Distúrbios de ansiedade, depressão, stress, todos estes (e muitos mais) fatores fazem com que, atualmente, se fale mais que nunca em terapia. Mas será que sabemos bem o que isso implica? Será que precisamos, sequer, de aconselhamento especializado? A revista TIME falou com Lori Gottlieb, terapeuta e autora de Maybe You Should Talk to Someone, que deu resposta a 9 importantes questões.
Toda a gente precisa de terapia?
“Não creio que todos precisem, mas todos podem beneficiar dela. Pode ser incrivelmente útil para pessoas que estão motivadas para mudar, que são curiosas acerca delas mesmas, e que querem perceber o que as chateia de formas que nem se apercebem“, começa por esclarecer.
Em seguida, acrescenta, “Nós mudamos em relação aos outros. É muito difícil mudar em isolamento. Na terapia, percebemos isso porque o terapeuta está lá, como que a segurar um espelho e a dizer ‘olha para o teu reflexo. Quero que vejas as formas como estás a enganar-te a ti mesmo e a acabar nos mesmos lugares, vezes e vezes sem conta’. Não conseguimos fazer isso se não estiver lá outra pessoa a ajudar-nos com essa observação“.
Lori finalizou, referindo que costuma dar um exercício aos pacientes: escrever num papel tudo o que dizem a si mesmos, aquela “voz crítica” da nossa cabeça. E isto ajuda-nos a perceber que somos os nossos principais bullies, algo que pode ser amenizado através de aconselhamento terapeuta.
O que é que devo procurar num terapeuta?
“Depende do que sentimos no momento da consulta, com aquela pessoa. Sentimo-nos compreendidas? Sentimo-nos confortáveis a falar com esta pessoa? Isto é o que devemos perceber na primeira vez“, afirma.
Há pessoas sem “cura” possível?
“Acredito que, quando as pessoas chegam à terapia, precisam de perceber que terão alguém a vê-las de uma forma que elas preferem não ser vistas. Não consigo ajudar pessoas que não são curiosas acerca de algo nas suas vidas. Por isso, é preciso perceber que ninguém as está a acusar de nada. Apenas a tentar ajudá-las a ver algo para que se possam sentir melhor mais depressa“, garante.
O que aconselharia a alguém que não consegue pagar pela ajuda de um terapeuta?
“Que vá a uma clínica com taxas mais baixas. Lá podem falar com pessoas que estão a treinar para ser terapeutas. É melhor do que não fazer nada“, revela. De recordar também que, em Portugal, há vários centros de saúde com opções mais baratas.
Porque é que o nosso companheiro não nos pode ajudar a mudar?
“Porque não queremos um divórcio!“, começa por dizer, explicando que, se há algo na outra pessoa que nos deixa frustradas, iremos sempre tentar fazer com que ela o mude, em parte, por nós mesmos. “As pessoas não querem mudar por outra pessoa. Têm de estar intrinsecamente motivadas. Na terapia, não dizemos ‘quero que mudes por mim, o terapeuta’, mas sim ‘quero que vejas algo em ti mesma, e a mudança depende de ti‘”, finaliza.
Poderá um pai ou mãe fazer o mesmo que um terapeuta?
“Quando as crianças são mais novas e realmente confiam no julgamento dos pais, e se estes o fazem de forma carinhosa, compreensiva, e não crítica, poderão ajudá-las, sim, a ver algo“, explica.
Há algo que as pessoas devam fazer para se tornarem mais saudáveis mentalmente, mesmo sem ajuda de um terapeuta?
“A melhor dica que posso dar é que as pessoas se conectem mais, na vida real, com pessoas que lhes são queridas. Porque muitas pessoas sentem-se deprimidas, ansiosas, sozinhas. Mesmo que estejam num casamento feliz, que tenham família e bons amigos. Com os seus parceiros, à noite, está cada um no seu computador, os telemóveis estão sempre presentes. Não têm tempo cara-a-cara. Por isso, deve ir tomar um café com um amigo e não lhe deixar simplesmente um like nas redes sociais. Deve ter experiências com outras pessoas, pessoalmente, onde não haja ecrãs, telemóveis, nada a tocar ou a vibrar“, explica.
É errado pesquisar o nome do nosso ex na internet?
“Muitas pessoas pensam que, quando uma relação termina, a outra pessoa desapareceu. E eu acho que cada pessoa com quem tivemos uma relação, vive connosco, de alguma forma. Não digo que devemos ‘mergulhar’ nela, ou pensar demasiadas vezes nela, mas acho que é bastante humano pensar nas pessoas que nos marcaram numa certa atura das nossas vidas“, começa por dizer.
“Quando pesquisamos os nossos ex na internet, há algo nostálgico, como se voltássemos atrás no tempo. Não vivemos simplesmente num momento em particular. Carregamos uma história. Portanto acho que não há mal nenhum em querer saber, em ser curiosas acerca dos nossos ex“, diz, alertando para o facto de, quando isto acontece porque nos sentimos vazios ou com necessidade de voltar a ter uma conexão que não existe, não é muito saudável.
Qual a melhor coisa a fazer para ajudar alguém que está a chorar?
“O instinto é fazer a pessoa parar. Sentimo-nos desconfortáveis, porque nos sentimos perdidos, inúteis. Sentimos que a pessoa está mal, e que o melhor é fazê-la parar ou dizer algo que a faça sentir melhor. Mas o que elas precisam realmente é de alguém que apenas se sente ao pé delas, e esteja lá, naquele momento negativo. Tentar arranjar uma solução não será muito útil. E dizer que ‘não é assim tão mau’ só as faz sentir mais sozinhas“, começa por dizer.
Por fim, Lori diz que não devemos “negar ou menosprezar os sentimentos das outras pessoas. Os seus sentimentos são os seus sentimentos. E está tudo bem no facto de elas sentirem dor. Os sentimentos são como o tempo. Vão e vêm, se há tempestade, há tempestade. Mas esta não estará lá para sempre. E as pessoas sabem disso, no fundo. Não o conseguem ver no momento, mas deixem-nas estar na tempestade, sentem-se na tempstade com elas, e deixem-na passar, juntos“.