
A vida é bela, estão apaixonados, adoram estar um com outro e é chegado o momento de dar o passo seguinte: ter um filho. Segue-se a época de avisos e conselhos de amigos e familiares (‘aproveita para dormir agora pois nunca mais vais conseguir uma noite inteira’; ‘vê todos os filmes que puderes’; ‘aproveita para ter sexo, depois a tua vida íntima vai ser tão hot como a tundra siberiana’) que caem todos em saco roto, ou não estivesse em plena lua-de-mel com o mundo e o seu coração está a rebentar de expectativa. Será que vai continuar depois do bebé nascer?
Jancee Dunn, autora do livro ‘How Not To Hate Your Husband After Kids’, conta como o nascimento da sua filha a fez a mulher mais feliz do mundo mas provocou uma onda de choque no seu casamento, e percebeu que os seus problemas eram iguais aos de muitos casais. Resultado: falou com amigos, psicólogos, terapeutas de casal e até um negociador do FBI e depois compilou tanto as suas discussões com o marido como as diferentes estratégias para salvar o casamento num registo muito pessoal, intimista e pedagógico. Aqui fica um resumo dos conselhos que ouviu.
Mães e pais no confessionário
Do que as mães e pais mais se queixam? A autora elaborou uma lista de reclamações:
‘Porque é que o meu marido nunca acorda quando o bebé chora durante a noite?’
Não está só nesta luta: investigadores ingleses do Mindlab International descobriram que o choro do bebé estava no topo dos sons que acordavam as mulheres enquanto nos homens nem no top 10 aparecia, ficava atrás de alarmes de carros e… vento. Há quem diga que isso acontece porque as mulheres estão mais atentas aos perigos que podem pôr em risco os filhos, enquanto os homens aos perigos que põem em risco a comunidade.
‘A minha mulher fica chateada porque eu não ajudo com os miúdos, mas quando tento ela interrompe e acaba por fazer tudo.’
Há mães que se fecham no seu casulo da maternidade e não deixam ninguém entrar, e há as que boicotam, consciente ou inconscientemente (inclusive com revirar de olhos ou suspiros). A prática faz a perfeição, ensine 2-3 vezes e depois deixe-o fazer as coisas à maneira dele.
‘De manhã, trato das minhas coisas, dos filhos, do cão, das lancheiras. Ele toma banho, o pequeno almoço, veste-se e depois fica à porta a reclamar que estamos atrasados.’
De acordo com um estudo da Universidade da Pensilvânia, o velho estereótipo de que as mulheres são melhores a fazer várias coisas ao mesmo tempo é mesmo verdade. Dê-lhe umas tarefas matinais, para ele ver como é difícil agilizar tudo.
‘Porque é que a minha mulher fica furiosa se a casa não está num brinco?’
Porque sentem que são julgadas por essa ser uma tarefa tradicionalmente ligada às mulheres, revela o psicólogo Joshua Coleman. ‘Se ela quer que eu arrume a louça na máquina, porque não pede em vez de estar a bater com os tachos e panelas numa barulheira infernal?’ Os homens são mais diretos e presumem que as mulheres se quiserem alguma coisa pedem, mas nós achamos que não temos de pedir. Escusa de ‘dar a entender’ que a comunicação não-verbal para o sexo masculino não é lá muito percetível.
SOS – Táticas de negociador
O que pode Gary Noessner, chefe da Unidade Anti-Sequestros do FBI, ensinar aos casais que foram pais há pouco tempo e que cuja vida é feita de conflito em conflito? Aparentemente, muito:
Primeiro, diz ele, evite manobras intimidatórias, não dê sermões, não critique, não humilhe nem faça avaliações do comportamento do outro. Segundo, saber ouvir é o mais importante numa situação-limite em que há reféns… e num casamento. Quando está numa discussão acesa, “ouvir ativamente o outro é uma maneira eficaz de induzir mudança no comportamento”. Nós ouvimos o que o outro está a dizer, a pessoa que está a falar elabora melhor o seu raciocínio, fica menos à defesa e mais recetiva à resolução dos problemas. Mas há técnicas de escuta ativa, que são ensinadas aos investigadores do FBI em situações com reféns, que podem ser utilizadas por um casal cujas conversas são meras trocas de acusações. Como pacificar a relação:
• Parafraseie. Repita a ideia que o outro acabou de dizer, por outras palavras de maneira compreensiva. O tom não pode ser de crítica, gozo ou acusatório.
