1. Faça vudu – Arranje um boneco e espete-lhe umas quantas setinhas. Que se saiba, não vai acontecer nada a ninguém que não o boneco, e como esse não se queixa, vá em frente. Alivia, tira-nos algum stresse, e pode ser bastante má onda mas em dias de sofrimento não há como a má onda para nos animar. Afinal, hoje é dia de cinzas, e a amanhã temos direito a também não estarmos assim tão bem dispostas.
2. Fique mesmo mesmo em baixo – Força. Afunde-se na lama. Ande mesmo com cara de caso. Obrigue toda a gente a perguntar ‘Ai ó Sandrinha, o que é que se passa que estás com cara de desenterrada” e quando perguntarem, rosne.
3. Seja pessimista – Quando lhe chegar o pensamento ‘nunca mais vou arranjar alguém que goste de mim’, em vez de responder, como mandam todos os manuais de autoajuda ‘Isso não tem a mínima importãncia porque sou gira, simpática, engraçada e amo-me bués’ grite logo “Pois não! Nunca mais! A minha vida acabou! Devia era ter ficado com o Zé Manel embora ele sorvesse a sopa, ressonasse como o quartel de bombeiros de Paço d’Arcos e me tivesse fugido com o relógio de cuco que o meu avô me trouxe de Genève!” Não há nada mais deprimente do que tentar sorrir quando nos apetece mesmo é uma boa dose de infelicidade à moda antiga, quando ainda não era de mau tom uma pessoa achar-se mesmo desgraçada.
4. Deprima-se – Força. Pense em todos os momentos que passaram juntos. Pense que nunca mais vai encontrar ninguém como ele. Se já nem se lembra dele, pense na quantidade de homens parvos que conheceu nos últimos tempos, e ainda naqueles encantadores que vão todos os dias ao RPM consigo mas nunca a convidaram sequer para comer uma salada de quinoa lá em baixo no bar.
5. Não reme contra a maré – Nem pense em convidar uma data de amigos e fazer aquela ceninha do jantar de namorados em colectivo. Não só metade do colectivo é gay como a outra metade nunca lhe vai ligar e a outra metade (ok, já vamos com três metades mas não stressem que o amor não é matemático) você vai rezar a todos os santinhos para que não lhe ligue (não se preocupe que também não vai ligar, vão passar a noite a pensar ‘ó diabo, não havia uma única loira gira na mesa’.)
6. Coma gelado – É verdade que tem mais de 5000 calorias por colher e depois vai ficar gorda e feia e vai ter ainda menos hipóteses no mercado, mas já é suficientemente mau não ter o Zé Manel como ainda não ter cheese-cake, e diga-se o que se disser, salada de quinoa não faz o mesmo efeito. Deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Amanhã vai à depilação, ao RPM e ao cabeleireiro. Ou não.
7. Veja filmes muito tristes – “As palavras que nunca te direi”. “O Paciente Inglês”. Veja o ‘Titanic’ até perder o fôlego. É sempre bom saber que há gente que sofre ainda mais do que nós. Vantagem: depois de se ouvir a Celine Dion, é impossível haver maior sofrimento à face da Terra.
8. Ligue a uma amiga – Não para se animar mas para lhe arruinar o dia a ela e serem bastante infelizes juntas, que é muito mais divertido do que ser infeliz sozinha (convém é ligar-lhe do Skype ou ter a sua conta telefónica bem recheada). Também convém não ser uma amiga com um namorado fantástico que daqui a meia hora vai levá-la a jantar a um daqueles restaurantes onde botam vela na mesa e espetam rosa na testa assim que se entra, e fazer-lhe aquela cena de lhe esconder um anel de noivado no bolo de chocolate da sobremesa (pode ser que ela morra engasgada). Convém ser aquela amiga que nunca, mas nunca mesmo, vai arranjar alguém (geralmente arranjam um conde russo dez dias depois e vão ser condessas para a Rússia, mas adiante) e que estará, como diria a Susaninha do Quino, aberta ao monólogo.
9. Afaste-se de teorias zen – Está a ver quais são? Aquelas pessoas que, assim que a pessoa abre a boca para se queixar, nos respondem com“mas tens de ser otimista porque se estiveres pessimista tu própria estás a afastar o amor, é uma questão de energia” ou “Tens sempre tendência para te apaixonares por homens já comprometidos” sem perceberem que não é uma “tendência” é uma lógica: nós não temos tendência para isso, o que acontece é que é normal que depois dos 30 a maioria dos homens esteja mesmo, enfim, comprometida. E quanto às “energias”, enfim, nem vale a pena comentar.
10. Abrace a infelicidade – Se não pode abraçar o Zé Manel. Em resumo, seja bastante infeliz durante um dia, porque nesta vida também é preciso de vez em quando ser bastante infeliz. Afinal, a infelicidade é um direito que nos assiste. Faz-nos bem? Talvez faça. Talvez não. Não interessa. Tire um dia de tréguas do politicamente correto. E depois volte à luta e seja fantástica, poderosa e encantadora outra vez.
11. Ou não.
