depois quem é que carrega a boa da Madalena? Avó sofre…
5. “Tudo cor-de-rosa, tudo cor-de-rosa, já não te posso ver de cor-de-rosa!”
A ‘fase cor-de-rosa’ mói a paciência às mães mais comedidas. Vestir-se de cor-de-rosa aqui não é uma questão de gosto, é uma afirmação de género: a partir dos 3 anos elas percebem que há rapazes e raparigas, e que elas pertencem às raparigas. Ao vestir-se de cor-de-rosa estão a vincar a sua identidade de meninas. Pronto, depois também é uma questão de marketing e de haver corredores inteiros do hipermercado atafulhados de tralha cor-de-rosa da cabeça aos pés. Mas tenha paciência: vai passar (e vai haver uma altura, daqui a uns anos, em que já não a vai poder ver… de preto).
6. “Não, não te pinto as unhas. Ninguém com cinco anos tem as unhas pintadas”
Pintar as unhas é uma extensão da fase cor-de-rosa. Quanto mais pimba, melhor. Mas as mães não percebem. Não é uma questão de ser pimba. É dizer ‘tenho as unhas pintadas. Sou uma menina’. Não lhe pinte as unhas, mas compre-lhe lá o vestido cor-de-rosa.
7. “Não, não podes ir para a escola com o vestido do ‘Frozen’”
Poder até podia. Não vinha mal ao mundo. Afinal tem 5 anos, não vai para uma entrevista de emprego e teoricamente poderia ir vestida como quisesse. O problema é que depois os outros meninos riem-se dela, coisa que ela nunca há de perceber. Portanto, decrete que o vestido da Elsa é para usar só dentro de casa. Ou no Carnaval.
8. “Tens a certeza de que a saia combina com o top?”
Não, não tem a certeza. Quer vestir a saia com o top só porque é uma maneira de dizer ‘eu quero’. Eu mando no meu mundo, não tu. O mundo deles é feito das decisões de outras pessoas, mesmo que a nós nos pareçam coisas sem importância nenhuma. Vai tomar banho, acaba de comer, vai fazer os trabalhos de casa, vai-te deitar. Dê-lhe alguma independência. Escolham a roupa à vez, mas quando for a vez dela deixe-a vestir o que quiser.
9. “Podes parar de chatear o teu irmão?”
A guerra estalou entre as potências? Feche a televisão, confisque brinquedos, perceba o que aconteceu, ponha cada um para seu lado. Faça-os pedir desculpa, e depois dê qualquer coisa para fazer a cada um. E não desculpe o ‘bebé’. Os mais velhos geralmente não são tão ‘mais velhos’ que saibam lidar com birras dos mais novos, e não têm culpa: proteja o mais velho, eduque o mais novo e assegure-se de que passa algum tempo a sós com cada um deles.
10. “Veste o casaco, já”
Nós achamos que elas têm de se encasacar tal como achamos que têm de comer. É uma coisa pré-histórica. Problema: às vezes elas não sentem o frio porque se mexem mais do que nós. Além disso, o estado ideal dos miúdos seria como vieram ao mundo: detestam sentir-se enchouriçados em camadas de roupa. Por isso, se ela não quer vestir casaco, não a obrigue, quando tiver frio há de vir buscá-lo.
11. “Come o que tens no prato”
A guerra da comida é inútil: primeiro porque, se lhes der poder vão usá-lo. E depois, porque não adianta nada. Se uma criança não quer comer, não vai comer, nem que fique duas horas a chorar em frente do prato. Portanto, se não quer comer, não come. Mas depois não lhe dê bolachas e chocolates até ao jantar. Para prevenir: ponha-lhe pouca comida no prato e não desista de lhe dar legumes e vegetais. Não é de repente que nos habituamos a comer coisas novas. Sirva (e coma) os seus verdes sem comentários, a todas as refeições.
12. “Queres o quê? Cortar o cabelo à boneca?”
Está à vontade. A filha é dela. Mas antes da sessão de cabeleireiro explique-lhe que o cabelo da boneca não é como o nosso, não vai voltar a crescer.