• Dê nomes às emoções. Identificar as emoções, dizem os investigadores do Laboratório de Neurociência da UCLA, faz com a ira ou tristeza fiquem menos intensas. “Sei que estás aborrecida/zangada/chateada porque eu esqueci-me de ir à consulta do nosso filho.” As pessoas querem ser compreendidas.
• Dê pequenos encorajamentos. Enquanto a outra pessoa está a falar, dê sinais de que a está a compreender, ‘Estou a perceber’, ‘ok, ‘sim’. É difícil discutir com alguém que está a concordar consigo.
• Faça perguntas abertas. A fim de evitar respostas de ‘sim’ ou ‘não’, peça para explicar melhor, para mostrar mais interesse sobre o tópico da conversa.
• Use ‘eu’ quando fala. Em vez de dizer ‘não grites’, pode dizer ‘assim eu tenho dificuldade em perceber’.
Discussões tipo ‘4 cavaleiros do Apocalipse’
É assim que os psicólogos e terapeutas de casal, Julie e John Gottman, chamam às discussões que os casais-desgraça (que só valorizam o que o outro faz de errado) têm e que são sinal de que a sua relação está a tomar um rumo perigoso. Evite:
• Criticar ou insultar, chamar ‘idiota’, ‘parvo’, dizer ‘tu nunca….’, ‘tu sempre…’
• Ficar na defensiva e contra-atacar, queixar-se, negar responsabilidades.
• Barricar-se e criar uma muralha entre o casal, em que um se sente isolado, acossado, e cada vez mais agressivo, e o outro, ao ser isolado, deixa de ouvir (mais típico dos homens).
• Destilar ressentimento. “Aqui está o ácido sulfúrico do amor”, dizem os fundadores do Instituto Gottman. Isso passa por revirar os olhos, acusar, atacar o carácter do outro em vez dos problemas, gozar, usar sarcasmo para denegrir a sua imagem.
Expulse os quatro cavaleiros da desgraça com estas estratégias
• Comece os argumentos por ‘eu’ em vez de ‘tu nunca vais ter com o bebé quando ele chora de noite’, tente ‘eu acho que ficaria muito menos estafada se cada um de nós fosse ter com o bebé à vez’.
• Fale do que sente. ‘Tenho medo de…’, ‘Estou triste…’ Ninguém pode contestar os seus sentimentos.
• Não culpe ninguém e diga o que precisa.
• Comprometam-se e cheguem a um acordo. Se está difícil, façam uma pausa, vá dar um passeio, ouça música calma, respire fundo durante alguns minutos e repita ‘eu sou boa pessoa, ele é boa pessoa’.
Sexo? Just do it
Uma das primeiras baixas quando há este clima de crispação entre o casal é o sexo. A libido feminina pode ir-se abaixo por várias razões e, como escreve Jancee, “depois de um longo dia em que atendi toda e mais alguma necessidade da nossa filha, vejo o sexo como mais uma coisa que tenho de fazer para alguém”. E assim se passam semanas ou meses sem sexo à vista. E sem intimidade não há casal que resista muito tempo. A solução? A mais consensual entre terapeutas é: seguir o conhecido slogan ‘just do it’, mesmo que lhe falte a energia e a vontade. O sexo liberta hormonas do bem-estar, estimula a intimidade e, dizem os especialistas, uma vez que entra na ‘dança’, vai ter prazer e relaxar.
A autora do livro junta uma mão cheia de sugestões para que o sexo volte a ser uma prioridade.
• Fique com saudade. Se ele costuma passar uns dias fora, não mandem sms, não falem, deixe apenas que ele contacte com os filhos. Ponha a música que ouviam quando se conheceram, olhe para a fotografia dele que mais gosta, e quando ele chegar… voilà!
• Crie um ambiente sexy. É difícil ter desejo sexual se, assim que os filhos vão dormir, ele se chega ao pé de si com segundas intenções. Que tal dar-lhe um óleo de massagem para as mãos e pedir uma massagem de 20 minutos? Depois…
• Faça dos preliminares a sua prioridade, não os despache. Até pode pedir-lhe para não haver sexo, assim não tem ‘pressão’ e goza o momento. Depois é provável que a vontade queira ir mais além, dizem os estudos.
• Uma noite romântica uma vez por mês. Peça aos avós, à tia, ao irmão, aos pais do melhor amigo (troca por troca) para tomar conta deles.
• Leia umas páginas de um livro erótico antes de ele ir para a cama ou veja umas cenas de um filme erótico, como os da Erika Lust (pode ir ao site explorar).